Ipaumirim. Para o crente, a fé remove montanhas. A força de quem crê pode ser observada na disposição de Maria de Jesus Barbosa, 84, que, na manhã de ontem, subiu 204 degraus para assistir à missa celebrada às 7 horas da manhã, em frente à Pedra de São Sebastião, nesta cidade, na região Centro-Sul do Ceará. E ela fez mais: uma caminhada de dois quilômetros até chegar à escadaria.
O exemplo de dona Maria de Jesus não é único. Milhares de idosos e de jovens repetiram o gesto. Movidos pela fé, mais de 20 mil devotos participaram, nesta quarta-feira, da Romaria a São Sebastião, uma das maiores do Ceará, com festejos celebrados há 97 anos.
O templo nublado e ameno ajudou na celebração. Quase chovia. E por falar em chuva, foi o que mais se ouviu ontem dos padres e dos devotos. Preces para que o Ceará tenha, finalmente, uma boa quadra chuvosa. Mas o santo das chuvas não seria o padroeiro do Ceará, São José? O pároco de Ipaumirim, Sebastião Pedro do Nascimento, esclarece: "Todos os santos podem interceder".
Na homilia de ontem, o sacerdote tratou de defender a fé nos santos, a religiosidade popular. "O centro da nossa fé é em Deus, em Jesus, mas os santos nos fortalecem, nos defendem, são uma ponte para o Pai", disse. "Aqui é um centro de romaria, crescente a cada ano, graças ao carisma de São Sebastião" acrescentou o padre.
Centenário
Na celebração, foi lançado o tríduo preparativo para o centenário da festa, em 2019. Nos próximos anos, os temas destacados serão: fé, esperança e caridade.
Os devotos fazem caminhada de dois quilômetros, a partir do centro da cidade, até a Pedra de São Sebastião, e sobem 204 degraus. A movimentação começa cedinho, às 5 horas, e se estende até as 18 horas. Muitos pagam promessas, seguindo de joelho e de pés descalços. Outros colocam uma pedra na cabeça. É a forma de agradecer preces atendidas, de renovar pedidos.
A romaria atrai católicos do Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte e de outros Estados. Eliane Elias, 32, da cidade de Cajazeiras, na Paraíba, subiu a escadaria de joelhos, em agradecimento a uma prece alcançada. José Henrique da Silva, 85, seguiu a pé o percurso de dois quilômetros. Há mais de 50 anos que participa da festa. Maria Teodósio Fernandes, 72, disse que só faltou uma vez porque estava doente. Havia também caravana de Brasília, mas os grupos organizados vêm de cidades da Paraíba.
Às 10 horas, houve celebração de missa solene, na Igreja Matriz, e, no fim da tarde, procissão com o andor do santo pelas ruas da cidade, momento que reuniu mais de 20 mil fiéis. "A festa cresce a cada ano", disse Célia Oliveira. O vai e vem de carros e motos dificulta o trânsito na cidade.
O padre César Pamplona, das paróquias de Poço Dantas e Poço José de Moura, na Paraíba, reconhece o crescimento dos romeiros oriundos do Estado vizinho. "A explicação é a fé do povo, a devoção", disse. O sacerdote veio, neste ano, conhecer e participar da celebração.
No Ceará, São Sebastião é padroeiro das paróquias de Pedra Branca, Monsenhor Tabosa, Nova Olinda, Mangabeiras, Mulungu, Choró, Apuiarés e copadroeiro de Aquiraz e de Ipaumirim. O santo também é celebrado em centenas de capelas em distritos e vilas rurais do Interior do Estado. São exemplos, a vila de pescadores de Lima Campos (Icó) e os distritos de Barro Alto e José de Alencar (Iguatu).
A origem da romaria de São Sebastião em Ipaumirim, segundo a tradição oral, remonta a 1919. A moradora do Sítio Serrote, Maria Lúcia, devota do santo, fazia caminhada diária para a pedra e, como resultado de uma graça alcançada, colocou uma imagem no morro. Esse gesto é repetido até hoje.
Cada romeiro traz em seu coração um motivo para participar dos festejos. Fazer promessas, pagar graças alcançadas ou renovar pedidos pela intercessão de São Sebastião. Há muitos relatos de pedidos alcançadas. A maioria das narrativas pessoais fala de cura de doenças próprias ou de parentes.
Vida do Santo
A história conta que Sebastião era um militar romano que prestava serviço, em Milão, quando começou a perseguição do Imperador Diocleciano, no Império Romano, aos cristãos. Foi identificado como cristão. Detido, foi forçado a negar sua fé. Recusou. Condenado à morte, teve seu corpo crivado de flechas, mas não morreu. Foi condenado à morte uma segunda vez e morreu no ano de 303.
Mais informações:
Casa Paroquial da Igreja Matriz em Ipaumirim
Telefone: (88) 3567-1094
Prefeitura de Ipaumirim
Telefone: (88) 3567-1156