Desembargadora é condenada à aposentadoria compulsória no TJCE

A magistrada Sérgia Miranda é acusada de integrar esquema de venda de liminares no Tribunal de Justiça e também responde a um processo criminal que tramita no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Ela nega as acusações

As investigações acerca da venda de decisões judiciais no Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE) tiveram um novo episódio, ontem. A desembargadora Sérgia Maria Mendonça Miranda foi condenada à aposentadoria compulsória, com aplicação dos vencimentos proporcionais ao tempo de serviço, pelo Pleno do Tribunal, em uma sessão que se prolongou por quase sete horas. A magistrada foi denunciada em uma ação penal no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e aguarda julgamento.

Todos os 38 desembargadores presentes na sessão acompanharam o relator e votaram pela condenação da magistrada no Processo Administrativo Disciplinar (PAD) pela prática dos crimes de advocacia administrativa, tráfico de influência e corrupção passiva.

O relator, desembargador Mário Parente Teófilo Neto, citou a participação de Sérgia Miranda na venda de habeas corpus em ao menos três plantões do TJCE, em 17 de novembro de 2012, 26 de maio de 2013 e 23 de dezembro de 2013. Cada decisão custava, em média, R$ 150 mil aos presos. O esquema criminoso foi descoberto no âmbito da Operação Expresso 150, da Polícia Federal (PF), deflagrada em junho de 2015.

A desembargadora atuava junto principalmente do namorado, o empresáriomFrankraley Oliveira Gomes, e os advogados Michel Sampaio Coutinho, Carlos Eduardo Miranda de Melo, Jessica Simão Albuquerque Melo Coutinho (esposa de Michel) e Mauro Júnior Rios, segundo o relator.

Um dos beneficiados com uma liminar foi o primo de Michel Coutinho. Os investigados discutiam a aplicação dos habeas corpus principalmente pela rede socialWhatsApp. Um grupo existente no aplicativo, liderado pelo também advogado Fernando Carlos Feitosa, o ‘Chupeta’, anunciava os plantões dos desembargadores envolvidos no esquema criminoso e organizava as negociações.

“Em 18 de maio e 20 de maio de 2013, Fernando Feitosa anunciou no grupo a proximidade do plantão da desembargadora Sérgia Miranda, que ocorreu no dia 26 de maio de 2013, com os seguintes termos: ‘Trago uma boa notícia: sábado tem lantão, ok? Sérgia Miranda. Traga seu agravo, resolvemos’”, contou o desembargador Mário Parente.

Outros crimes 

O Pleno do TJCE também analisou outras suspeitas sobre a desembargadora Sérgia Maria Miranda, também levantadas no bojo da ‘Expresso 150’. O relator, acompanhado pelos demais magistrados, se colocou contra a condenação da ré pela decisão que liberou verba para a massa falida de uma empresa do ramo financeiro – apesar de pontuar a relação de longa amizade entre a desembargadora e o casal proprietário da empresa.

Em contrapartida, o desembargador Mário Parente encontrou indícios de violação do dever funcional de Sérgia Maria no processo que trata da disputa de um terreno entre a empresa FP Construções e Empreendimentos e a Diocese do Crato, neste Município.

Para a investigação da PF, a primeira pagou R$ 675 mil de propina à magistrada, através do advogado Paulo Quezado 

Defesa

A defesa da desembargadora condenada pediu pela prescrição dos crimes de advocacia administrativa e tráfico de influência, antes do voto do relator. Mas o desembargador Mário Parente e os demais magistrados foram contra. O advogado da ré não quis semanifestar sobre a decisão.