O iraniano Farhad Marvizi, o "Tony", tem uma nova data para sentar no banco dos réus. O júri acerca do crime ocorrido em 2009, no Ceará, e que vitimou o comerciante e eletricista Francisco Cícero Gonçalves de Sousa, conhecido como 'Paulo Falcão', foi novamente remarcado. Agora, consta nos autos que a sessão de julgamento só acontecerá em maio de 2023, "em razão da inexistência de vaga no Presídio Federal de Campo Grande, para realização de sessão por videoconferência".
Enquanto isso, o iraniano segue na unidade federal, localizada no Mato Grosso. Outras datas para o júri já tinham sido agendadas no processo. Primeiro, Farhad seria julgado no dia 6 de maio de 2020, como mandante do assassinato. O julgamento não aconteceu, e a nova data ficou para 9 de fevereiro de 2023.
No último dia 10 deste mês, já foi informado pela 5ª Vara do Júri da Comarca de Fortaleza sobre indisponibilidade da sala, mesmo a sessão sendo para o próximo ano. Com isso, a previsão do desfecho processual é de 14 anos após a morte da vítima.
O iraniano tem uma extensa ficha criminal e já foi a júri por outros homicídios. Já em 2022, ele foi sentenciado a 17 anos de prisão, inicialmente em regime fechado, pela morte de um administrador em 2010, no Bairro Aldeota. Em 2012, foi condenado a 20 anos de prisão por tentativa de homicídio contra o auditor da Receita Federal José de Jesus Ferreira, ocorrida no dia 9 de dezembro de 2008, em Fortaleza.
À época da primeira condenação, o iraniano já cumpria pena pelos crimes de evasão de divisas e lavagem de dinheiro no Ceará.
LIGAÇÕES CLANDESTINAS
A trama envolvendo o estrangeiro e seus comparsas é marcada por falsas amizades, negócios ilegais, traições e mortes. No caso de Marvizi e Paulo Falcão, a ligação entre eles começou no ano de 2008 por um motivo inusitado: altos gastos com contas de energia elétrica. Paulo Falcão que, além de ter uma pizzaria, fazia bicos como eletricista, foi apresentado a Marvizi por um amigo em comum dos dois, o comerciante Carlos José Medeiros Magalhães. Por suas habilidades, Paulo foi contratado para fazer um "gato" na ligação de energia em dois imóveis do iraniano nos bairros Meireles, em Fortaleza, e Porto das Dunas, em Aquiraz.
Ligações clandestinas feitas e, consequentemente, contas mais baixas. Mas a parceria entre Paulo e o iraniano ia além. Farhad Marvizi "sofria" com as fiscalizações da Receita Federal contra os negócios ilegais de venda de aparelhos eletrônicos. Tentando burlar o fisco com a compra de mercadorias sem nota e contrabandeadas.
O chefe da Divisão de Repressão ao Contrabando e Descaminho da Receita, José de Jesus Ferreira, passou a ser considerado inimigo número 1 do iraniano e teve a morte encomendada por ele. No dia 4 de dezembro de 2008, Tony contratou os "serviços" de Paulo Falcão para matar o auditor e ofereceu a quantia de R$ 15 mil, tendo pago R$ 4 mil adiantados.
Cinco dias depois, na tarde do dia 9 de dezembro de 2008, o plano criminoso foi posto em prática, e Jesus Ferreira foi alvo de uma emboscada no bairro Varjota, em Fortaleza, e sofreu cinco tiros. Contudo, o auditor escapou com vida do atentado.
Mesmo sem ter concluído o serviço pelo qual havia sido contratado, Paulo Falcão passou a cobrar de Marvizi o restante do dinheiro prometido. Após as seguidas cobranças e por ser conhecedor dos negócios ilegais do grupo criminoso, o eletricista 'Paulo Falcão' irritou o iraniano e passou de pistoleiro a alvo.
Conforme a denúncia do Ministério Público do Estado (MPCE), às 19h40 do dia 2 de junho de 2009, cerca de seis meses depois de ter tentado matar o auditor da Receita, 'Paulo Falcão' foi executado a tiros dentro da pizzaria dele, no bairro Vila Manoel Sátiro. O crime teve como mandante Marvizi, mas foi intermediado por Carlos Medeiros, que contratou o policial militar Ivanildo Mariano Silva para executar o crime.
A análise das comunicações por meio de celular entre Marvizi, Carlos e Ivanildo colocaram os três nas imediações da cena do crime e em horários próximos aos do homicídio. Para o MP, não resta dúvida de que eles tramaram e executaram Paulo Falcão.
O iraniano e o policial militar Ivanildo foram denunciados por homicídio qualificado por motivo torpe e com meio que impossibilitou a defesa da vítima. Carlos Medeiros não chegou a ser denunciado, pois foi executado junto com a mulher Maria Elisabeth Almeida Bezerra, no dia 2 de agosto de 2010, cerca de um ano depois da morte de 'Paulo Falcão', também a mando de Marvizi em uma nova queima de arquivo.