A taxa de reprodução da Covid-19 nos povos indígenas do Ceará, que indica o número de casos secundários gerados a partir de uma pessoa infectada, é superior a média nacional. Segundo Informe Epidemiológico da Secretaria Especial da Saúde Indígena (Sesai), um indígena cearense é capaz de transmitir a doença para mais de uma pessoa (1,49), enquanto a média nacional é de 1,43. O índice leva em consideração os registros de 23 de março a dia 13 deste mês.
Segundo o documento semanal, publicado nesta terça-feira (16), valores superiores a 1 indicam que há transmissão ativa da doença e que mais casos seguem sendo gerados. Já os inferiores a 1 apontam a redução da incidência da Covid-19 na população. No Ceará, a taxa de contágio geral (indígenas e não indígenas) atingiu, nesta semana, o menor valor (0,73) desde que o novo coronavírus passou a circular, oficialmente, no Estado.
Além disso, a taxa de incidência do Estado também é superior a nacional - de 383 infectados para cada 100 mil habitantes. Já no Ceará, o índice é quase duas vezes maior, representando 760,2 indígenas com o novo coronavírus para cada 100 mil pessoas. No País, as piores médias são resgistradas nas terras indígenas Kaiapó do Pará (2.289,2 para cada 100 mil habitantes) e Guamá-Tocantins (1.596,2 para cada 100 mil habitantes).
- Covid-19 já fez vítimas entre seis povos tradicionais do Ceará;
- 1ª morte por Covid-19 de indígena foi da etnia Pitaguary;
- Ação auxilia na segurança alimentar de povos indígenas no CE;
Casos em Indígenas
Segundo boletim da Sesai, entidade ligada ao Ministério da Saúde, o Ceará já contabiliza 234 casos confirmados do novo coronavírus em indígenas (109 infectados atualmente). Outros 121 registraram cura clínica - casos confirmados que passaram 14 dias em isolamento domiciliar a partir da data de início dos sintomas e, agora, estão assintomáticos; ou que precisaram de internação hospitalar e se recuperaram, conforme avaliação médica.
Além disso, outras 58 pessoas seguem em investigação. Nestes casos, o indígena apresenta sintomas respiratórios e saiu da aldeia e retornou nos últimos 14 dias de um local com transmissão da Covid-19. A outra possibilidade é registrada quando a pessoa apresenta sintomas respitórios e não saiu da aldeia, mas teve contato com suspeito ou confirmado de estar com a virose nos últimos 14 dias.
O Estado já registrou quatro óbitos por conta da doença, segundo a Sesai. A primeira morte foi de um indígena da etnia Pitaguary, na Grande Fortaleza. Uma outra vítima foi uma agente indígena de saúde, da etnia Tabajara, falecida em 10 de maio, no interior do Ceará. No último dia 8, a Secretaria Especial confirmou o falecimento de um indígena Tapeba, de 85 anos, e de um indígena Anacé, de 51 anos, ambas na Região Metropolitana de Fortaleza.
Em todo o País, são 3.345 casos confirmados (1.546 atualmente) e 467 suspeitos. Um total de 1.679 indígenas já se recuperaram da doença e 107 não resistiram.
Testes e Alimentos
Em reunião, ocorrida na última semana, quando foi criado um comitê que acompanhará as comunidades indígenas, o Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) Ceará, ligado a Sesai, informou que o Ceará já recebeu 1.580 testes rápidos para testagem do povo tradicional no Estado. O número equivale a um teste para cada 22 pessoas - o Ceará possui 35.757 indígenas em seu território, segundo o órgão.
Do total, 820 testes foram direcionados aos nove polos de saúde indígena, 140 para Itarema e 200 para Caucaia. Os dois municípios concentram o maior número de infectados do Ceará.
Também estiveram presentes no encontro virtual entidades ligadas aos povos indígenas, órgãos de saúde e Ministério Público do Ceará. Na ocasião, também foi anunciado que 30 mil máscaras chegarão ao Ceará até a próxima semana. Estas são ações propostas pelas Defensorias Públicas do Estado (DPE) e União (DPU). Na ocasião, foram recomendados 16 pontos para garantia na atenção à saúde indígena e segurança alimentar das populações tradicionais no Estado.
Nesta semana, a Secretaria da Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos (SPS) entregou cestas básicas à famílias indígenas da Grande Fortaleza. A ação faz parte de uma medida emergencial de socorro às aldeias, onde predominam atividades agrícolas, artesanais e pesca, prejudicadas devido o isolamento social. Um total de 9.222 cestas foram adquiridas pela Fundação Nacional do Índio junto a Companhia Nacional de Abastecimento e estão sendo distribuídas pela SPS.