Chefe de facção no CE diz que comprou fuzil por R$70 mil quando estava preso, com ajuda de advogados

O homem, que fugiu do Sistema Penitenciário após ser condenado a mais de 70 anos de prisão por participação em uma chacina, foi recapturado nesta semana

O homem identificado como Izaías Maciel da Costa, o 'Mucuim', apontado como chefe de uma facção criminosa no Ceará e recapturado pela Polícia na última quarta-feira (18), afirmou, em depoimento, que comprou um fuzil por R$ 70 mil, enquanto estava preso, por intermédio de advogados. Ele havia fugido do Sistema Penitenciário em dezembro do ano passado, após ser condenado a mais de 70 anos de prisão por participação na Chacina de Quixeramobim.

'Mucuim' foi preso em uma residência em Horizonte, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), onde estaria escondido com o apoio do irmão, Iago Maciel da Costa, que também foi detido.

Com a dupla, foram apreendidos um fuzil calibre 5.56, duas pistolas calibres 380, mais de 100 munições de calibres variados e dos veículos roubados, com sinais identificadores adulterados. 

Conforme documentos obtidos pelo Diário do Nordeste, a prisão em flagrante de Izaías foi convertida em prisão preventiva, por decisão da Justiça Estadual, na audiência de custódia realizada na última quinta (19), "para fins de assegurar a garantia da ordem pública". Já a detenção do irmão dele não foi apreciada pelo Poder Judiciário.

Ao prestar depoimento à Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), da Polícia Civil do Ceará (PC-CE), Izaías Maciel revelou que comprou o fuzil por R$ 70 mil, enquanto ainda estava preso.

O vendedor da arma, segundo o acusdo, é um homem que mora no Estado do Rio Grande do Norte, que ele não conhece. A negociação teria sido feita por intermédio de advogados, os quais ele não quis falar o nome.

'Mucuim' relatou ainda que comprou as duas pistolas através do aplicativo WhatsApp, de um homem que mora em Fortaleza e que ele também não conhece. O valor total, das duas armas, seria de R$ 9,3 mil. 

Já as munições teriam sido compradas de um homem que tem registro de Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador (CAC) - e por isso pode possuir armas. "Tá muito fácil comprar, porque os CACs estão vendendo munições 'a preço de banana'", disse o suspeito.

A reportagem apurou que 'Mucuim' aderiu a uma facção cearense. No depoimento, ele admitiu à Polícia que tinha adquirido o armamento para matar rivais de uma facção de origem carioca, com o objetivo de tomar o território, em Horizonte, para realizar o tráfico de drogas.

Izaias Maciel responde por pelo menos três homicídios e é suspeito de estar envolvido em mais 15 mortes. Em 2018, data da chacina, ele ficou conhecido como 'pistoleiro do Sertão Central'. 

Condenação e fuga em seguida

Izaias Maciel da Costa, Francisco Fábio Aragão da Silva e Mateus Fernandes de Sousa foram condenados a um total de 207 anos de prisão, por participação na Chacina de Quixeramobim, na noite de 25 de novembro de 2022. Minutos depois, os acusados fugiram da viatura que os levava de volta aos presídios.

A viatura saiu do Fórum Clóvis Beviláqua, em Fortaleza, onde aconteceu o julgamento. Segundo os policiais penais que participavam da escolta, o trio quebrou a grade da viatura (conhecida como "corró") e pulou do veículo em movimento.

Confira as penas individuais:

  • Francisco Fábio Aragão da Silva, o 'Pão' - 70 anos e 8 meses de reclusão;
  • Izaias Maciel da Costa, o 'Mucuim' - 70 anos e 8 meses de reclusão;
  • Mateus Fernandes de Sousa, o 'Gato a Jato' - 66 anos de prisão.

O trio foi condenado por 4 homicídios, uma tentativa de homicídio e pelo crime de organização criminosa e teria que cumprir a pena em regime fechado, conforme a sentença.

Os agentes foram afastados preventivamente do serviço público, por 120 dias e são investigados pela suspeita de "eventual facilitação de fuga e corrupção", conforme inquérito policial. 

Conforme a decisão, o afastamento se deu "por prática de atos incompatíveis com a função pública, visando à garantia da ordem pública, à instrução regular do processo administrativo disciplinar e à correta aplicação de sanção disciplinar".

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