O que dizem os governadores do Nordeste sobre os atos de 7 de setembro

Governador do Ceará chamou de "minoria barulhenta, violenta e inconsequente" as pessoas mobilizadas para os atos pró-Bolsonaro

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(Atualizado às 15:33)

Os atos mobilizados pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e sua rede de apoiadores para o dia 7 de setembro em todo o Brasil têm gerado repercussões por parte de autoridades brasileiras. Signatários de uma carta “em defesa da legalidade e da paz”, publicada há 10 dias, os governadores do Nordeste vêm reforçando suas posições em relação ao tema. 

Ontem (4), governador cearense Camilo Santana (PT) usou as redes sociais para criticar as mobilizações bolsonaristas. 

“Quem tenta usar o 7 de setembro para estimular o ódio, a intolerância e o desrespeito à democracia não tem amor ao nosso país. Pelo contrário. Pensa unicamente nos seus projetos autoritários de poder. Mas não será uma minoria barulhenta, violenta e inconsequente que traçará o destino da maioria absoluta de milhões de brasileiros, gente pacífica, que sonha com a volta de um Brasil mais justo e feliz", disse Camilo.

Governador do Piauí e presidente do Consórcio Nordeste, Wellington Dias (PT) também se manifestou. Após reunião do Fórum de Governadores com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), na última quinta-feira (2), afirmou que as manifestações devem ter como limite “a Constituição e a lei”

“Que aquilo que é um instrumento que só é possível na democracia (o direito de se manifestar) não seja utilizado contra a democracia. Que a gente possa ter a garantia de que nesses atos não se tenha violência, qualquer coisa que seja um desrespeito ao institucional, que se garantam as condições das liberdades”.
Wellington Dias
Presidente do Consórcio Nordeste

Para Wellington Dias, a democracia é “inegociável”. “A defesa de ditadura contraria a Constituição. O uso de força, de arma, do que quer que seja, para coagir, é claro que isso não será tolerado, imagino que para nenhum dos estados”, complementou. 

Desordem "forjada"

Flávio Dino (PSB), governador do Maranhão, também fez críticas ao Governo Federal ao se referir aos atos que se aproximam. Em artigo publicado sexta-feira (3), na revista Carta Capital, afirmou: “Bolsonaro quer fugir desse território que comprova o fracasso de seu governo e o direciona a uma derrota eleitoral, tentando forjar uma desordem”. 

O maranhense chamou de “agitação liberticida” a mobilização pró-Bolsonaro e resgatou o que, segundo ele, é uma tradição no Brasil: governos autoritários que fazem o oposto do que pregam. 

“Governos autoritários, ao longo da história do Brasil, mostraram-se incompetentes, pois desconectados dos verdadeiros problemas do País e manchados por denúncias de corrupção, uma vez que, sem a transparência da democracia, sobram negócios obscuros”, afirmou Dino. 

Um dia antes, pelo twitter, Flávio Dino chamou o patriotismo bolsonarista de “falso, oco, feito de palavras ao vento”. Veja o vídeo: 

Limites

Governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB) afirmou que as manifestações devem ser respeitadas, desde que não passem de certos limites, como a politização das polícias. 

“Essas ameaças do presidente, a coisa de ‘esticar a corda’ com as instituições, isso nos preocupa. Mas reafirmo que não vamos admitir politização das polícias. Queremos uma polícia forte contra o crime, mas que respeite os direitos humanos e a Constituição, e não vamos admitir que extrapole essas prerrogativas”, disse em entrevista ao jornal O Globo no final de agosto. 

A declaração de Rui Costa (PT), governador da Bahia, teve tom parecido. 

“Eu não tenho temor nenhum. O direto de se manifestar é inalienável. Todas as pessoas, sejam de esquerda, de direita, de centro, têm o direito de se manifestar e de emitir suas opiniões, mesmo que eu discorde delas. Agora qualquer coisa que fuja da normalidade será respondida dentro da lei”, disse o petista em entrevista coletiva há duas semanas. 

João Azevêdo (Cidadania), governador da Paraíba, também defendeu as manifestações.

“Todo mundo tem o direito de externar aquilo que pensa através das suas agremiações, através das pessoas que pensam de forma igual. Só espero que realmente isso seja feito dentro da ordem, dentro daquilo que é preciso que aconteça para que o estado democrático de direito seja preservado e mantido. Eu tenho certeza que não passará disso”, disse o governador, que afirmou que manterá a Secretaria de Segurança Pública acompanhando os atos de perto. 

“Legalidade e paz” 

No último dia 25, após reunião em Natal, os governadores do Nordeste publicaram carta “em defesa da legalidade e da paz”, em referência aos atos de 7 de setembro. No documento, os gestores afirmam que “as instituições estaduais cumprirão a missão de proteger a ordem pública, e por isso mesmo, não participarão de qualquer ação que esteja fora da Constituição”. 

A carta se refere à possível adesão de policiais às manifestações, que trazem entre as pautas principais ataques a instituições, em especial o Supremo Tribunal Federal

Incentivo de Bolsonaro 

Ontem, durante discurso na CPAC Brasil, conferência da direita realizada em Brasília, Bolsonaro incentivou a participação de PMs nos atos de terça-feira. 

“Hoje você vê alguns governadores ameaçando expulsar policiais militares que porventura estejam de folga no dia 7 e compareçam para festejar o 7 de setembro. Se nós falarmos ‘eu não sou policial militar, não tenho nada a ver com isso’, aguarde que a sua hora vai chegar”, disse o presidente, que completou: “Com a pandemia, como já disse, apareceram os protótipos de ditadores”.