Um dia após comandar o recuo do PSDB em apoiar a candidatura de Roberto Cláudio (PDT) ao Governo do Ceará, o ex-presidente da sigla no Estado, Chiquinho Feitosa, disse esperar que o senador Tasso Jereissati (PSDB) não leve a divergência para o campo pessoal.
O receio se dá porque o ex-governador anunciou apoio ao PDT no início da semana, mas a orientação não foi seguida na convenção da sigla realizada na última quinta-feira (4).
Em sinal de maior tensionamento na relação entre Chiquinho e Tasso, uma decisão da direção nacional da federação PSDB/Cidadania determinou a destituição de Chiquinho da função de presidente da sigla no Ceará. Em coletiva de imprensa na tarde desta sexta-feira (5), Chiquinho aguardava notificação oficial sobre a mudança e falou sobre a relação com o senador, do qual é suplente.
“Eu tenho um imenso apreço por ele (Tasso) e eu espero que esse assunto fique restrito ao campo político, que não chegue ao campo pessoal”
Entenda o caso
Ao comunicar que o PSDB reforçaria o arco de aliança de Roberto Cláudio, Tasso afirmou que a decisão foi tomada "em coerência com o nosso legado de realizações", por reconhecer no ex-prefeito de Fortaleza "a competência, a experiência administrativa e o compromisso com esses ideais".
Já na última quinta-feira (4), a convenção da sigla com o Cidadania aprovou, na verdade, a posição de neutralidade para o pleito deste ano. Por maioria, o colegiado decidiu que a federação dos partidos não iria fazer coligação para a disputa majoritária, nem para Governo nem para o Senado, indo de encontro ao que foi anunciado pelo cacique tucano.
A decisão gerou bate-boca e gritaria na Assembleia Legislativa do Ceará, onde ocorria a convenção. Poucas horas após a convenção, o presidente nacional da federação, Bruno Araújo, emitiu uma resolução determinando que a coligação com o PDT seja confirmada no Ceará.
Paralelamente, lideranças do Cidadania e do PSDB, insatisfeitas com a conduta de Chiquinho, iniciaram movimentos para destituí-lo da função no Ceará. Nesta sexta-feira (5), o senador Tasso Jereissati, inclusive, realizou nova convenção da sigla para confirmar apoio a Roberto Cláudio. No evento, também foi lançado o empresário Amarílio Macêdo como candidato ao Senado na chapa de Roberto Cláudio.
À tarde, Chiquinho disse que não foi informado oficialmente sobre seu futuro no comando do partido ou da federação.
“Me dou muito bem com o presidente (nacional da federação e do PSDB) Bruno Araújo. Não estou fazendo nada... Se eu estivesse, por exemplo, fazendo uma coligação com o PT, tendo em vista que há uma resolução que proíbe isso, mas não fiz. Não sei o que que justifica”, ressaltou Chiquinho.
“Ainda não fui comunicado da destituição da comissão provisória da federação, enquanto não for comunicado, vou registrar a ata dentro do que prevê os estatutos da federação e continuar no meu propósito em relação ao PSDB”, acrescentou.
De acordo com o presidente da Comissão de Direito Eleitoral da OAB-CE, Fernandes Neto, a legislação eleitoral exige que a ata seja enviada ao TSE até 24 horas após a convenção – e que os candidatos sejam definidos até o dia 5 de agosto.
"Se o PSDB fizer uma nova convenção e enviar até sábado, o que fica valendo é essa. Para que não sirva vão ter que entrar com uma ação, com recurso, vai ao TRE-CE... Esse mesmo assunto pode ser discutido na hora do registro da coligação"
Bate-cabeça
Ele disse ainda que sempre manteve diálogo com o senador Tasso e com o ex-presidente do PSDB, Luiz Pontes. O político lembrou quando foi convidado a ser suplente de Camilo Santana (PT) na chapa para o Senado Federal.
“Quando conversei com o Camilo para aceitar o convite, o senador Tasso me sinalizou positivamente, foi assim que aconteceu. Não fui desautorizado quando tratei com o Camilo, eu tratei autorizado. Mesmo declinando o convite, assumimos o compromisso de apoiar o Camilo como candidato a senador, mesmo que fosse sem coligar oficialmente”, contou o tucano.
Segundo Chiquinho, a ideia foi rejeitada depois por Tasso para evitar uma aliança entre PT e PSDB, partidos historicamente adversários.
“Tivemos uma reunião na sexta-feira passada, Tasso, Luiz Pontes e eu, fiquei na expectativa de uma nova reunião na segunda-feira, mas acabei surpreendido com o anúncio do senador de que o PSDB iria apoiar Roberto Cláudio. Eu fui tomado de surpresa”
Ainda de acordo com ele, parlamentares da sigla pressionaram pela neutralidade. “Foi aí que, com tudo previsto em edital, realizamos a convenção às 16 horas, na Assembleia Legislativa do Ceará, no auditório Murilo Aguiar”, concluiu.
Na tarde desta sexta-feira, no final da coletiva de Chiquinho, foi oficializada a nova comissão provisória do PSDB no Ceará, sob comando de Tasso.