Padeiro acusado de matar ex-esposa na frente dos filhos e da mãe da vítima vai a julgamento

A sessão do júri está agendada para acontecer no próximo dia 31 de março, por meio de videoconferência. Antes do crime de feminicídio, Severo já tinha sido preso por descumprir medida protetiva

O padeiro Severo Manoel Dias Neto, acusado de assassinar a ex-esposa Maria Rosimeire de Santana, na frente dos dois filhos e da mãe da vítima, deve ir a julgamento no próximo dia 31 de março, às 8h30. A sessão do júri está programada para acontecer por meio de videoconferência, quase dois anos após o crime de feminicídio, ocorrido no dia 2 de abril de 2019, em Juazeiro do Norte.

Severo foi preso uma semana após o crime. Anteriormente, o julgamento havia sido marcado para o próximo dia 4 de março, de forma semipresencial. Porém, devido à pandemia e suspensão das atividades presenciais do Poder Judiciário do Ceará, a data foi remarcada.

Ouça entrevista com a mãe da vítima

A expectativa da família de Maria é que seja feita Justiça e o homem condenado após anos de sofrimento e angústia vividos pelos familiares. Nos autos consta que quando o crime aconteceu o casal estava separado há sete meses e Maria Rosimeire já tinha pedido medida protetiva para que o autor fosse afastado do lar, por ele demonstrar que não aceitava a separação e não saía de casa. 

Severo já tinha sido preso antes da tragédia porque descumpriu a medida protetiva. Populares disseram ter ouvido várias vezes que quando o réu encontrava a vítima ele mandava ela ter cuidado porque iria matá-la.

34 mulheres foram vítimas de feminicídio no Ceará em 2019

A defesa do réu alega que a vítima "não honrou o papel de esposa". Conforme defesa preliminar de Severo, Maria Rosimeire o traiu com outro homem e passou a tratar o esposo como um "cachorro" e o amante como "um príncipe". Os advogados ainda consideram que não há indicídios suficientes para acusar Severo Manoel Dias Neto do crime.

Tragédia

Parentes da vítima de feminicídio conversaram com a reportagem. Maria Cícera Santana, mãe de Rosimeire, fala sobre a saudade diária que tem da filha. "É um vazio muito grande. Só Deus para nos ajudar. Sofremos muito com a falta dela. Ele ameaçava ela direto. Não foi só um dia. O meu neto chorava muito ouvindo tudo e eu ficava agoniada. Ele vinha brigar com ela na porta da minha casa. Pedimos Justiça primeiramente a Deus e depois a Justiça na terra. É muito ruim perder um filho, ainda mais ela que era tão amorosa", lamentou a matriarca.

O filho de Rosimeire, que terá sua identidade preservada, disse ter saudades da mãe. A criança, atualmente com nove anos de idade, confirmou ter visto por diversas vezes o pai ameaçando que iria assassinar a mãe.

"Era todo dia. Eu ficava com medo dele matar ela. Eu tava na calçada e ele chegou atirando. Eu corri pro quarto e fiquei debaixo da cama. Fiquei lá bem muito tempo. Lembro todo dia. Meu primo que me encontrou depois e a gente correu. Eu vi ela caída e fiquei triste. Acho que meu pai fez por ciúme"(sic), disse a criança.

De acordo com a denúncia do Ministério Público do Ceará (MPCE), horas antes do crime, o homem foi visto rondando a escola do filho mais novo do casal. Por volta das 17h, Severo apontou uma arma contra a ex-esposa e ela tentou correr para dentro da casa.

A mulher foi atingida com cinco disparos de arma de fogo. Conforme o processo, quando o padeiro foi preso ele confessou o crime. Para o MPCE, a ação aconteceu por motivo fútil e com uso de recurso que impossibilitou a defesa da vítima.

Defesa

Após a publicação da reportagem, a defesa do padeiro enviou nota de esclarecimento com sua versão sobre o fato. Segundo o advogado Roberto Duarte, "a defesa técnica do réu, o réu e a família deste lamenta profundamente a tragédia familiar, todos certos de que a ação delituosa ocorreu em momento de fraqueza, desespero e fragilidade emocional do senhor Severo Manoel Dias Neto, sendo por tanto uma atitude impensada e isolada".

De acordo com o advogado, no dia do julgamento serão revelados fatores pelos quais aconteceu o crime. "No dia dos fatos não houve conduta lesiva por parte de Severo Manoel 'na frente dos dois filhos e da mãe da vítima', afirmação feita pela acusação, mas desprovida de prova. Na verdade, no momento da investida, estavam no interior da casa, apenas acusado e vítima, nenhum familiar presenciou a ação. Será também demonstrado aos jurados e provado nos autos, que a vítima conseguiu realizar perfuração no antebraço do ex-companheiro mediante uso de um tesoura de costura, tal lesão ocorreu antes dos disparos", disse a defesa.