Familiares e amigos de Wanderson de Holanda Nogueira, soldado 16ª Companhia de Polícia do Exército (16ª Cia PE) do Ceará, que morreu após um treinamento em um quartel de Maranguape no dia 21 de outubro, ainda aguardam respostas sobre a causa da morte do jovem de 19 anos.
Protesto por respostas sobre o caso ocorreu na noite desta quarta-feira (3) durante sessão da Câmara Municipal de Capistrano, município cearense onde Wanderson nasceu. Os parentes, incluindo Pedro Miguel, vereador pela cidade e pai do jovem, não acreditam na possibilidade de "morte natural", como foi informado inicialmente a eles.
"A gente quer uma explicação. Ele era um menino saudável, o Exército disse que foi morte por causa natural. Mas eu acredito que nenhuma morte é natural, existe algo por trás disso. A mãe dele entregou ele vivo e saudável", defende Antonielda Holanda, tia de Wanderson.
A professora pontua que a família não recebeu nenhum detalhe sobre o cronograma do jovem de 19 anos na semana da morte. O que se sabe é que seriam treinamentos com exercícios "muito difíceis", como o próprio Wanderson relatou à mãe dias antes.
O questionamento que a gente faz é se há necessidade desse tipo de metodologia. O Exército precisa colocar esses treinamentos? Onde está o amor pela vida humana? É amor à Pátria? O Wanderson não amava só a pátria, ele amava a família, e tenho certeza que ele queria viver. O sonho dele foi interrompido e não foi o primeiro, mas vamos lutar para seja o último
"Luta por justiça"
Emocionado, o vereador de Capistrano e pai do soldado, Pedro Miguel, relembrou de momentos com o filho e disse que "é mais do que uma obrigação lutar por Justiça", pontuando que a Câmara de Capistrano enviou ofício cobrando respostas ao Exército.
"O Wanderson era uma pessoa muito sensível, amiga e humilde. Para mim ele não morreu. Eu olho para um jovem e vejo meu filho, então para mim ele não morreu, só está em um lugar onde eu vou me encontrar com ele depois", desabafou o pai.
A tia Antonielda Holanda frisou que é necessária a sensibilização do Exército e questiona: "Será que socorreram ele mesmo na hora?".
"Vamos lutar para que de alguma forma eles possam se sensibilizar em mudar essas metodologias. Não se sacrificam vidas humanas. Era um sonho de um jovem de 19 anos", disse.
Advogada da família atua no caso
Outra pessoa presente no protesto desta quarta foi a advogada da família de Wanderson, Karine Almeida. Ela destacou que "vai buscar a verdade" e não atuará como "assistente de acusação".
"O Exército Brasileiro é uma instituição que deve prestar contas à sociedade. Quantos filhos dos senhores sairão de casa sem ter a certeza que voltarão? Qual foi o itinerário que o Wanderson fez naquele dia? Nós vamos buscar a verdade e eles vão ter que dizer o que aconteceu", declarou.
A profissional da advocacia defendeu que o caso de Wanderson servirá como "uma bandeira do que não deve ser feito" e disse ainda: "Que fique claro que nao queremos guerra, só queremos a verdade".
Investigações
O Diário do Nordeste apurou, com uma testemunha do caso, que existe a suspeita de que outro militar teria batido a cabeça de Wanderson Holanda em uma pedra durante um treinamento, causando a morte.
Um dia após a morte, a 10ª Região Militar (que abrange o Ceará) emitiu nota lamentando o falecimento e pontuando que a circunstâncias estavam sendo "devidamente apuradas".
A reportagem solicitou atualização sobre o caso à corporação na noite desta quarta-feira (3) e aguarda respostas. A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) também foi procurada.
O caso é investigado como "morte suspeita" pela Delegacia de Polícia de Maranguape.
Assistência à família
Em nota enviada ao Diário do Nordeste, o Comando da 10ª Região Militar garantiu que, desde o ocorrido, tanto o Comando como a 16ª Companhia de Polícia do Exército têm disponibilizado à família de Wanderson "total assistência social, psicológica e religiosa, e se mantêm permanentemente à disposição".
Quanto ao questionamento se a morte do militar se deu por causas naturais - conforme repassado aos familiares, que contestam - ou não, a Região Militar informou que as causas da "inestimável perda" serão determinadas somente após a conclusão do Inquérito Policial Militar (IPM), ainda em andamento, em segredo de Justiça.
"O IPM apurará o ocorrido, rigorosamente, a fim de elucidar as causas que levaram o Soldado Wanderson ao óbito precoce".
Segundo o Comando da 10ª Região Militar, no dia em que morreu, Wanderson participava de atividades referentes ao "período da instrução individual básica, as quais todos os militares, homens e mulheres que incorporam ao Exército são submetidos", aponta outro trecho da nota.
"O treinamento que o militar participava faz parte de um programa de instruções previstas para todo militar incorporado ao Exército Brasileiro", finaliza.