Série Influências Partidárias: a história do União Brasil, presidido por Capitão Wagner, no Ceará

Na primeira reportagem da série “Influências Partidárias”, o Diário do Nordeste conta a história do União Brasil, partido que reúne o maior número de opositores ao grupo governista no Ceará

Partido mais recente criado no Brasil, o União Brasil já nasceu nacionalmente como uma das maiores agremiações. No Ceará, não foi diferente. A legenda, comandada no Estado pelo ex-deputado federal Capitão Wagner, foi alvo de disputa antes mesmo de sua estreia nas urnas. Atualmente, a sigla reúne quatro deputados federais e outros quatro estaduais, além de ter na liderança o principal nome oposicionista do Estado. 

O partido surgiu da fusão de outras duas siglas: o PSL e o DEM. As duas legendas aprovaram a junção em 6 de outubro de 2021 e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) homologou a nova agremiação em 8 de fevereiro de 2022. Já nos primeiros meses, foram mais de um milhão de filiados, além de 81 parlamentares na Câmara dos Deputados e sete senadores.

VEJA A ENTREVISTA COM CAPITÃO WAGNER:

As duas siglas resolveram tirar a fusão do papel logo após um momento de bom desempenho eleitoral. O PSL foi o partido que abrigou o ex-presidente Jair Bolsonaro no pleito de 2018, quando ele chegou ao comando do Executivo nacional. Já o DEM, antigo PFL, chegou a comandar a Câmara dos Deputados, sob gestão de Rodrigo Maia, e o Senado, com Davi Alcolumbre, o que atraiu muitos nomes influentes ao partido.

Na primeira reportagem da série “Influências Partidárias”, o Diário do Nordeste conta a história do União Brasil — partido que reúne o maior número de opositores ao grupo governista no Ceará — e entrevista, na live do PontoPoder, o presidente da sigla, Capitão Wagner. A conversa inaugura uma série de entrevistas com dirigentes partidários a pouco mais de um ano das eleições de 2024.

Disputa no Ceará

No Estado, a disputa pela nova legenda envolveu o ex-deputado federal Capitão Wagner, e o então suplente de senador Chiquinho Feitosa (Republicanos), empresário influente tanto no Estado quanto em Brasília. Na disputa, Chiquinho contava com apoio da ampla base governista no Ceará. Contudo, em articulação com o presidente nacional do União Brasil, Luciano Bivar, Wagner conseguiu firmar um acordo para chefiar a sigla.

Foi com a demonstração de influência já na disputa pelo comando da sigla que Wagner e seus aliados se prepararam para o pleito do ano passado, quando ele disputou o Governo do Ceará. Recém-empossado presidente estadual da legenda, Wagner não assumia qualquer partido, mas aquele que, nacionalmente, era naquele momento a maior sigla do País em número de parlamentares.

Recursos eleitorais

Com tantos quadros na Câmara e no Congresso, o reflexo prático em recursos ocorreu principalmente durante as eleições. Dos R$ 4,9 bilhões do Fundo Eleitoral destinado aos partidos no ano passado, R$ 758 milhões foram para o União Brasil, uma fatia de 15% do montante.

Quem mais se aproximou foi o PT, que somou R$ 500 milhões, equivalente a 10% do total.

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A maior fatia do Fundo Partidário também foi para o União Brasil no ano passado. O valor é repassado mensalmente às siglas para o custeio de despesas cotidianas como pagamento de salários de funcionários, contas de água e luz, passagens aéreas, aluguéis, entre outras. No ano passado, a sigla recebeu R$ 166,7 milhões.

Primeira eleição do União Brasil

No Ceará, Wagner, à época, também se beneficiou com o amplo tempo de propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão, totalizando 3min50s de tela, mas essas vantagens não se refletiram nas urnas. O oposicionista acabou derrotado por Elmano de Freitas (PT) ainda no primeiro turno, ficando em segundo lugar no pleito. 

Por outro lado, na disputa pelo Legislativo o resultado foi melhor para a sigla. Quatro deputados federais e quatro estaduais foram eleitos pelo União Brasil. Desempenho que até hoje é comemorado pelo grupo, como aponta Wagner.

“De fato, o União Brasil começou grande e a eleição de 2022 consolidou ainda mais os bons resultados. Temos quatro deputados federais e quatro estaduais. Acreditamos que na eleição do próximo ano vamos eleger vereadores, prefeitos e vices. É uma sigla que tem um peso político grande, está entre as maiores bancadas federais e estaduais, por isso acreditamos que teremos um bom resultado nas eleições de 2024”
Capitão Wagner
Presidente do União Brasil no Ceará

Líder da sigla na Assembleia Legislativa do Ceará, Sargento Reginauro atribui o bom resultado justamente à liderança do correligionário.

“Temos a vantagem de ter caído na mão de um político com experiência, que já tinha sido responsável pela montagem de chapas, no Pros, e que acabou atraindo pessoas de outros partidos, como o Moses Rodrigues, o Danilo Forte, e o Roberto Pessoa, então o Capitão Wagner acaba congregando um elenco de lideranças que facilitaram a consolidação do União Brasil”, destaca.

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Com oito parlamentares eleitos no pleito de 2022, a sigla tem ampla atuação na oposição no Ceará. Contudo, alguns parlamentares se aproximaram do Governo do Estado após a vitória de Elmano de Freitas. Entre eles, a deputada federal Fernanda Pessoa (União) e o deputado estadual Firmo Camurça, que mantêm uma relação histórica com alas do PT por conta de Roberto Pessoa (União), prefeito de Maracanaú e líder político desse grupo.

O presidente do União Brasil no Ceará minimiza essas diferenças internas na sigla. 

“União Brasil é um partido de centro, temos parlamentares de centro-direita, mas a grande maioria está bem localizada no espectro do centro. Aqui, no Estado, por eu fazer oposição e o governo ser de esquerda, o pessoal quer rotular o partido, mas é um partido que tem diversas vertentes, temos um diálogo muito bacana com todos os parlamentares”, comenta.

Reginauro também relativiza os “casos pontuais”.

“Nascemos como uma das maiores bancadas, porém, dos quatro, temos o Dr. Oscar fazendo uma oposição pontual e o Firmo, que não tem somado nessa perspectiva da oposição por uma conjuntura local que o partido tem respeitado, tanto a posição dele quanto da deputada federal Fernanda Pessoa”
Sargento Reginauro
Líder do União Brasil na Alece

Deputada federal eleita pelo partido, Fernanda coloca a sigla longe da oposição. “Nosso partido cresceu bastante, fizemos quatro deputados estaduais e quatro federais, sendo duas mulheres. Não vejo o União Brasil como oposição. Vejo parlamentares buscando melhores condições de vida para o povo cearense. Não concordar muitas vezes não significa ser oposição”, disse em nota enviada à reportagem.

A nível nacional, o União Brasil saiu da eleição do ano passado com oito senadores, quatro governadores, dois vice-governadores, 59 deputados federais, 98 estaduais, além de 592 prefeitos e 5,2 mil vereadores no Brasil.

Eleições 2024

Diante do bom desempenho no Estado e nacionalmente, os parlamentares cearenses se mostram otimistas para as eleições do próximo ano. Capitão Wagner, inclusive, destaca o papel que os deputados eleitos irão assumir na campanha. 

“Sem dúvida nenhuma os mandatos dos deputados fortalecem muito as candidaturas em 2024, tanto para os vereadores quanto para os candidatos a prefeito e vice-prefeito. Isso não só pelo apoio político, mas também pela questão da definição do fundo eleitoral. O partido deve estabelecer critérios onde cada parlamentar vai poder fortalecer suas bases, isso ajuda politicamente e financeiramente a viabilizar as campanhas”, conclui.

“O último pleito fortaleceu o partido para trabalhar câmaras municipais e prefeituras. Quem acompanha nosso trabalho em Brasília, vê uma parlamentar atenta às demandas da população. Sou do União Brasil e recebo diversos prefeitos, parlamentares e lideranças no gabinete. A seriedade no trabalho e o compromisso com o cidadão é que vai fazer toda a diferença no pleito que se aproxima”
Fernanda Pessoa
Deputada federal pelo União Brasil