Impasse até então limitado ao campo jurídico, o litígio entre Ceará e Piauí já foi discutido diretamente pelas governadoras que assumiram no mês passado o comando dos dois Estados. A revelação foi feita pela governadora do Ceará, Izolda Cela (PDT), que exaltou o diálogo com a governadora piauiense Regina Sousa (PT) e defendeu que a população seja ouvida sobre a disputa de terra.
Em entrevista exclusiva ao Diário do Nordeste, do Sistema Verdes Mares, a chefe do Executivo do Ceará afirmou que as duas mandatárias tiveram "uma boa conversa". Na ocasião, Izolda e Regina concordaram que a população afetada na Região da Ibiapaba seja ouvida e considerada na solução do impasse.
"É muito importante que aquilo que é valor, que é significativo, seja levado em conta. Considerei uma posição sensata e penso que temos uma via e uma boa oportunidade de diálogo"
Disputa secular
A disputa, que já dura mais de um século, envolve o território de 13 municípios cearenses – a maior parte localizada na região da Serra da Ibiapaba. Em 2011, o caso foi judicializado quando o estado do Piauí decidiu recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) para definir a fronteira.
Em 2016, a pedido do próprio STF, o Serviço Geográfico do Exército apresentou um relatório preliminar sobre a região, no qual é favorável ao Piauí.
Já no ano passado, a possibilidade de uma nova perícia foi anunciada para o primeiro semestre de 2022. No entanto, em abril deste ano, o Exército Brasileiro informou ao STF que os recursos pagos pelo Piauí para a realização do novo estudo não foi pago aos militares por questões de regras orçamentárias.
Prioridade
Desde que tomou posse, no início de abril deste ano, Izolda prometeu dar prioridade ao assunto e vem acompanhando de perto o caso.
"Tem um processo que está em seu trâmite e é acompanhado de perto pela procuradora-geral do Ceará, ela está me atualizando", disse a governadora do Ceará.
No início deste mês, a pedetista recebeu uma comissão de parlamentares que defendem a atual fronteira do território cearense. No último dia 10, a governadora viajou até Brasília para encontro com a ministra Cármen Lúcia, relatora do caso no STF.
"(Fui) expressar e representar a voz da população do Ceará, da Ibiapaba, que se sente prejudicada diretamente. Minha defesa é permanente e nós temos o bom direito", disse na noite desta segunda-feira (23).
À época da visita, a governadora afirmou que o encontro não teve a intenção de discutir os meandros do processo, mas de compartilhar a visão do Governo do Ceará sobre os impactos que o litígio pode trazer para o Estado.
"Penso que é um prejuízo incalculável (de uma eventual perda). Seria um prejuízo de diversas ordens, especialmente naquilo que toca as pessoas, na sua história, no pertencimento, nas raízes, então é de nós considerarmos toda essa ordem", afirmou.