O processo de imunização contra a Covid-19, no Ceará, teve início em janeiro deste ano, mais precisamente no dia 18. Quase 11 meses depois, apenas 12 dos 184 municípios do Estado têm 100% da população acima dos 12 anos imunizada com a segunda dose (D2).
A mais recente cidade a atingir essa marca foi a Capital. O anúncio foi feito pelo prefeito Sarto Nogueira na manhã desta segunda-feira (6). "Uma importante conquista do povo fortalezense na luta contra a pandemia", destacou o gestor em sua rede social.
Municípios que aplicaram D2 em 100% ou mais do público-alvo
- Fortaleza - 100%
- Aratuba - 100,87%
- Cariús - 111,88%
- Cedro - 101,32%
- Granja - 106,83%
- Guaraciaba do Norte - 101,26%
- Ipu - 151,96%
- Jaguaruana - 105,47%
- Pereiro - 102,11%
- Quiterianópolis - 100,43%
- Reriutaba - 105,76%
- Umari - 100,59%
Os dados são do Vacinômetro. A rápida e uniforme vacinação é considerada, por especialistas, prioritária para a contenção do vírus Sars-Cov-2 e sua consequente redução na transmissibilidade da pandemia.
"Não pode haver bolhas, ou seja, locais com cobertura abaixo das demais, isso acaba impactando o combate à pandemia como um todo", alerta o infectologista Ivo Castelo Branco.
Mas, por qual razão esse número de cidades a atingirem a totalidade do público vacinável ainda representa somente 6,5% das cidades cearenses? O que poderia ser feito para avançar esse processo?
Para Caroline Gurgel, virologista, epidemiologista e professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), um dos principais gargalos é garantir uma distribuição igualitária aos municípios e garantir mais acesso à informação à população.
"Considero existir uma falha na distribuição [das doses]. E, além disso, no Interior, nem todos conseguem ter acesso à internet. Isso tem um impacto na vacinação, pois muitos acabam não sabendo quando deverão ou deveriam se vacinar", ilustrou a especialista.
A coordenadora da Célula de Imunização da Secretaria da Saúde (Sesa) do Estado, Kelvia Borges, discorda. Conforme explica, todos os municípios cearenses recebem as doses de forma equivalente, "mediante o número de pessoas cadastradas no Saúde Digital". Ela detalha que, caso uma cidade tenha recebido proporcionalmente menos doses é por ter um menor contingente de pessoas cadastradas.
É importante que ocorra uma mobilização da população para que faça o cadastro no Saúde Digital. A distribuição aos municípios é feita de forma igualitária, considerando a base das pessoas cadastradas"
Baixo percentual
Caroline Gurgel avaliou ainda que este percentual "de apenas 6% de cidades com 100% das doses aplicadas é baixo e preocupante". Segundo ela, para uma proteção geral, é preciso "vacinar pelo menos 80% de toda a população".
O Diário do Nordeste questionou ao Conselho das Secretárias Municipais de Saúde do Ceará (Cosems-CE), sobre esse baixo índice de cidades completamente imunizadas.
O órgão também foi perguntado quantos aos meios que poderiam ser aplicados para acelerar o processo de vacinação. No entanto, até a publicação desta matéria, o Cosems não deu retorno.
Queda nos óbitos
O principal impacto da vacinação, segundo avaliam os especialistas, é a abrupta queda nas taxas de mortalidade. O imunobiológico reduz as chances de o paciente desenvolver quadros graves da doença e, consequentemente, cai o número de óbitos por decorrência da Covid-19.
Atualmente não há nada mais eficiente [para conter a pandemia] do que a vacinação e o uso da máscara.
Dos 12 municípios com percentual de população imunizada com D2 superior a 100%, a cidade de Cariús, na região Centro-Sul, é a que está há mais tempo sem registro de mortes. O último óbito, conforme o IntegraSus, aconteceu em 15 de junho.
Em seguida, estão os municípios de Pereiro (26 de junho), Reriutaba (17 de julho) e Cedro (27 de julho). Apenas Fortaleza registrou morte neste mês. A última aconteceu em 1º de dezembro.
Estes números, ainda de acordo com a virologista, estão diretamente ligados ao processo avançado de imunização. Conforme explica, "a vacina tem, comprovadamente, uma eficácia contra o avanço da pandemia. Ela consegue controlar as ondas e permite que a gente consiga viver com a pandemia a partir do momento que ela reduz as internações e consequentemente os óbitos".