O ex-advogado da Odebrecht, Rodrigo Tacla Duran, prestou um novo depoimento, nesta segunda-feira (27), na 13ª Vara Federal de Curitiba. Em declaração concedida ao novo juiz da Operação Lava Jato, Eduardo Fernando Appio, Duran acusa o senador Sérgio Moro (União Brasil-PR) e o deputado federal Deltan Dallagnol (Podemos-PR) de tentativa de extorsão.
Como a acusação feita envolve parlamentares - possuintes de foro privilegiado - o caso foi enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF). Duran é réu da Operação Lava Jato por lavagem de dinheiro para a empreiteira Odebrecht, enquanto Moro, ex-juiz, e Dallagnol, ex-procurador, estavam atuantes na força-tarefa da operação.
"Diante da notícia-crime de extorsão, em tese, pelo interrogado, envolvendo parlamentares com prerrogativa de foro, ou seja, deputado Deltan Dallagnol e o senador Sergio Moro [...] encerro a presente audiência para evitar futuro impedimento, sendo certa a competência exclusiva do Supremo Tribunal Federal", disso o juiz na audiência.
Tendo em vista o "grande poderio político e econômico dos envolvidos", Tacla Duran foi encaminhado ao programa federal de testemunhas protegidas.
SUPOSTA EXTORSÃO
O advogado alega que foi "alvo" da operação por não ter aceitado ser "extorquido". Segundo denúncias de Duran, lhe foi pedido US$ 5 milhões de dólares para que ele não fosse preso no âmbito da Operação Lava Jato.
Além de Deltan e Moro, Tacla Duran também citou o advogado Carlos Zucolotto Júnior, ex-sócio da deputada, e esposa de Sergio Moro, Rosangela Moro (União Brasil-SP), e Fabio Aguayo, que na época era presidente da Federação Paranaense de Turismo (Feturismo) e hoje atual como auxiliar parlamentar de Moro.
Ao Uol, em 2019, Duran disse que pagou "para não ser preso" uma parcela de US$ 612 mil dólares, no dia 14 de julho de 2016, para o escritório do advogado Marlus Arns, ligado a Zucolotto e Rosangela. Logo depois, ao não quitar o restante do acordo, ele teria tido a sua prisão preventiva decretada por Moro.
O advogado entregou à Justiça fotos e gravações que, supostamente, confirmariam suas acusações.
DEFESA DE MORO E DELTAN
Em nota, o senador Sergio Moro afirmou que “não teme qualquer investigação, mas lamenta o uso político de calúnias feitas por criminoso confesso e destituído de credibilidade”.
“Trata-se de uma pessoa que, após inicialmente negar, confessou depois lavar profissionalmente dinheiro para a Odebrecht e teve a prisão preventiva decretada na Lava Jato. Desde 2017 faz acusações falsas, sem qualquer prova, salvo as que ele mesmo fabricou. Tenta desde 2020 fazer delação premiada junto à Procuradoria Geral da República, sem sucesso. Por ausência de provas, o procedimento na PGR foi arquivado em 9/6/22”
Já o deputado federal Deltan Dallagnol criticou a realização da audiência e terminou chamando o juiz Appio de "lulista" e "midiático".
"Adivinha quem acreditou num dos acusados que mais tentou enganar autoridades na Lava Jato? Ele mesmo, o juiz lulista e midiático Eduardo Appio (mais conhecido como LUL22), que nem disfarça a tentativa de retaliar contra quem, ao contrário dele, lutou contra a corrupção", diz Deltan.
Ele faz referência a notícia de que Appio teria adotado a sigla "LUL22" como identificação eletrônica no sistema da Justiça do Paraná, o E-proc, entre 2021 e o início deste ano.
QUEM É TACLA DURAN?
Tacla foi advogado da Odebrecht e, conforme a investigação, admitiu ter emprestado contas de empresas dele no exterior para a movimentação de recursos que a companhia matinha em paraísos fiscais do Caribe.
Em 2016, ele teve a prisão preventiva decretada pelo juiz Sergio Moro sob acusação de envolvimento em um esquema de lavagem de dinheiro. Ele chegou a ser preso, em 2016, em Madri, capital da Espanha.
Ele recorreu à Justiça espanhola para permanecer no país do velho continente. Duran passou três meses preso e conseguiu liberdade provisória. A Justiça brasileira chegou a pedir a extradição dele, que foi aceita inicialmente, mas depois revogada uma vez que o Brasil não concordou em, em troca, extraditar presos espanhóis para o país.
No último dia 16, Tacla Duran teve seu pedido de prisão preventiva revogado pelo juiz Fernando Appio. Até então ele era considerado foragido da justiça brasileira.
A decisão ocorreu com base em uma determinação de Lewandowski, que suspendeu cinco processos da Lava Jato que utilizaram provas concedidas por delatores da Odebrecht.
“O cidadão Tacla Duran tem, a meu ver, o direito de exercer seus direitos de defesa (devido processo legal substantivo) em liberdade, até que sobrevenha eventual condenação (até porque se encontra hoje amparado em recentíssima decisão do Egrégio Supremo Tribunal)”, anotou Appio.
Na semana passada, Appio determinou a repatriação de 3,5 milhões de dólares guardados em duas contas na Suíça em nome de Duran. O dinheiro deve ser devolvido aos cofres da Petrobras.