O Ministério Público do Ceará (MPCE) descobriu que o guru espiritual Pedro Ícaro de Medeiros, o 'Ikky', de 28 anos, cometeu crimes sexuais contra pelo menos dois adolescentes, antes da criação da Comunidade Afago em Fortaleza, em 2018. Ele foi preso preventivamente ontem, na Operação Erasta, deflagrada pelos núcleos de Investigação Criminal (Nuinc) e de Atendimento às Vítimas de Violência (Nuavv).
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As descobertas foram feitas no bojo de outra investigação, que apura denúncias feitas na hashtag #ExposedFortal (ou seja, Fortaleza exposta) nas redes sociais, contra diversos suspeitos de crimes sexuais. "Tudo começou quando nós lançamos duas campanhas para ouvir as pessoas que teriam sofrido abuso sexual na questão do #ExposedFortal. Algumas vítimas compareceram ao Nuavv e foram sendo selecionadas. Duas dessas vítimas se deram à situação relacionada com o guru", explica o coordenador do Nuinc, promotor de Justiça Humberto Ibiapina.
Os crimes sexuais foram cometidos contra adolescentes do sexo masculino, à época com 14 e 15 anos, em uma igreja de Fortaleza. Pedro Ícaro já tinha mais de 18 anos. Para preservar a identidade das vítimas e o sigilo da investigação, o MPCE não pode fornecer informações como a religião e a localização da igreja, nem as datas em que aconteceram os casos. O guru ainda é considerado investigado no processo, mas a denúncia deve ser elaborada pelos promotores nos próximos dias.
"Ele (Ícaro) aplicou, em relação a esses dois adolescentes, o mesmo 'modus operandi' que identificamos durante a Comunidade Afago. Só que, na Comunidade, foi de forma mais aprimorada. Aproximou-se de pessoas carentes, com problemas pessoais, que sentiam essa carência de uma pessoa que conversasse, interagisse e, a partir daí, ele fazia esse contato bem próximo, fazendo as pessoas se iludirem que ele seria a salvação", detalha Ibiapina. O nome da Operação faz referência aos conceitos da pederastia da Grécia Antiga, em que Erasta era um homem com mais de trinta anos que se relacionava com jovens, com o objetivo de "refinar" a educação dos mesmos.
O mandado de prisão preventiva, expedido pela 12ª Vara Criminal de Fortaleza, foi cumprido em uma residência onde o guru morava, na Capital, por promotores de Justiça e policiais civis do Departamento Técnico Operacional.
No local e em mais dois endereços (casa da mãe do suspeito e um imóvel onde aconteciam os encontros "espirituais"), também foram cumpridos mandados de busca e apreensão, que resultaram na retenção de aparelhos celulares e computadores que serão analisados na sequência da investigação. Ícaro foi levado à Delegacia de Capturas e Polinter (Decap), da Polícia Civil do Ceará (PCCE).
O advogado de defesa do preso, Klaus Borges, afirmou, na tarde de ontem, que ainda não tinha acesso ao processo criminal e que irá se manifestar depois de ter conhecimento do mesmo.
Comunidade
As denúncias de crimes sexuais cometidos por Pedro Ícaro foram feitas inicialmente por membros da Comunidade Afago e divulgadas em reportagem do programa Fantástico, da TV Globo, exibida em 19 de julho último. Jovens dos sexos masculino e feminino contaram que foram vítimas de abusos sexuais, físicos e psicológicos.
As investigações do caso foram conduzidas pelo 26º DP (Edson Queiroz), da Polícia Civil, que ouviu 18 pessoas e concluiu o Inquérito Policial. O MPCE denunciou o guru por violação sexual mediante fraude e crime sexual para controlar o comportamento social ou sexual da vítima, combinado com charlatanismo e curandeirismo, o que foi aceito pela 15ª Vara Criminal, e Ícaro virou réu, dez dias após a reportagem, em 29 de julho. Apesar de aceitar a acusação, o juiz negou o pedido de prisão naquele momento.
A detenção realizada ontem acalmou as vítimas do guru espiritual. "Foi uma grande surpresa, após a decisão que descredenciou várias vítimas. Eu não esperava que a prisão ainda ia acontecer em 2020. Estou muito grata, pois é mais um abusador fora das ruas, fora das mentes das pessoas inocentes que estão buscando apenas ajudar o outro e um pouco de pertencimento", pontua uma jovem, que não será identificada.