'A realidade de secas extremas será cada vez mais recorrente no Ceará', alerta titular da SRH

O secretário de Recursos Hídricos, Francisco Teixeira, disse que o Estado tem se estruturado para uma convivência mais adequada com longos períodos de estiagem que, segundo ele, serão mais frequentes nos próximos anos.

A Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), em parceria com a Secretaria dos Recursos Hídricos, anunciou na manhã desta quarta-feira (20) que há 50% de probabilidade de as chuvas do próximo trimestre (fevereiro/março/abril) ficarem abaixo da média histórica. A divulgação deste prognóstico veio acompanhada de uma análise preocupante. Conforme o titular da SRH, Francisco Teixeira, os "eventos de seca serão cada vez mais recorrentes, cada vez mais extremos" no futuro.

Os últimos quatro anos foram de chuvas dentro ou acima da média no Ceará. No entanto, esse cenário não é regra. Entre 2010 e 2016, o Estado atravessou um de seus mais longos períodos de estiagem dos últimos cem anos. Em 2010, por exemplo, o acumulado no trimestre (fevereiro/março/abril) foi de apenas 257,7 milímetros, o pior índice das últimas duas décadas. Diante dessa recorrência de poucos volumes pluviométricos, Teixeira ressalta a necessidade de uma "preparação eficiente para que possamos conviver de forma cada vez mais adequada com a seca".

Essa estruturação passa por uma atuação multissetorial, com tentáculos em ações e estudos na Cagece, Cogerh, Funceme e na própria SRH. Teixeira destaca o "grande volume de poços perfurados nos últimos anos em áreas de maior criticidade", além de enumerar outras intervenções, como construção de açudes e adutoras, cujo objetivo é diminuir a dependência da chuva para o abastecimento humano, dessedentação animal e irrigação.

Expansão 

Três grandes projetos são tidos como "divisores de água" na gestão hídrica do Estado. O primeiro deles é a chegada das águas do Projeto de Integração do Rio São Francisco (PISF) que devem garantir substancial aporte ao Castanhão, maior açude do Ceará. O reservatório abastece mais de 4 milhões de pessoas. No entanto, não há previsão ainda de quando as águas do Velho Chico cheguem ao gigante cearense.

O outro é o projeto Malha D'Água, com a construção de redes de adutoras permanentes distribuídas pelo Estado. A obra, cujo investimento supera a ordem de R$ 5,5 bilhões, vai atender nove cidades e 38 distritos. O projeto prevê a captação e tratamento da água em estações instaladas nos açudes beneficiados. Depois, a água segue por dutos para outros reservatórios.

Segundo Teixeira, a licitação para construção de quase 700 km de adutoras está prevista para o próximo dia 9 de março, pela Procuradoria-Geral do Estado. "Esse é o grande projeto do Sertão", pontuou Teixeira. A Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) também já licitou, ainda segundo o titular da SRH, a construção da Planta de Dessalinização de Água Marinha na Região Metropolitana de Fortaleza.

A usina será construída no bairro Praia do Futuro, em Fortaleza, e terá capacidade de produção de 1 m³/s. Teixeira lembra que o projeto é importante "para evitar que se traga mais água do Sertão". A soma dessas ações, segundo especialistas, é o caminho mais assertivo para convivência com a seca. 

"Gestão eficaz na oferta e na demanda, e se aprimorando para termos uma infraestrutura hídrica cada vez mais robusta para poder atravessar esses períodos críticos, que serão mais extremos. É isso que todos os estudos de mudanças climáticas preconizam. Então temos que ficar atentos no presente, mas de olho também no futuro", analisou o secretário. 

Açudes

As consequências destes baixos volumes de chuvas incidem diretamente na redução de reservas de água dos maiores açudes – Castanhão, Orós e Banabuiú – assim como nas dezenas de médios reservatórios que são estratégicos para o abastecimento de importantes centros urbanos.  

A probabilidade de só 10% de chuvas acima da média para os próximos três meses no Ceará traz preocupação para os gestores dos recursos hídricos. O secretário executivo da SRH, Aderilo Teixeira, lembra que além de dificultar o abastecimento humano, o reduzido volume pluviométrico afeta a produção agrícola de grãos de sequeiro e de outras culturas, com perda de safra e de renda para os agricultores familiares.

“A maior parte do Ceará já sofre com a irregularidade da chuva desde 2012 com um pequeno alívio em 2019 e 2020, mas a escassez de água pode afetar novamente os principais reservatórios e esse prognóstico nos preocupa", alerta Aderilo.

Os dois anos (2019 e 2020) aos quais Aderilo se refere foram de chuvas acima da média neste trimestre que se inicia em fevereiro. No ano passado, o acumulado foi de 646 milímetros e, em 2019, segundo a Funceme, choveu 595,3 mm entre fevereiro e abril. Esses bons volumes, somados aos índices do restante da quadra chuvosa, que também foram generosos, conferiram boa recarga aos açudes cearenses.

O resultado pode ser visto no aporte hídrico atual dos 155 reservatórios monitorados pela Cogerh. Hoje, conforme o Portal Hidrológico do órgão, o percentual é de 25,04%. Considerando que há perca por evaporação até o início oficial da quadra (1º de fevereiro), os açudes deverão iniciar o período com o melhor volume dos últimos seis anos.

Cautela

Apesar de um cenário mais confortável e diante do prognóstico atual, o presidente da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), João Lúcio Farias, pede cautela na utilização do recurso. “É preciso ter o máximo de cuidado para não haver colapso” e evidenciou preocupação também com as “cinco sub-bacias do Jaguaribe e com os Inhamuns”. 

Essas regiões são justamente as que inspiram maior cuidado. O presidente da Funceme, Eduardo Sávio, destacou que há maior chance de chuvas abaixo da média na porção central e sul do Ceará.