Júri de réu por feminicídio é desmarcado no Ceará por não haver comida para participantes da sessão

A sessão estava agendada para acontecer nesta quarta-feira (31). Conforme o TJCE, nenhum estabelecimento prestador de serviço procurado pela Comarca de Juazeiro do Norte demonstrou interesse em fornecer as refeições

O julgamento do padeiro Severo Manoel Dias Neto foi desmarcado “em razão da inviabilidade do fornecimento de alimentação para os participantes da sessão”. A informação foi anexada aos autos do processo às vésperas da sessão do júri, que estava marcada para acontecer na manhã desta quarta-feira (31), quase dois anos após o crime.

Severo é réu na Justiça do Estado do Ceará pelo crime de feminicídio. Conforme acusação do Ministério Público Estadual, o padeiro assassinou a esposa na frente dos filhos do casal e da mãe da vítima, na cidade de Juazeiro do Norte, em 2 de abril de 2019. O júri já havia sido adiado em outra ocasião devido à pandemia e, desta vez, aconteceria de forma virtual.

O Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE) disse por nota que "o julgamento teve de ser adiado, pois nenhum estabelecimento/prestador de serviço procurado pela Comarca de Juazeiro do Norte demonstrou interesse em fornecer as refeições para os jurados, réu e todos os outros participantes da sessão".

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A família da vítima Maria Rosimeire de Santana recebeu com indignação a informação sobre o adiamento do júri. Roseane Santana, irmã de Rosimeire, disse à reportagem do Diário do Nordeste que durante toda a manhã desta quarta-feira (31) esperou pelo julgamento. Segundo ela, a família não foi comunicada com antecedência sobre a suspensão do júri, e só foi informada já no início da tarde.

Ouça fala da irmã da vítima

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"Eu cheguei a ir no fórum nesta quarta-feira e lá não fiquei sabendo de nada. O policial que me atendeu no portão me disse para ligar. Nós, como família, nos sentimos humilhados em relação a isso. A gente clama por Justiça. Esperamos ansiosamente por esse julgamento. A cada dia que passa se torna mais angustiante. É muito triste, lamentável que ninguém comunique a família da vítima sobre adiamento. Ficamos ansiosos pelo resultado e, infelizmente, ficamos de cara no chão. Para nós é constrangedor e a cada dia mais dolorido. Não vamos desistir de jeito nenhum, mas está sendo complicado", disse Roseane.

O advogado Roberto Duarte, representante da defesa do réu, afirmou que tinha ciência há dias sobre o adiamento por insuficiência de prover a alimentação a todos do júri.

"A defesa técnica informa que não comunga com sucessivos adiamentos da sessão do Tribunal do Júri, sendo este o segundo adiamento. Também espera que o magistrado acate o requerimento de comparecimento pessoal do réu à sessão (presença física), pois todo aquele que for julgado deve estar diante de seu julgador, no caso, o Conselho de Sentença. A permanência do acusado no plenário corresponde sem dúvida à plenitude de defesa, conforme preconiza a Constituição Federal", disse o advogado representando a defesa.

A família da mulher assassinada e o advogado da defesa disseram à reportagem ter recebido informação que a nova data do júri é 13 de maio de 2021. O Tribunal de Justiça confirmou a informação acrescentando que a nova data foi designada pelo Juízo da 1ª Vara Criminal da Comarca de Juazeiro do Norte, e que o julgamento será na modalidade semipresencial.

Caso

De acordo com a denúncia do MPCE, Severo Manoel Dias Neto cometeu crime de feminicídio utilizando uma arma de fogo. O acusado foi visto horas antes do crime rondando a escola do filho mais novo do casal. Para o órgão acusatório, a ação aconteceu por motivo fútil e com uso de recurso que impossibilitou a defesa da vítima.

Severo já sido preso antes da tragédia porque descumpriu a medida protetiva. Populares disseram ter ouvido várias vezes que quando o réu encontrava a vítima ele mandava ela ter cuidado porque iria matá-la. A defesa do réu alega que o crime não aconteceu na frente de familiares e que homem foi ferido no antebraço pela ex-esposa antes de efetuar os disparos.