Investigações da Polícia Federal apontam que a 'Abin paralela', estrutura da Agência Brasileira de Inteligência utilizada de maneira clandestina para monitorar autoridades públicas e opositores do governo Bolsonaro, interferiu em investigação sobre o filho do ex-presidente, Jair Renan Bolsonaro. As informações são da Folha de S. Paulo.
A PF teve acesso a mensagens que mostram agentes a serviço da Abin discutindo o monitoramento de pessoas envolvidas no inquérito que apurava a suposta atuação de Renan no favorecimento de empresários em serviços ao governo federal.
Na conversa, o agente Marcelo Araújo Bormevet e o militar Giancarlo Gomes Rodrigues, que atuavam no Centro de Inteligência Nacional da Abin, falam sobre o monitoramento de Allan Lucena, ex-sócio de Renan, e do advogado Paulo Belmonte. O diálogo ocorreu em março de 2021.
Bormevet declara: "O endereço dele [Allan Lucena] é aqui perto de casa, vou lá à noite". Em seguida, Giancarlo diz: "Acho que podemos ficar monitorando para ver quando vai ser o próximo evento e aí damos uma passada lá".
Operação Última Milha
Investigações da Polícia Federal apontam que o governo Bolsonaro usou 'Abin paralela' para monitorar autoridades públicas e opositores. Além do sistema First Mile - que rastreia o deslocamento de um celular a partir de torres de telecomunicações - , a Agência Brasileira de Inteligência teria usado sistemas "ilegítimos", conforme aponta relatório da Polícia Federal e parecer da Procuradoria-Geral da República. As informações são do Estadão.
As informações levaram à abertura da quarta fase da Operação Última Milha, na manhã desta quinta-feira (11). Pagos em dólar e euro, esses sistemas eram utilizados em "casos mais sensíveis", que envolviam a arapongagem de ministros do Supremo Tribunal Federal e políticos.
Segundo a Procuradoria-Geral da República, a opção por outros sistemas clandestinos se dava em razão de eles facilitarem a ocultação dos rastros da espionagem.
QUATRO PESSOAS FORAM PRESAS
Quatro investigados foram presos, incluindo o agente Marcelo Araújo Bormevet e o militar Giancarlo Gomes Rodrigues, que atuavam no Centro de Inteligência Nacional da Agência Brasileira de Inteligência sob o comando de Alexandre Ramagem, hoje deputado federal.
O uso dos softwares veio à tona em conversa trocada entre Giancarlo e Bormevet, onde eles discutiam a produção de um dossiê sobre o ministro Alexandre de Moraes.
Os dois tentavam estabelecer uma conexão entre o magistrado e o delegado Nico Gonçalves, ex-delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, em relação a uma suposta investigação de corrupção. Isso ocorreu durante o período em que o Supremo Tribunal Federal confirmou, em junho de 2020, a legalidade do inquérito das fake news.
A PF ainda diz ter encontrado mensagens "indicativo de violência e ações relacionadas à tentativa de impeachment" do ministro. Em uma conversa, um deles escreveu: "Tá ficando f*** isso. Esse careca está merecendo algo a mais." A resposta foi: "Só 7.62" - o número do calibre de uma munição. "Headshot", finaliza o interlocutor, sugerindo um tiro na cabeça do ministro.