Penitentes fazem previsão

O fim do mundo está perto. Assim, os Ave de Jesus conclamam a humanidade a obedecer. Trata-se de um sacrifício

Juazeiro do Norte. O dia do juízo poderá chegar a qualquer momento. Essa profecia é certa na visão aos Ave de Jesus, segundo a missão abreviada. A irmandade, que há mais de 50 anos reside no bairro Tiradentes, em Juazeiro do Norte, segue a cartilha da missão abreviada. Em busca da salvação. A renúncia aos prazeres da vida, à peregrinação permanente, sem vaidades, faz parte desse caminho de senhores e senhoras.

Em pleno século XXI, após seis anos da morte do mestre José Ave de Jesus, fundador da irmandade, o grupo segue adiante com os seus ensinamentos. Alguns mais novos não seguem tão bem a cartilha dos mais velhos. São poucas as mulheres que usam vestidos azuis, mangas compridas e lenços brancos na cabeça.

O dia começa antes das cinco da manhã, com reza. O rosário é tirado pelo menos três vezes por dia. Pode parecer estranho para quem chega ao local perceber pessoas sóbrias, discretas que levam uma vida a pedir a Deus pela salvação.

Os homens também estão vestidos de azul. Para algumas pessoas, a seita inspirou os Borboletas Azuis, de Campina Grande, na Paraíba, fundada por Roldão Mangueira. Uma irmandade sobrevivente que, no início da década de 90, restavam apenas sete pessoas.

A denominação de todos os homens é José Ave de Jesus. As mulheres, Maria José Ave de Jesus. Todos pertencem a Deus. Mas há quem faça diferente. João José Ave de Jesus é um deles. Ele tinha João no nome de batismo. Afirma que o mestre falecido era um só. Por isso acrescentou o nome João.

Convicção

Os outros Josés parecem não concordar muito com isso. João José ao falar de suas convicções sempre diz “é o que penso, não sei os outros”. Com a missão abreviada nas mãos, afirma que é preciso seguir pelo livrinho para se salvar. Os mandamentos, orientando direitinho como cada um deve viver, vieram antes da Bíblia. Mas foram homens inspirados na luz divina. Os homens escreveram.

“O dia do juízo está chegando. É preciso que a humanidade se ligue nisso”. Esse é o aviso. Primeiro, veio a destruição das duas cidades, Sodoma e Gomorra, diz João José. Ficaram três ou quatro pessoas para contar a história. Depois o Dilúvio Universal.

E Noé, o homem pequenininho, procurou avisar a todos do fim dos tempos e salvou o quanto pôde. A mulher, três filhos e três noras. Levou todos na sua arca, construída em 100 anos, apenas oito pessoas. E agora, nos tempos da contemporaneidade, tudo continua da mesma maneira. Parece que poucos são aqueles que vão encontrar a salvação.

João José quer levar a missão abreviada para crianças. Tem planos de reunir numa escolinha 24 meninos. Primeiro, tem que conseguir os alunos, ao que parece, o mais difícil até agora. A idéia é levar os ensinos da missão abreviada. É o livro da palavra de Deus. “Daqui, a gente vai passando a missão abreviada para o Brasil e para outros países do exterior”.

Um certo José mais velho clama pela obediência. Noé é isso. É sinal de obediência. “Todo pecador precisa se salvar, com penitência, caridade e oração”. No mundo, têm dois chamando. Jesus, para o bem, e a besta para o mal. “Cabe a cada um saber o que vai seguir”, diz João. Cita o Padre Cícero, “bom tempo, por pouco tempo”. É sinal que ainda há chance.

O desprezo à carne tem explicações. As barbas e cabelos longos dos homens, mulheres dentro de casa a rezar e cuidar da família. Sem televisão ou rádio, e nem relógio para contar as horas. O tempo já tem dono. É enfeite, vaidade. Não entra em casa de Ave com relógio no pulso. A machadinha de Noé explica tudo. A casa de João não tem número. São letras VJMJ, que significam Vamos Viver com Jesus Maria José.

Três dias da semana é para guardar sem comer carne. Na quarta-feira, sexta e sábado isso é sagrado.

Para quem já morreu, resta passar pelo purgatório para se salvar. Ou pode ficar no céu ou inferno. Isso é dito por João. Assim, conforme ele, está no livro da “Machadinha de Noé”. É sinal dos tempos. São poucos anos. Depois dos 33 de Jesus a contar dois mil anos. Não tem dia nem hora marcada. Cabe a cada um se preparar.

A penitência diária faz desses homens seres obedientes em sua crença. O sacrifício como busca da salvação. É pelo caminho da pobreza. Jesus foi pobre, sacrificado, mas a diferença é que não tinha pecado. De dia pedem para sobreviver.

Penitência

As mulheres não saem para essa finalidade. Isso acontece bem cedo. Nas ruas de Juazeiro, em tempos de romaria, os penitentes saem rezando. Pedem esmolas. Chamam a atenção. Quantos são, não se sabe. Hoje pode ser um tanto, amanhã outro. Antes do anoitecer, às 17 horas, vem Maria José Ave de Jesus dar um boa noite. É hora de se recolher.