Qual o histórico do Psol na disputa pela Prefeitura de Fortaleza

O partido oficializa a candidatura de Técio Nunes neste domingo (4)

O Partido Socialismo e Liberdade (Psol) se prepara para mais uma eleição para o comando da Prefeitura de Fortaleza e para mandatos na Câmara Municipal de Fortaleza (CMFor). A legenda vai realizar, neste domingo (4), um evento que irá oficializar os nomes do produtor cultural Técio Nunes (Psol) e da ambientalista Cindy Carvalho (Rede) para o Executivo e de uma chapa de postulantes para o Legislativo. 

A sigla, fundada em 2004, a partir de uma dissidência de membros do Partido dos Trabalhadores (PT), e registrada oficialmente pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no ano seguinte, concorrerá pela quinta vez a um pleito municipal na capital cearense.

Neste ano, o Psol terá uma novidade: a federação com a Rede Sustentabilidade (Rede), com quem compõe a majoritária. A Unidade Popular (UP) também fará parte da coligação, conforme anunciou a legenda na última sexta-feira (2). 

 

Um dos principais desafios é o aumento da bancada de vereadores, composta atualmente por duas cadeiras. Além disso, o processo interno de escolha de Técio Nunes como o representante do partido nas urnas gerou um desgaste entre tendências internas do Psol, que agora terá que buscar uma unidade em torno do candidato e viabilizar uma campanha com a plena participação de lideranças relevantes no cenário político de Fortaleza.

Em fevereiro deste ano, quando Nunes foi anunciado pré-candidato, a direção partidária justificou o lançamento da pré-candidatura como parte de um encaminhamento do diretório nacional, que prezou pela autonomia do Psol nas unidades da federação. No âmbito estadual e nacional, a sigla compõe a base do governo Elmano de Freitas (PT) e integrou a frente ampla que elegeu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Para essa eleição, a Direção Nacional irá contar com um montante de R$ 126,8 milhões do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC), o chamado Fundo Eleitoral, para repartir e bancar campanhas eleitorais em todo o Brasil. 

Histórico na eleição municipal

A primeira vez em que o Psol disputou a Prefeitura de Fortaleza foi em 2008, coligado ao PSTU, com os nomes de Renato Roseno (Psol) e Francisco Gonzaga (PSTU). O grupo saiu derrotado para a chefia do Município, ficando com a 4ª posição, mas elegeu João Alfredo para a CMFor.

Em 2012, o partido lançou chapa novamente, encabeçada por Renato Roseno. A também psolista Soraya Vanini foi a candidata a vice-prefeita. O Partido Comunista Brasileiro (PCB) compôs aquela coligação. Apesar de derrotados, ficando na 5ª posição pela prefeitura, os psolistas ampliaram o número de cadeiras na Câmara, reelegendo João Alfredo e elegendo Toinha Rocha pela primeira vez. 

Na eleição seguinte, a de 2016, o então vereador João Alfredo foi o escolhido pelo diretório municipal do Psol Fortaleza como postulante para o posto de candidato a prefeito. Raquel Lima (PCB) foi indicada como vice. A chapa terminou na 5ª colocação para o Paço Municipal.

Em 2020, o Psol amargou o pior resultado da sua série histórica de disputas para o Executivo municipal, ficando em 6º lugar. A chapa apresentada aos eleitores era composta por políticos conhecidos de outras corridas eleitorais: o psolista Renato Roseno e a comunista Raquel Lima — respectivamente, candidatos a prefeito e vice. A bancada da Câmara foi renovada, com a eleição de Gabriel Aguiar e do coletivo Mandata Nossa Cara, representado pela vereadora Adriana Gerônimo.

Articulações para a eleição

Provocado a falar sobre a estruturação para a campanha que se aproxima, o presidente estadual do Psol CearáAlexandre Uchoa, que também é o responsável por presidir a federação PSOL-Rede, preferiu se abster. De acordo com ele, os assuntos relacionados à Capital estão sendo tocados pelo presidente municipal e pré-candidato, Técio Nunes, e por Gabriela Gomes, presidente da federação em Fortaleza.

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Apesar de sucessivas tentativas, não obtivemos resposta de Técio. Quando da sua escolha como pré-candidato, no início do ano, ele disse qual a agenda programática do projeto político encampado pelo seu grupo: “Nossa tarefa é fazer uma disputa qualificada e política. Principalmente, empoderando as periferias”. 

O deputado estadual Renato Roseno, candidato em três eleições municipais para a Prefeitura de Fortaleza, disse que o foco agora é apresentar o programa político para a cidade e a chapa de vereadores e vereadoras que irão representar a federação no pleito. Na visão de Roseno, os “mandatos do Psol na Câmara Municipal são imprescindíveis para a cidade”.

R$ 126,8 mi
é a quantia que o Psol terá do Fundo Eleitoral para o financiamento de campanhas em todo o país

Roseno é de uma tendência diferente da que venceu a disputa interna e indicou Técio como pré-candidato. O grupo do deputado apoiou a professora Maya Eliz para a missão. Ela, no entanto, deverá concorrer ao Legislativo. Questionado sobre a unidade partidária, o político afirmou que irá participar da campanha com Nunes, por ser o candidato da sua legenda. 

Ele fez ainda uma leitura da formatação desta eleição. “Está muito mais imprevisível e permanece nossa tarefa de vencer a extrema-direita. A extrema-direita continua sendo nossa maior ameaça à democracia e ao projeto de sociedade justa que defendemos”, mencionou Renato Roseno.

Mudanças de composição

Além da busca pela unidade, os psolistas terão, este ano, baixas na chapa de postulantes aos cargos eletivos proporcionais. Integrantes conhecidos do eleitorado não vão se lançar para o pleito, ocasionando uma perda de votos para a nominata. Estão nessa lista nomes como o do ativista Ari Areia, da secretária estadual de Juventude Adelita Monteiro, do ex-vereador João Alfredo e do suplente de deputado estadual Léo Suricate.

Interlocutores apontam que há uma desagregação no partido, causada por discordâncias. Desde a janela partidária, nomes do partido estariam encontrando dificuldades para montar a chapa de vereadores devido a movimentações de tendências de oposição. A versão, entretanto, foi negada pelos entrevistados do Diário do Nordeste. 

Uma delas foi a suplente de vereadora e pré-candidata Anna Karina. Ela, apesar de lamentar a ausência de correligionários na chapa, aponta que isso não se deve a conflitos internos no partido, porque, em suas palavras, “já existiam” desde sua filiação, em 2017, e que, portanto, “não são divisões de agora”.

Comparando o desenho prévio de pré-candidaturas de 2020, que ela caracterizou como uma “composição de chapa muito forte”, Karina avalia que não estarão “tão fortes”, mas ponderou que, devido à conjuntura, há um favorecimento do Psol. Na interpretação dela, a atuação do partido junto a movimentos grevistas e sociais recentes pode fortalecer a posição do seu partido.

Pré-candidata à reeleição, a vereadora Adriana Gerônimo também minimizou o impacto das divergências na estruturação partidária. “Temos nossas diferenças internas, mas, no momento eleitoral, estamos defendendo a bandeira do Psol. Isso unifica, para a gente fazer uma campanha saudável, de unidade”, frisou, defendendo que o intuito é mostrar o projeto que estão preparando para a cidade. “Esse ano temos um cenário em Fortaleza que aponta o Psol como uma alternativa de esquerda”, ressaltou.

Espaços de discussão

Também pré-candidato à Câmara Municipal, Ailton Lopes, que já foi candidato ao Executivo estadual pelo partido, disse que os temas relativos ao município estão sendo debatidos em ciclos programáticos, de modo que essa estratégia está discutindo propostas e também ouvindo a população sobre suas demandas. 

Ele também defendeu a ideia de que o Psol será um caminho à esquerda para os eleitores fortalezenses e reforçou que a ampliação da chapa de vereadores é prioridade. 

Regras de financiamento próprias, afirmou Lopes, permitem um direcionamento justo para as candidaturas. Parte do recurso, inclusive, vem da direção nacional. “O Psol, até agora, tem se mantido coerente nessa linha, com relação ao financiamento”, adicionou.

O regramento mencionado fará com que candidatos com mandato tenham direito a uma fatia maior do volume de verba para o financiamento das campanhas. O entendimento da sigla, acrescentou o entrevistado, é de que há a necessidade de reeleger estes políticos. 

Além de Nunes, procuramos a candidata a vice-prefeita Cindy Carvalho, o vereador Gabriel Aguiar, a titular da Secretaria de Juventude do Ceará, Adelita Monteiro; e o porta-voz da Rede no Estado, Adriano Pessoa. Não houve nenhuma devolutiva até o fechamento desta matéria. O conteúdo será atualizado caso haja um retorno.