Inspetora da Polícia Civil é suspeita de agredir funcionária de pousada em Jericoacoara

A empresária proprietária da pousada também disse ter sido agredida por PMs acionados, que se negaram a atender a ocorrência


[Atualização às 10:06, de 13/10/20] O Sistema Verdes Mares noticiou anteriormente que, conforme um vídeo, a inspetora da Polícia Civil transitava nas áreas comuns da pousada de Jericoacoara sem máscara. A informação correta é que, no vídeo que circula nas redes sociais, a policial aparece de máscara.

 

Uma funcionária de uma pousada em Jericoacoara, no Ceará, afirma ter sido agredida por uma inspetora da Polícia Civil na noite de domingo (11). Conforme a recepcionista, a policial teria tentado fazer uso da piscina acompanhada de pessoas que não estavam hosdepadas no local. Ao ser informada que não era permitido, devido às regras do hotel, ela teria se irritado e começado a gravar os hóspedes do local. Em resposta, a funcionária também começou a filmar a movimentação da hóspede que, ao perceber, agrediu a recepcionista. O vídeo que registra a agressão circula nas redes sociais e o caso vem sendo apurado pelas autoridades. 

Conforme a recepcionista, Brenda Olímpio, a confusão ocorreu por volta das 21h40min de domingo. "A hóspede entrou com pessoas que não eram hóspedes e dentro do regulamento interno do hotel, na ficha que ela assinou, está informando que não é permitido pessoas de fora nas dependências do hotel ou no quarto. Ela, na verdade, fingiu que não me ouviu. Ela não me deu atenção", relata. 

Segundo Brenda, além disso, a área da piscina já estava fechada, pois funciona até as 20h. Ao ser avisada que não poderia fazer uso, Brenda relata que a policial informou que iria levar as pessoas para o quarto. Quando comunicada que tal ação também não era permitida, ela teria se identificado como policial civil. "Ela pôs a identificação bem próximo ao meu rosto e falou que ia fazer uma denúncia informando que nenhum dos hóspedes estava usando máscara e saiu fazendo vídeo e abordando os hóspedes". 

A funcionária conta que nesse momento também começou a registrar o ocorrido. "Para eu me defender, eu comecei também a fazer um vídeo dela. Como forma de me proteger. Ela tomou o celular da minha mão. Jogou no chão. Tentou me dar um golpe. Nós fomos para o chão. Eu falei: ela vai quebrar meu pescoço e um dos amigos dela puxou ela pelas pernas, aparece no circuito de câmeras", afirma. A recepcionista diz ainda que ligou para a proprietária do hotel para que ela acionasse a Polícia. 

Ao perceber que estava sendo filmada, a policial se exalta. A proprietária da pousada, Antônia Maria de Sousa, informou que outros funcionários do estabelecimento acionaram a Polícia Militar, mas os agentes teriam se recusado em fazer o flagrante. 

Segundo a proprietária, no momento em que os militares chegaram ao local e descobriram que a suspeita também era policial, se negaram a atender a ocorrência.

“Os policiais disseram que não iam levar ela na delegacia e eu fui saber o porquê. Me disseram que se quisesse que a gente contratasse um táxi para ir até a delegacia. Ela (funcionária) chorava muito, estava muito machucada e o tenente muito alterado. O policial militar me jogou no chão e me chutou dizendo que não era meu empregado. Ainda pegou meu celular e jogou dentro da viatura. Nos humilhou muito”, afirmou a empresária.

A vítima ainda reclamou por não ter sido acolhida pelos policiais militares e não ter sido auxiliada por eles a fazer o exame de corpo de delito. A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) informou que a ocorrência vem sendo apurada. 

“Todas as circunstâncias do fato, bem como do atendimento prestado pelos profissionais de segurança acionados até o local são acompanhados pela pasta. Oitivas ocorrerão ainda na nesta segunda-feira (12), na Delegacia Regional de Camocim”, disse a Secretaria.

No fim da noite desta segunda (12), o governador do Estado, Camilo Santana (PT), postou em usa rede social que "policiais acusados de atos ilícitos devem responder processo e, quando culpados, punidos segundo a lei. Por isso existe no Ceará uma Controladoria de Disciplina independente". Camilo completou a postagem dizendo que "desvios de conduta não serão tolerados. Bons policiais, a maioria, terão sempre meu apoio".

Por nota, a Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD) informou ter determinado a imediata apuração dos fatos na seara administrativa disciplinar. A inspetora não atendeu as ligações feitas pela reportagem.

O Sindicato dos Policiais Civis de Carreira do Estado do Ceará (Sinpol-CE) através de nota, "lamentou a exposição" da inspetora e esclarececeu que, "segundo a inspetora, o fato se iniciou quando a hóspede queria ter acesso às dependências de lazer do Hotel, a exemplo de outros clientes que estavam no local. e sua entrada foi obstaculizada pela funcionária do Hotel".

Ainda segundo o Sinpol, "a partir daí, ao exigir o mesmo tratamento de outros hóspedes que não lhe foi dado, a policial usando máscara começou a filmar o hotel para registrar o constrangimento e o tratamento desigual, inclusive com descumprimento das medidas sanitárias impostas pelo Governo". A nota segue dizendo que "ao ser provocada injustamente e para defender a sua honra pois estava de traje de banho, tentou pegar o celular da funcionária que reagiu se agarrando e derrubando a policial no chão. A policial, bem conceituada no exercício de suas funções, reitera que não realizou nenhuma agressão à funcionária, apenas tentou parar a filmagem, sendo referido fato isolado em sua vida profissional. Ao contrário, foi lesionada em sua imagem, moralmente e fisicamente pela ofensora quando tentou impedir gravação ofensiva a sua honra e buscará as medidas judiciais cabíveis para minimizar a ofensa sofrida". 

Violência

Ainda em Jericoacoara, outra ocorrência relacionada a abuso de autoridade foi registrada no último fim de semana.

O representante jurídico Wellington Robert diz ter sido vítima de militares que diligenciavam na vila. Segundo Robert, ele e amigos estavam em uma barraca de drinks na noite do sábado (10) quando policiais chegaram ao local disparando spray de pimenta.

“Foi do nada. Eles não avisaram, nada. Jogaram spray de pimenta e queimou minhas costas. Fui para a UPA. Isso é uma falta de respeito muito grande. Abordagem agressiva”, disse Robert.

Também por meio de nota, a Polícia Militar do Ceará (PMCE) informou que houve acionamento de composições policiais para duas situações distintas ocorridas em Jijoca de Jericoacoara (CE), nesse final de semana.

"Na madrugada de hoje (12), os militares do Batalhão de Policiamento Turístico (BPTur) compareceram a uma pousada onde estaria acontecendo uma briga entre uma funcionária do estabelecimento e uma hóspede que se identificou como policial civil. Conforme Boletim de Ocorrência registrado pelo oficial do BPTur que atendeu a ocorrência, a suposta vítima das agressões não se apresentou enquanto ele e sua equipe estiveram no estabelecimento, e a policial civil negou ter havido agressões", disse a nota.

Conforme a PM, "por não ter vislumbrado situação de flagrante delito, não houve condução dos envolvidos à delegacia". A nota diz ainda que o aparelho celular da dona da pousada foi apreendido e apresentado na Delegacia Regional de Camocim.

"Já quanto a outra ocorrência, a Polícia Militar comunica que houve a necessidade do uso de spray de pimenta para dispersar pessoas que se aglomeravam e insistiam em desobedecer às orientações e ordens dos policiais militares que lá se encontravam", concluiu a Polícia.