Vereadores de Fortaleza articulam emendas impositivas e criticam baixa execução de verbas na gestão

Parlamentares reclamam que verbas para obras nos bairros são destinadas, mas prefeitura não executa no orçamento

Os vereadores de Fortaleza, na sessão desta quarta-feira (23), fizeram críticas à Prefeitura e ao próprio parlamento pela falta de execução das verbas que cada um tem direito para financiar obras nos bairros da Capital. A discussão uniu base e oposição na Casa, e abriu um debate para que as emendas possam se tornar obrigatórias. 

Cada um dos 43 vereadores têm direito, de acordo com a peça orçamentária votada a cada ano, a cerca de R$ 1 milhão para destinar para obras e projetos como postos de saúde, reformas de praça e construção de areninhas, por exemplo. 

A crítica, no entanto, é que mesmo previstas no orçamento, essas emendas são destinadas, mas, na prática, as obras não são executadas.

Membros da base e opositores ao prefeito José Sarto (PDT) se uniram nas críticas, e iniciaram a discussão no intuito de rever esses pontos na legislação. 

A ideia, de acordo com os vereadores, é que essa emenda passe a ser impositiva: obrigando o Executivo a viabilizar as iniciativas. Essa tentativa, no entanto, já foi feita anteriormente, em outra legislatura, mas foi considerada inconstitucional. 

Debate

Quem iniciou a discussão nesta quarta-feira foi Danilo Lopes (Avante). Ele foi seguido pelo vereador Márcio Martins (Pros), que é líder da oposição e fez críticas também ao próprio parlamento. 

“Essas emendas não servem de nada, são teatro. O prefeito acata se quiser, como outras indicações que a gente faz aqui. Isso depende de um parlamento acovardado que, durante várias gestões, não se impõe”, afirmou. 

O parlamentar destacou ainda que o debate torna-se oportuno na transição de gestão da Casa. No dia 1º de dezembro haverá a eleição da Mesa Diretora, a expectativa é que Gardel Rolim (PDT) se torne o próximo presidente.

Da base do governo e vice-presidente da Câmara, Adail Júnior disse que uma emenda impositiva “é um sonho” de todos os vereadores, mas ponderou que o assunto já foi pauta na Casa, e que houve um entrave constitucional. 

“Segundo o que nos chegou à época ela é inconstitucional, mas nós podemos levantar esse debate. A parte política teria que ter uma união”, ponderou. 

Constitucionalidade 

O vereador Jorge Pinheiro (PSDB) destacou a questão jurídica do processo. Ele citou um caso parecido em Porto Alegre, no qual a Justiça determinou a legalidade das emendas impositivas no município, desde que houvesse uma previsão na Lei Orgânica Municipal. 

É justamente esse movimento que os vereadores de Fortaleza se preparam para executar. O objetivo é alterar a Lei para que as emendas que já existem, por sua vez, sejam previstas no orçamento como execução obrigatória. 

A avaliação dos parlamentares é que essa mudança no dispositivo garantirá que obras “prometidas” aos eleitores nos bairros possam ser, de fato, executadas. 

Vice-líder do governo Sarto, Léo Couto (PSB) reiterou as críticas à gestão. Ele é o presidente da Comissão de Orçamento, e por isso tem direito a uma verba maior de emendas, em torno de R$ 2 milhões. 

“Pra que eu vou colocar? Só para dizer nas redes sociais? O que falta é a boa vontade política. O que não pode é enganar a população”, afirmou.

A prefeitura de Fortaleza e o líder do prefeito Gardel Rolim foram procurados, mas não responderam até a publicação da matéria.