Na avaliação do presidente do PT Fortaleza, Guilherme Sampaio, petistas novatos, como o deputado estadual Evandro Leitão, podem enfrentar problemas de afinidade com a militância, mas isso não tira o mérito de suas postulações na legenda. Os dois são pré-candidatos à Prefeitura da capital cearense e disputam com outros três a preferência da comunidade partidária pelo nome que capitaneará a campanha.
"Por questão de Justiça, preciso reconhecer que o Evandro é um aliado do projeto petista aqui no Estado desde o governo Camilo. [...] Não é uma pessoa estranha ao projeto, mas é claro que, se eu tô há anos militando com alguém e chega alguém que eu não tenho intimidade, é óbvio que a minha afinidade maior seja com quem eu tô (lidando) há algum tempo. Mas penso eu que as declarações de apoio que o Evandro têm recebido são uma resposta à legitimidade da sua postulação, mas isso cabe ao deputado Evandro colocar", disse o dirigente à Live PontoPoder, nessa quinta-feira (14).
"O que posso dizer como presidente é que, quem se filia ao PT, um partido democrático, tem direito a votar e a ser votado no dia seguinte, de acordo com as regras do regimento. E também quem entra no PT sabe que, no dia que entra, é muito menor que o partido, que é o conjunto do esforço de uma geração de trabalhadores, de militantes de movimentos de base da igreja, de intelectuais, de militantes de partidos de esquerda anteriormente, de movimentos sociais, que formaram um partido popular", completou Guilherme Sampaio.
Além dele, que é deputado estadual em exercício, e de Evandro, que também é presidente da Assembleia Legislativa do Ceará (Alece), o PT dispõe da deputada estadual Larissa Gaspar, da deputada federal Luizianne Lins e do assessor especial do Governo cearense Artur Bruno como opções.
Disputa interna
O processo interno de escolha do nome que vai despontar na corrida prefeiturável é complexo e envolverá duas etapas de eleição. A primeira ocorrerá em 7 abril, ocasião em que todos os filiados ao PT Fortaleza votarão em urnas eletrônicas para escolher os 200 delegados da fase seguinte. Em 21 de abril, os delegados eleitos definirão quem, dos cinco nomes à disposição, irá para a disputa direta com os postulantes dos outros partidos.
Um detalhe é importante: só tem direito a voto quem se filiou ao partido até 8 de julho do ano passado. Assim, o próprio Evandro não poderá se posicionar oficialmente na votação, já que migrou para o PT em dezembro do ano passado.
A filiação recente à sigla é criticada por nomes como Luizianne Lins, principal adversária do presidente da Alece nesse processo interno. Ela lembra que ele foi convidado pelo PT há dois anos – informação confirmada, inclusive, pelo chefe do diretório estadual, Antônio Filho Conin –, mas optou ficar no PDT à época.
Além disso, ela chegou a questionar onde estavam as lideranças políticas que, nos últimos meses, aproximaram-se do PT, em momentos de crise da legenda petista. Luizianne mencionou momentos como o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) em 2016 e a prisão de Lula (PT), em 2018. Ela não citou nomes, mas as declarações foram interpretadas, nos bastidores, como alfinetadas para Evandro Leitão e outros parlamentares.
Em entrevista à Live PontoPoder, em dezembro, ele se desviou das críticas. "Primeiro, é importante que a gente possa pontuar: eu não visto essa carapuça", rebateu. "Desde quando se instalou o bolsonarismo no nosso país e no nosso Estado do Ceará, sempre resistimos a todo e qualquer pensamento extremamente conservador, que é o caso dos bolsonaristas".
Evandro citou a resistência "ao golpe da Dilma", "ao fascismo" e a "tantas outras situações". "Nós sempre resistimos, sempre estivemos enfileirados com aqueles que têm um pensamento progressista, que têm um pensamento que vem ao encontro daquilo que a população brasileira precisa e necessita", garantiu.
Apesar desses dois segmentos petistas protagonizarem os embates na empreitada, o presidente Guilherme não dá a situação como vencida. O dirigente sinaliza que pode haver surpresas ao lembrar a disputa pelo comando do diretório em 2019, da qual participou contra Raimundo Ângelo e Liliane Araújo.
"Todo mundo dizia que a eleição se daria entre o Raimundinho e a Liliane, mas eu venci as eleições. Então acho que a gente tem que esperar as urnas para ver qual a correlação de forças que está colocada. Temos postulações muito legítimas e representativas", ponderou.