Qual a importância do vice? Partidos já articulam indicação de nomes para o Governo do Ceará

PT e PSD querem indicar um vice em chapa com PDT, Psol aguarda definições sobre federação, e União ensaia nomes

Uma movimentação nos bastidores da política cearense já está em curso para a escolha dos candidatos que disputarão a vaga de vice no comando do Governo do Estado. Base e oposição já cogitam nomes, traçam estratégias e se articulam para compor a chapa. No cálculo, conta a influência política dos pré-candidatos, tamanho das bancadas e a articulação nas cidades do interior.   

Faltando cerca de seis meses para o dia da eleição em 2022, os dirigentes dos maiores partidos no Ceará não escondem a intenção de compor a chapa majoritária e falam abertamente sobre o assunto. 

Nas últimas semana,s a figura da vice-governadoria ganhou ainda mais simbologia, uma vez que Izolda Cela (PDT), após sete anos e três meses, deixou a função para assumir, pela primeira vez na história, o cargo de governadora efetiva do Ceará.

Para além da importância constitucional do cargo, especialistas ouvidos pelo Diário do Nordeste avaliam que a posição de vice, na conjuntura atual, não é decorativa.

Segundo a avaliação, a escolha para compor chapa majoritária passa por uma composição de alianças que levam em conta acordos e interesses partidários, além de uma possibilidade real de que os vices assumam o comando do Executivo, de forma temporária ou não.

Nesse contexto, partidos como PT, PSD, Psol e União Brasil, já estabelecem conversas internas para escolher um nome competitivo. Essa decisão, porém, deve ser tomada em acordo com as demais siglas que poderão compor a coligação. 

"Falar de vice é falar de coalisão [...], esse lugar é cobiçado porque o vice exerce a função de Chefe do Executivo. A depender de quem são esses nomes, um vice pode assumir função de protagonismo e a ideia é essa. São papeis importantes dentro do que se pensou para o projeto político", destaca a Cientista Política Monalisa Torres, da Universidade Estadual do Ceará (UECE).  

União Brasil já indica nomes  

Pré-candidato a governador pelo grupo de oposição, Capitão Wagner (União Brasil) é o único no jogo político cearense a mencionar publicamente alguns nomes que poderão compor uma candidatura de vice.  

Em um dos encontros do União Brasil, no dia 1ª de abril, ele afirmou que ainda não é o momento da decisão, e que o partido deverá anunciar uma posição em junho. Wagner, porém, fez questão de mencionar alguns quadros que estão na concorrência. 

“Nós estamos felizes porque, diferente de outras ocasiões, hoje temos várias opções. Temos o Dr. Lúcio Alcântara (ex-governador), temos o Oscar Rodrigues, o nosso amigo Bender, de Juazeiro, o Luizinho Girão e nomes ligados a outros partidos”.  
Capitão Wagner
Deputado Federal

O empresário Gilmar Bender é um antigo aliado dos irmãos Ferreira Gomes, que em 2020 entrou em rota de colisão como o PDT, onde era filiado, por não ter a legenda na disputa pela prefeitura de Juazeiro do Norte. Bender decidiu apoiar Glêdson Bezerra (Podemos), que venceu as eleições. 

Wagner, inclusive, publicou, no dia 7 de abril, um vídeo gravado na fazenda do empresário, em Juazeiro do Norte, no qual os dois conversam sobre a necessidade de investimentos e incentivos fiscais na Região do Cariri. 

Oscar Rodrigues, é pai do deputado federal Moses Rodrigues, dois nomes da oposição com representação na região norte do Estado. Pai e filho, Oscar e Moses se filiaram ao União Brasil na última sexta-feira, deixando os quadros do MDB.  

Também citado por Wagner, o ex-governador Lúcio Alcântara, recentemente, demonstrou entusiasmo com a pré-candidatura do Capitão Wagner. Ele confirmou sua filiação ao União Brasil, mas ressaltou que não deverá disputar nenhum cargo em 2022.  

Ex-deputado federal (1991-1994), Luiz Girão também é um empresário cearense cotado para compor uma vaga de vice na chapa de oposição, junto ao Capitão Wagner.  

Com ampliação de bancada, PT busca a vice 

Mesmo tendo o ex-governador Camilo Santana já consolidado para concorrer a uma vaga ao Senado, o Partido dos Trabalhadores deverá atuar para indicar um vice na chapa encabeçada pelo PTD na sucessão.  

A sigla avalia internamente que tem estrutura para garantir também o cargo na vice-governadoria, conforme o presidente estadual do PT Antônio Filho, o Conin. 

O movimento ganhou força após o fim da janela partidária, quando o PT passou de quatro para sete deputados estaduais na Assembleia Legislativa do Ceará (AL-CE).  

Nos bastidores, especula-se o nome do vice-presidente da AL-CE, Fernando Santana (PT), para compor a chapa majoritária encabeçada por um nome do PDT ainda não divulgado pelo grupo governista. Ainda não há, no entanto, uma movimentação formal nesse sentido.

Ainda em fevereiro, o ex-governador Cid Gomes (PDT) falou ao colunista Wagner Mendes que, por já ter a vaga no senado, o PT já estaria representado no grupo. 

Para o professor Marcos Paulo Campos, Cientista Político da Universidade Vale do Acaraú (Uva), o fato de Izolda ter saído da condição de vice-governadora para condição para assumir o Executivo e ainda ser cotada como pré-candidato a reeleição, é significativo.

"O círculo político da aliança que governa o Ceará permite que Izolda seja cotada para dar continuidado ao circulo. No Brasil, a figura de vice nunca é decorativa, é sempre uma peça importante da aliança e também das lideranças que constituem esse ciclo", argumenta o professor. 

Na corrida por uma vaga, o PSD também se articula 

Ainda no início de março, o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, durante evento de filiação do partido no Ceará, admitiu que a sigla tem interesse em indicar o vice.  

O presidente estadual e ex-vice-governador, Domingos Filho, também defendeu a posição, mas argumentou, à época, que o momento da decisão ainda não havia chegado, e não indicou nenhum nome.  

O PSD foi o primeiro partido a promover solenidade de filiação, e o fez um dia após a abertura da janela partidária, no dia 4 de março.  

"Isso (pretensão de ter um vice) é muito natural, nós temos colocado isso muito claramente. Nós temos aqui uma parceria longeva no Estado em que estivemos as duas vezes votando no governador Cid (Gomes), do PDT, no governador Camilo (Santana), do PT, fazemos parte dessa aliança", disse o ex-governador na ocasião.

Psol aguarda definição

Com a pré-candidatura de Adelita Monteiro lançada para o Governo do Estado ainda no mês passado, o Psol aguarda a oficialização sobre federação com a Rede Sustentabilidade. A união dos dois partidos foi deliberada pelas executivas nacionais em março e terá mais uma etapa formal durante uma reunião estadual no dia 18 de abril. 

De acordo com o presidente do Psol no Ceará, Alexandre Uchôa, a partir desse encontro é que as tratativas sobre a vice-governadoria ganharão corpo, já dentro do contexto de uma federação partidária. 

"A prioridade pra vice é a federação e possíveis partidos aliados como o PCB e a UP", argumentou Alexandre.