A família de Mizael Fernandes da Silva, morto aos 13 anos em uma ação policial em Chorozinho, interior do Ceará, em 2020, tem mais um motivo para ficar angustiada. A tia do garoto, Lizangela Rodrigues da Silva Nascimento, 39, está desaparecida há 5 dias.
A Polícia Civil do Ceará (PC-CE) informa, em nota, que a Delegacia Metropolitana de Chorozinho, com o apoio da 12ª Delegacia do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), investiga o caso. "Diligências seguem até a localização da vítima", refoça.
Lizangela Nascimento está desaparecida desde o último sábado (7). Segundo uma familiar, que não quis se identificar, ela saiu por volta de 11h para visitar uma casa e não voltou. Pessoas que moram próximo de Lizangela dizem ter visto ela sair com uma mulher.
A família tá toda em choque. Esperando por repostas e não tem nenhuma. Eu não sei no quê acreditar. Não faço ideia porque ela desapareceu."
A PC-CE destaca que "a população pode contribuir com as investigações repassando informações que auxiliem os trabalhos policiais, por meio do telefone (85) 3319-1237 da Delegacia Metropolitana de Chorozinho".
As denúncias também podem ser feitas para o número 181, o Disque-Denúncia da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), ou para o (85) 3101-0181, que é o número de WhatsApp, por onde podem ser feitas denúncias via mensagem, áudio, vídeo e fotografia. O sigilo e o anonimato são garantidos."
Programa de Proteção do Estado
Lizangela Rodrigues da Silva Nascimento é testemunha da morte do sobrinho Mizael e estava inclusa no Programa de Proteção a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas do Estado do Ceará (Provita).
Ela relatou às autoridades cearenses, em outubro de 2022, que sofria ameaças e, por isso, mudou de Estado, com apoio do Provita. Mas, em dezembro seguinte, ela se desligou do Programa de Proteção e voltou a Chorozinho, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), sem consentimento dos órgãos públicos, segundo a supervisora do Núcleo de Direitos Humanos e Ações Coletivas da Defensoria Pública Estadual, a defensora pública Mariana Lobo.
Soubemos que ela estava no Ceará na segunda-feira, quando a família informou o desaparecimento. A Defensoria Pública acionou os órgãos de Segurança Pública, que tem atuado de maneira diligente nas buscas e tem prestado auxíilio no que necessita, assistência aos familiares, que se encontram bastante angusitados, em vulnerabilidade acentuada."
A Defensoria Pública Geral do Ceará acompanha a família de Mizael desde que ele foi morto, além de acompanhar também o processo criminal sobre a morte do adolescente, que tem 3 policiais militares réus por envolvimento no caso. "Por coincidência (ao desaparecimento da tia), o processo entrou na fase da instrução processual, no final do ano passado. As primeiras audiências devem ocorrer neste ano. Mas o processo está sigiloso", pontua Lobo.
Morte de Mizael em Chorozinho
Mizael Fernandes da Silva foi morto a tiros dentro de casa, em uma ação policial, no bairro Triângulo, em Chorozinho, na madrugada de 1º de julho de 2020.
As investigações policiais apontam que os PMs procuravam um homem, que teria alguns traços físicos semelhantes a Mizael e que era procurado por criminosos. Caso esse homem fosse entregue morto a traficantes, os responsáveis pelo crime poderiam ser recompensados em até R$ 50 mil.
A reportagem ainda apurou que o verdadeiro alvo da Polícia, naquele dia, foi ouvido recentemente pela Justiça cearense e disse às autoridades que não tinha envolvimento com o adolescente e sequer o conhecia. Na versão dos policiais, Mizael estava armado dentro da residência e tentou reagir contra os agentes.
Três policiais militares viraram réus (com a denúncia do Ministério Público do Ceará recebida) na Justiça Estadual, em junho de 2022. O sargento Enemias Barros da Silva é réu por homicídio e fraude processual; e Luiz Antônio de Oliveira Jucá e João Paulo de Assis Silva, apenas por fraude processual. O trio teria interferido na cena do crime, com o objetivo de dificultar o trabalho das autoridades na elucidação do caso.