Tráfico internacional lavou R$ 20 mi na RMF

A segunda fase das investigações começou. PF agora quer saber em que foi aplicado o dinheiro da quadrilha

Como se fosse uma lavanderia industrial que trabalhava em grande escala, o comércio de Fortaleza e Região Metropolitana serviu para ‘branquear’ o dinheiro do tráfico de drogas. A Polícia Federal (PF) estima que somente a organização criminosa desarticulada pela ‘Operação Cardume’, no dia 30 de setembro, tenha lavado cerca de R$ 20 milhões no Estado, usando, pelo menos, 32 empresas legalmente registradas e autorizadas a funcionar. Muito dinheiro sujo foi injetado no mercado e saiu limpo, para movimentar a maior quadrilha de narcotráfico internacional que agia no Ceará. 

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As contas das 32 empresas envolvidas no esquema, instaladas na RMF, foram bloqueadas por determinação do juiz Danilo Fontenelle, titular da 11ª Vara da Justiça Federal. Os ramos de atuação delas eram vários, incluindo construção civil, revenda de veículos, revenda de celulares, lojas de roupas, piscicultura, haras e até o setor de alimentos. 

As investigações ainda estão em andamento e a segunda fase da ‘Operação Cardume’ promete chegar a outras empresas e aos seus responsáveis. “É muito provável que mais empresários sejam presos”, afirmou o delegado Janderlyer de Lima, da Delegacia de Combate ao Crime Organizado (Decor) da PF. 

O investigador diz que a primeira fase da ação policial visava tirar de circulação as pessoas que sustentavam a quadrilha, para que o esquema fosse interrompido. Agora, a PF está focada na apuração da lavagem de dinheiro e na elucidação da relação entre empresários e traficantes. 

“Sabemos que a organização criminosa movimentava muito dinheiro. Parte era lavado, parte era investido em novos carregamentos de cocaína e parte era aplicado. Nossas apurações seguem neste sentido: aplicado em que? Onde está esse dinheiro? Vamos buscar entender como funcionava de fato a relação que se estabeleceu entre grandes empresários e grandes traficantes”, disse o delegado. 

A quadrilha movimentava cerca de R$ 6 milhões por mês, com a negociação de 300 quilos de cocaína. O esquema bem montado e estabilizado no mercado negro é descrito pela PF como “uma complexa organização criminosa composta por vários núcleos que interagiam entre si, na logística do tráfico internacional de drogas; aquisição do entorpecente da Bolívia e do Paraguai, para revenda interna no Ceará e no Rio Grande do Norte, e para exportação para Portugal e Itália; desvio irregular de insumos químicos para o desdobro da cocaína; e lavagem de dinheiro”. 

O bando, que seria comandado pelos empresários Cícero de Brito e George Gustavo da Silva, tinha ramificações no Ceará, Rio Grande do Norte, Rondônia, Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais. Eles espalhavam maconha paraguaia e cocaína boliviana em caminhões, aviões, ônibus e contêineres em navios.

A abrangência da quadrilha atravessou o oceano e chegou à Europa, onde o português Henrique Miguel Fernandes Guerreiro supostamente aderiu à organização. Ele foi preso no laboratório de refino de cocaína que montou na cidade de Setúbal, próxima à Lisboa. 

Guerreiro também é acusado de, supostamente, lavar seus lucros no mercado cearense. “Ele tinha empresa de exportação de camarão, lojas de roupas em shoppings e negociava terrenos. O problema é que junto com camarões e cocos que ele exportava, mandava cocaína nos contêineres para a Europa”, afirmou o titular da Decor.

Desequilíbrio

Janderlyer Lima revela que a diversidade dos empreendimentos era grande, para que a Polícia não suspeitasse de movimentações em setores específicos. Segundo ele, o circuito que o dinheiro sujo fazia causa um desequilíbrio no mercado. 

Conforme o delegado, os traficantes ‘branqueavam’ o dinheiro para justificar a ascensão de capital deles. Lima declarou que uma parte considerável deste capital era retirada pelos traficantes do mercado para a aquisição de mais droga. Fundir dinheiro limpo e sujo era cada vez mais fácil para os criminosos. 

“ O mais grave é que eles injetavam muito dinheiro sujo no comércio, que passava a circular como se fosse limpo, ou seja, o mercado operava com uma grande quantidade de dinheiro que não devia estar lá. Isto cria um desequilíbrio. Enquanto algumas pessoas estão pagando impostos e declarando seus lucros direito, outras estão apenas usando o comércio para burlar as leis. O dinheiro que saía destas empresas, claramente, alimentava o tráfico de drogas”.