A votação de uma moção de apoio ao padre Lino Allegri, da Paróquia da Paz, em Fortaleza, hostilizado por fiéis defensores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) durante missas no mês passado, gerou discussão e tensionou o clima entre vereadores durante a sessão desta quarta-feira (4) na Câmara Municipal.
O requerimento foi apresentado pelo vereador do PT, Ronivaldo Maia, e aprovado por ampla maioria.
Os vereadores Julierme Sena (Pros), Priscila Costa (PSC), Carmelo Neto (Republicanos), Ronaldo Martins (Republicanos) e Inspetor Alberto (Pros) votaram contra a proposição, alegando que o padre havia levado assuntos políticos para dentro do rito religioso.
O padre Oliveira Braga, da mesma paróquia, também foi hostilizado pelos mesmos grupos religiosos. Os dois foram incluídos no Programa Estadual de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos (PPDDH/CE).
Vereadores divididos
Vereadores alinhados a Bolsonaro, ao justificarem voto contrário à moção, criticaram a postura de padre Lino após o sacerdote lamentar a morte de 500 mil pessoas pela Covid-19 no Brasil, denunciando a condução política do enfrentamento à pandemia em meio à tragédia nacional.
"O padre fugiu do seu papel ao falar de política, e o grupo bolsonarista passou da dose ao rebater a fala do padre Lino [...] As pessoas vão à Casa de Deus para ouvir a Palavra, e vem o padre falar de política dentro da igreja? Padre não pode falar de política, argumentou Julierme Sena.
Autor do requerimento, Ronivaldo Maia defendeu que o sacerdote “sempre teve a sua vida devotada ao sacerdócio e através do Evangelho, sempre defendeu os direitos fundamentais e os direitos humanos”.
A vereadora Adriana Nossa Cara (Psol) também foi à tribuna para defender a moção.
Para a vereadora Priscila Costa (PSC), “surpreende vereadores do PT e do Psol defendendo o catolicismo”.
Hostilizações
O primeiro caso de ofensas contra padre Lino, membro da Pastoral do Povo da Rua da Arquidiocese de Fortaleza, aconteceu ao fim da missa do dia 4 de julho.
Após a divulgação dos casos de agressão, o sacerdote passou a receber uma corrente de apoio de fiéis católicos, grupos e movimentos sociais e autoridades políticas por meio das redes sociais.
Camilo Santana
O governador Camilo Santana (PT) considerou “inaceitável” a conduta de intimidação adotada pelos apoiadores do presidente. Além disso, defendeu a proteção do religioso.
“Informo que, desde a semana passada, determinei ao nosso secretário da Segurança para não só enviar policiais para garantir a integridade do padre Lino como instaurar inquérito para apurar qualquer tipo de ameaça contra ele. Não iremos aceitar que atitudes como essa, de ódio e intolerância, fiquem impunes”, escreveu Camilo após os ataques.
Padre Júlio Lancelloti
No mês passado, na abertura de uma missa transmitida por meio das redes sociais, padre Lino também recebeu manifestação de solidariedade do padre Júlio Lancelloti, conhecido nacionalmente por sua atuação junto às pessoas em situação de rua.