Uma organização criminosa formada por policiais militares, alvo da 12ª fase da Operação Gênesis, já era investigada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Ceará (MPCE), há pelo menos três anos. Cinco policiais militares foram presos nas últimas três semanas, por envolvimento com extorsões, tráfico de drogas e tráfico de armas. Um sexto PM não foi localizado e virou foragido da Justiça.
As ordens de prisão preventiva, expedidas pelo Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE), foram cumpridas contra quatro sargentos da Polícia Militar do Ceará (PMCE), Paulo Rogério Bezerra do Nascimento, José Urubatan de Oliveira, Auricélio da Silva Araripe e Cristiano Barney Freitas Alencar, e o soldado Antônio Danúzio Silva. Já o sargento Ronaldo Gomes Silva está na situação de foragido.
A denúncia do Gaeco contra a organização criminosa listou uma série de extorsões e negociações de drogas e armas de fogo, ocorridas entre 2016 e 2017, descobertas por meio de interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça e por outros levantamentos. O grupo de militares se aliava a pequenos e médios traficantes para cometer os crimes.
Conforme a denúncia, a quadrilha chegava a cobrar até R$ 10 mil em extorsões. Esse foi o valor cobrado a um homem abordado na comunidade do São Cristóvão, na Grande Messejana, no dia 26 de julho de 2017. O homem acertou com os policiais para pagar o valor parcelado em duas vezes, em troca de não ser preso.
Os alvos dos policiais nas extorsões eram traficantes com considerável poder aquisitivo ou que já tinham alguma passagem pela Polícia. Segundo o MPCE, o histórico criminal facilitava as exigências, as abordagens e o alcance das vantagens almejadas pelo grupo criminoso. Os PMs investigados acessavam os sistemas da própria Polícia, além de obter informações com pequenos traficantes, para selecionar as vítimas e planejar as ações criminosas.
Negociações de drogas e armas de fogo
Os investigadores do Gaeco também encontraram conversas dos policiais militares em que eles negociavam drogas e armas de fogo. No dia 23 de fevereiro de 2017, os PMs planejaram vender 100 frascos de lança-perfume por um total de R$ 6 mil (R$ 60 por cada). Um mês antes, o sargento Paulo Rogério negociou a venda de 300 gramas de cocaína por R$ 3 mil.
Já o sargento José Urubatan teve algumas conversas sobre tráfico de armas interceptadas. Em uma delas, em 3 de novembro de 2016, o militar ofereceu uma pistola Ponto 380 por R$ 5 mil. Cinco dias antes, ele havia oferecido um revólver calibre 38 por R$ 2,5 mil.
Os seis policiais militares alvos dos mandados de prisão preventiva foram denunciados pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado, em junho de 2022. Na época, os pedidos de prisão preventiva e de busca e apreensão foram negados pela Vara da Auditoria Militar. O MPCE recorreu da decisão e obteve as ordens de prisão, no TJCE, no último dia 24 de abril.
Os PMs foram presos nos dias seguintes, em ações da Coordenadoria de Inteligência (Coin) da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS), com o apoio do Comando Geral da Polícia Militar. A Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos da Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD) informou que instaurou procedimento investigativo disciplinar para apurar os fatos investigados pelo Ministério Público no âmbito administrativo.
A Operação Gênesis foi deflagrada pela primeira vez em 2020, para combater organizações criminosas formadas por agentes de segurança e traficantes, responsáveis pelo tráfico de drogas e armas, roubos e homicídios, em Fortaleza e na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Nas 11 fases anteriores, a Justiça expediu 104 mandados de prisão preventiva e 138 mandados de busca e apreensão.