O Ceará é o maior produtor de caju do Brasil e a polpa e a castanha são apreciados para sucos e na culinária, além de serem ricos em vitaminas e outros nutrientes. Agora, um estudo do Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Ciência de Materiais, da UFC propõe o uso do líquido da casca da castanha-de-caju (LCC) na fabricação das superfícies de placas solares térmicas, com maior eficiência e menor custo de produção.
O objetivo é unir três vantagens: 1) aproveitar o subproduto da castanha, que há em excesso no Ceará e é descartado pela indústria; 2) a incidência forte de insolação ao longo do ano no semiárido nordestino e; 3) baratear o custo do coletor solar térmico – é o que propõe uma pesquisa em desenvolvimento na Universidade Federal do Ceará (UFC), no Laboratório de Filmes Finos em Energias Renováveis (LAFFER).
O estudo é uma iniciativa de Diego Pinho, em sua tese de doutorado. A pesquisa revelou resultados preliminares satisfatórios. “A nossa expectativa é positiva, a melhor possível”, pontuou Pinho.
A pesquisa, iniciada em 2017, é feita em parceria com o Laboratório de Energia Solar e Gás Natural (LESGN) da UFC. “O principal componente do coletor solar de placa plana é a superfície absorvedora, onde será depositado o LCC”, esclareceu o pesquisador. “Essa superfície feita com o LCC absorve a radiação solar e promove o aquecimento de um fluido, como água ou óleo”.
Uma das indicações do projeto é o uso em unidades de dessalinização – coletiva para atender uma comunidade ou familiar, cuja fonte de água é salobra e precisa tornar-se potável, por exemplo.
A pesquisa é orientada pelo professor Nivaldo Aguiar Freire e comprovou até o momento que o LCC é viável e funcionaria como alternativa visando reduzir custos das placas de aquecimento solares.
“Precisamos observar por um período maior de tempo, em condições ambientais, exposto a umidade e à luz solar, o funcionamento da superfície coletora da energia solar”, pontuou Pinho. “Poderão ser feitos aperfeiçoamentos para gerar resultados melhores”.
Perspectivas
Novos estudos podem ser realizados por outros estudantes, uma vez que, até março do próximo ano, a tese deverá ser defendida. “A pandemia de Covid-19 atrasou e dificultou novos testes porque as atividades presenciais foram suspensas”, explicou Diego Pinho.
Para o pesquisador, “o conhecimento gerado por esse projeto deverá ser transferido para o setor produtivo da energia solar térmica, reduzindo-se os custos para obtenção de uma energia limpa e sustentável”.
Ainda não foi feita análise de custo que indicaria redução de valor das placas térmicas com o uso do componente LCC em comparação com o modelo em uso atualmente – óxido de titânio e cromo.
Um pedido de patente deverá ser apresentado para o invento e posteriormente contatos com empresas deverão iniciados visando ao desenvolvimento do projeto.
A continuidade da pesquisa vai depender de professor-orientador e de interesse de outros alunos do curso de pós-graduação. No laboratório da UFC outras pesquisas também estão em andamento sobre a composição de placas coletoras de energia solar, substituindo os materiais atuais que são caros e de difícil manipulação.
Vantagens
De acordo com a pesquisa, o LCC (resíduo industrial da castanha) é um óleo negro e viscoso, obtido através do beneficiamento da amêndoa. No Brasil, a extração das amêndoas é feita por meio do cozimento, gerando LCC em grande quantidade.
De castanhas são produzidas no Ceará por ano, além do processamento de 45 mil toneladas de LCC – considerado um subproduto de baixo custo no mercado.
O fato do LCC ser descartado e ter baixo custo incentivou a pesquisa de doutorado de Diego Pinho. “A ideia era buscar um produto mais em conta para substituir as superfícies existentes dos coletores solares de placa plana, utilizados para a produção de energia solar térmica, que são feitas com óxidos, em grande parte, de cromo e titânio, que possuem alto custo e são materiais tóxicos”.