Mulher acusada de comandar um tribunal do crime no Ceará é condenada a 10 anos de prisão

Glesley Barbosa foi presa em flagrante, em novembro de 2019. Um ano e meio depois a sentença foi proferida pela Vara de Delitos de Organizações Criminosas de Fortaleza

O colegiado de juízes da Vara de Delitos de Organizações Criminosas da Comarca de Fortaleza condenou Glesley Barbosa de Holanda pelos crimes de organização criminosa e sequestro com cárcere privado. A decisão proferida no último dia 26 de abril é referente aos crimes cometidos em novembro de 2019.

Glesley foi apontada como integrante de uma facção criminosa que comandava um 'tribunal do crime', com regras próprias apontando quem devia ser punido ou não. Nos últimos anos, diversos episódios, até mesmo com fim trágico, acontecem devido à existência dessa prática adotada pelo crime organizado.

A sentença é de 10 anos e 10 meses de reclusão. Destes, sete anos e seis meses são pelo crime de organização criminosa e três anos e quatro meses por sequestro. O magistrado decidiu que a mulher deve permanecer em regime inicialmente fechado e não poderá recorrer da decisão em liberdade.

Glesley também era acusada de ameaça e roubo. Ela foi absolvida para estes crimes sob justificativa que para eles não havia evidências da materialidade. A defesa da ré havia alegado que ela não integra facção criminosa e não cometeu roubo.

Denúncia

De acordo com o Ministério Público do Ceará (MPCE), no dia 19 de novembro de 2019, a acusada junto a outros sete membros de facção privaram uma mulher de liberdade, mediante sequestro. O grupo teria ameaçado matar a vítima porque suspeitavam que ela fosse integrante de uma facção criminosa rival.

Vítima e acusada tiveram o primeiro contato quando dividiam um táxi. Segundo a vítima, a prática era comum, mesmo estando em companhia de desconhecidos. Durante o trajeto, Glesley teria questionado de onde a vítima era e para onde ela ia. Quando a acusada chegou ao destino, desceu do carro e pediu ao taxista que aguardasse até que ela voltasse com o dinheiro para pagar a corrida.

Ao retornar ao veículo, a acusada teria vindo com outras pessoas já apontando que a passageira era membro de uma facção rival.  A vítima relatou às autoridades que os suspeitos perguntaram onde ela morava e se era faccionada, "momento em que passaram a ameaçá-la de morte, dizendo que arrancariam a sua cabeça. Na ocasião, a denunciada alegou que a vítima integrava a GDE e que tinha enviado a sua foto para grupos de WhatsApp", disse o MP.

Logo em seguida, a infratora e uma de suas comparsas adentraram em um outro táxi com a vítima e foram até um imóvel situado numa favela, oportunidade em que a todo momento a vítima suplicava para ser libertada, mas Glesley mantinha a sua liberdade privada. No local, todos que ali estavam constantemente ameaçavam a vítima de morte, inclusive subtraindo o seu aparelho celular e exigindo que colocasse a senha de desbloqueio"
Ministério Público do Ceará
denúncia ofertada à Justiça

Quando vítima e suspeita estavam na calçada, uma viatura da Polícia Militar se aproximou e avistou uma das mulheres chorando. Consta nos autos que, então, a vítima relatou à composição da PM o que estava acontecendo e se disse ameaça. Glesley foi presa em flagrante, e perante aos policiais negou os fatos. Já no interrogatório na Justiça, a denunciada permaneceu em silêncio.

Para as autoridades, a autoria e a materialidade do caso ficaram comprovadas por meio do que foi colhido durante investigação policial e pelo auto da prisão em flagrante.