A categoria dos agentes de segurança pública aderiu quase por completo à vacinação contra a Covid-19 no Ceará. Conforme dados apresentados pela Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), apenas 208 profissionais que atuam nas vinculadas da Pasta - dentro de um efetivo total de 24.440 servidores - não tomou nenhuma dose das vacinas. Isso representa cerca de 0,8% do número total.
A SSPDS ressalta que, entre os agentes não vacinados, estão pessoas que apresentaram restrições médicas para receberem os imunizantes, mas o quantitativo não foi detalhado pela Pasta.
Em contrapartida, 24.232 agentes (ou 99,1% do efetivo) receberam ao menos a primeira dose do imunizante. 21.249 servidores (86,9% do total) também receberam a segunda dose. Enquanto a quantidade de agentes vacinados pela terceira dose ainda não foi calculada pela Secretaria.
Os números incluem os efetivos das polícias Civil (PCCE) e Militar do Ceará (PMCE), Corpo de Bombeiros Militar do Ceará (CBMCE), Perícia Forense do Ceará (Pefoce), Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará (Aesp) e Superintendência de Pesquisa e Estratégia de Segurança Pública (Supesp).
Nas ruas ou em locais de trabalho como as delegacias e os quartéis, os agentes de segurança pública não pararam de trabalhar no Ceará, desde o início da pandemia de Covid-19, em março de 2020. A categoria sofreu com mortes de colegas, em decorrência da contaminação com o vírus, e foi desfalcada seguidas vezes por surtos da doença. Os policiais acabaram incluídos entre os grupos prioritários para a vacinação e começaram a receber os imunizantes no dia 11 de abril de 2021, no Ceará.
A epidemiologista, virologista e professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), Caroline Gurgel, avalia que o número de agentes de segurança pública não vacinados no Ceará "é uma quantidade muito pequena e aceitável" e pondera que "quando se fala de vacinação, nem todo mundo vai conseguir se vacinar, por motivos diversos, principalmente por ter algum tipo de doença, alguma reação alérgica já conhecida".
Segundo a médica, "quando a gente fala de uma cobertura vacinal, segundo a própria OMS (Organização Mundial da Saúde), o mínimo é de 80% de cobertura para que a gente fale de 'imunização de rebanho'". Entretanto, as poucas pessoas que não receberam os imunizantes continuam em risco.
Então, essas pessoas que não se vacinaram, tem que ver as condíções clínicas delas, para ver se podem estar nas ruas, ou se podem ficar em escritórios, para não se infectarem. Como essa variante Ômicron é altamente transmissível, mesmo vacinada, uma quantidade enorme de pessoas está adoecendo. Mas esse adoecimento não é grave. Quem está se hospitalizando e indo a óbito, a grande maioria é de pessoas que não receberam a vacina."
Caroline Gurgel ressalta a importância dos agentes de segurança continuarem a tomar certos cuidados com a Covid-19, como utilizar máscaras PFF2 ou N95 (mais eficazes para evitar a contaminação com a Ômicron) e evitar contato com pessoas doentes. E sugere que as Forças de Segurança levem as vacinas para os locais de trabalho, como as delegacias e os quartéis, para completar a imunização dos profissionais.
Apesar de poucos agentes de segurança não terem se vacinado, a epidemiologista alerta que muitos ainda não tomaram a segunda dose: "Às vezes as pessoas têm medo ou uma dificuldade de locomoção para tomar a segunda dose. Uma estratégia é levar para dentro dos postos policiais e vaciná-los. Acredito que a adesão seria maior que esperando o profissional se deslocar. Somente com a primeira dose, o número está alto".
Pefoce e Supesp têm efetivo 100% vacinado
Os dados da SSPDS revelam que, com efetivos menores, a Perícia Forense do Ceará e a Superintendência de Pesquisa e Estratégia de Segurança Pública têm 100% dos servidores vacinados com a primeira e com a segunda dose dos imunizantes contra a Covid-19. Na Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará, apenas um servidor não se vacinou, porque apresentou restrição médica.
O Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Ceará tem o maior percentual de agentes que não receberam nem a primeira dose da vacina, entre as vinculadas da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social: 1,5%, ou seja, 26 militares de um quadro de 1.693 servidores.
A Polícia Militar do Ceará, por sua vez, tem o menor percentual de vacinados com a segunda dose: 84,6%, o que representa 15.947 PMs de um efetivo de 18.845 militares. Já o efetivo da Polícia Civil se aproxima de uma vacinação completa em duas doses: 99% receberam ao menos a primeira dose, e 97,7%, a segunda.
Confira como está a vacinação de cada vinculada:
Polícia Civil do Estado do Ceará (PCCE)
Número de servidores: 3.343
1ª dose: 3.310 servidores (99%)
2ª dose: 3.268 servidores (97,7%)
3ª dose: Número não divulgado
Não se vacinaram: 33 servidores (1%). Entre eles, estão profissionais que apresentaram justificativa médica para não tomar o imunizante, segundo a SSPDS.
Polícia Militar do Ceará (PMCE)
Número de servidores: 18.845
1ª dose: 18.697 servidores (99,2%)
2ª dose: 15.947 servidores (84,6%)
3ª dose: Número não divulgado
Não se vacinaram: 148 servidores (0,8%). Entre eles, estão profissionais que apresentaram justificativa médica para não tomar o imunizante.
Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Ceará (CBMCE)
Número de servidores: 1.693
1ª dose: 1.667 (98,5%)
2ª dose: 1.476 (87,2%)
3ª dose: 702 (41,4%)
Não se vacinaram: 26 servidores (1,5%). Entre eles, estão profissionais que apresentaram justificativa médica para não tomar o imunizante.
Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce)
Número de servidores: 398
1ª dose: 398 (100%)
2ª dose: 398 (100%)
3ª dose: Número não divulgado
Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará (Aesp)
Número de servidores: 126
1ª dose: 125 (99,2%)
2ª dose: 125 (99,2%)
3ª dose: Número não divulgado
Não se vacinou: 1 servidor (0,8%), que apresentou justificativa médica para não tomar o imunizante.
Superintendência de Pesquisa e Estratégia de Segurança Pública (Supesp)
Número de servidores: 35
1ª dose: 35 (100%)
2ª dose: 35 (100%)
3ª dose: Número não divulgado
O presidente do Sindicato dos Policiais Civis de Carreira do Ceará (Sinpol-CE) e deputado estadual, Tony Brito, avaliou de forma positiva a grande adesão dos policiais civis à vacinação contra a Covid-19: "Somos a favor da vacina. Fizemos campanha para que todos policiais se vacinassem. Acredito que somente aqueles que têm problemas de saúde ou por orientação médica não se vacinaram".
Dentro das delegacias, orientamos que todos os colegas estejam fazendo uso de álcool em gel, EPI's (Equipamentos de Proteção Individual) e, desde o início, distribuímos esses materiais. Vamos oficiar o secretário de Segurança Pública para que cobre Passaporte da Vacina para entrar nas delegacias. Muitas vezes as delegacias ficam lotadas, e precisamos melhorar essa situação."
Um oficial da Polícia Militar do Ceará, que pediu para não se identificar, acredita que os Órgãos de Segurança Pública devem começar a cobrar a vacinação dos servidores. Nas últimas semanas, comandantes e outros gestores já têm se movimentado para solicitar informações sobre a imunização dos agentes.
Quem não se vacinou está dando um 'tiro no próprio pé'. E atrapalhando o trabalho policial. É uma ignorância pensar que a vacina impede de contrair a doença. Já tomei todas as doses e estou esperando a quarta, a quinta."