Relatório da PF sobre tentativa de golpe: veja frases que indicam investida contra Estado

Documento teve o sigilo retirado, nessa terça-feira (26), após decisão do ministro Alexandre de Moraes

Após ter o sigilo derrubado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, o relatório da Polícia Federal (PF) que investiga a tentativa de golpe contra o Estado Democrático de Direito se tornou acessível nessa terça-feira (26). No documento, que indiciou Bolsonaro e mais 36 acusados, os investigadores detalharam que suspeitos usaram frases como: "Lula não sobe a rampa"; "anulação das eleições"; e "substituição de todo TSE".

Os termos citados acima foram encontrados especificamente em uma mensagem manuscrita apreendida pela corporação na sede do Partido Liberal (PL). Nela, o autor propõe ações para interromper o processo de transição de governo, “mobilização de juristas e formadores de opinião”.

O documento encerra com o texto “Lula não sobe a rampa”. Segundo a PF, em uma clara alusão ao impedimento de que o vencedor das eleições de 2022 assumisse o cargo da presidência.

O material apreendido na mesa do assessor do general Walter Braga Netto, coronel Peregrino, faz um esboço de ações planejadas para a denominada “Operação 142”. O nome dado ao documento faz alusão ao artigo 142 da Constituição Federal que trata das Forças Armadas e que, segundo a PF, era uma possibilidade aventada pelos investigados como meio de implementar uma ruptura institucional após a derrota eleitoral do então presidente Bolsonaro.

Segundo a corporação, outros tópicos do documento trazem siglas e jargões próprios do militarismo como “CG Pol” (Centro de Gravidade Político), com a descrição de medidas autoritárias, “que demonstram a intenção dos investigados em executar um golpe de Estado para manter o então presidente Jair Bolsonaro no poder”, diz o relatório.

Termos como “Anulação das eleições”, “Prorrogação dos mandatos”, “Substituição de todo TSE" e “Preparação de novas eleições” foram encontrados no documento apreendido na sede do PL.

Investigados fizeram alusão ao Golpe de 1964

Ainda conforme o relatório da PF, aliados de Jair Bolsonaro reclamaram da espera por um decreto do ex-presidente para iniciar o golpe.

"64 não precisou de ninguém assinar nada...”, escreveu o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, em mensagem para o tenente-coronel do Exército Sergio Ricardo Cavaliere de Medeiros. Segundo a PF, o decreto chegou a ser preparado, mas o golpe não ocorreu principalmente pela falta de apoio do Alto Comando do Exército.

No diálogo entre os dois, Cavaliere reclama da não efetivação do golpe:

“Fomos covardes, na minha opinião”. Mauro Cid concorda e acrescenta: “Fomos todos. Do PR e os Cmt F”, abreviações que, conforme a PF, se referem ao então presidente da República, Jair Bolsonaro, e aos Comandantes das Forças Armadas. Cavaliere replica: “PR também”, “estamos f...”.

É nesse contexto, que Cid relembra o golpe militar de 1964:

“O problema é que muita gente garganta demais...”; “64 não precisou de ninguém assinar nada...”, disse.

Cavaliere discorda sobre a comparação e diz que era preciso alguém tomar a iniciativa do golpe naquele momento. “64 estavam na mesma embromação; até que 1, apenas 1, surtou e botou a tropa na estrada; daí o efeito cascata; o primeiro que colocar os cães na rua leva o resto; a revolta está imensa”, afirmou na troca de mensagens.

No total, 37 pessoas foram indiciadas pela Polícia Federal por golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito.

Conforme o relatório da investigação, o grupo criminoso atuou para desacreditar o processo eleitoral. E chegou a planejar o assassinato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do vice Geraldo Alckmin e do ministro do STF Alexandre de Moraes. Os indiciados se organizaram em seis núcleos para colocar em prática as ações para desestabilizar a democracia brasileira.