Entenda como Jair Bolsonaro foi envolvido nas suspeitas de corrupção do MEC

Áudios interceptados pela PF envolvem o presidente nas investigações

Pela primeira vez desde o início das investigações envolvendo o Ministério da Educação (MEC), o presidente Jair Bolsonaro (PL) foi citado no caso. Uma gravação feita pela Polícia Federal, com autorização da Justiça, e divulgada nesta sexta-feira (24), mostra uma conversa entre o ex-ministro Milton Ribeiro e a filha.

Na interceptação, o ex-gestor fala que recebeu uma ligação do presidente fazendo um alerta. "Hoje, o presidente me ligou. Ele está com um pressentimento novamente de que podem querer atingi-lo através de mim, sabe?", disse.

"Ele acha que vão fazer uma busca e apreensão em casa, sabe? Bom, isso pode acontecer, se houver indícios, mas não há porquê", explicou.

Logo depois da divulgação do áudio, o Ministério Público Federal (MPF) pediu que uma "possível interferência ilícita" de Bolsonaro seja investigada pelo Supremo Tribunal Federal. O escândalo de irregularidades no MEC já vinha sendo motivo de desgaste do governo nos últimos meses.

A partir de agora, Jair Bolsonaro aparece como suspeito de enviar informações sigilosas para o aliado. Ele será investigado pelo suposto crime de violação de sigilo funcional com dano à Administração Judiciária e favorecimento pessoal.

Relação com Milton Ribeiro

Em março deste ano, já durante as investigações de corrupção no MEC, o presidente Jair Bolsonaro mostrava uma plena confiança no ex-ministro. 

O presidente chegou a declarar que colocaria a "cara no fogo" por ele. "Eu boto a minha cara no fogo pelo Milton. Estão fazendo uma covardia com ele", disse durante uma live.

Agora, depois da prisão de Ribeiro, Bolsonaro voltou a reforçar a confiança, mas em menor euforia. "Continuo acreditando no Milton. Se aparecer alguma coisa, responda pelos seus atos", declarou.

A indicação de Ribeiro ao cargo de ministro tentou contemplar uma ala de apoiadores do governo: os evangélicos. Pastor, teólogo e advogado, Milton passou a ser investigado por suposto envolvimento em um balcão de negócios no MEC com recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).

O ex-ministro, que é pastor na Igreja Presbiteriana Jardim de Oração de Santos, no litoral de São Paulo, teria dado acesso aos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura no governo para a concretização de contratos da educação com prefeituras.

Pedidos de propopina para a realização de eventos em prefeituras são os principais alvos de investigação. 

CPI

Diante do envolvimento do nome do presidente no escândalo do MEC, o Congresso Nacional já se mobiliza para abrir uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as possíveis irregularidades na Pasta.

A implicação de Jair Bolsonaro no caso pode dar um peso ainda maior para a investigação parlamentar que pode ocorrer a poucas semanas do início da campanha eleitoral.

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) declarou na quinta-feira (23) já ter conseguido as 27 assinaturas necessárias para abrir as investigações no Senado. Os senadores cearenses Tasso Jereissati (PSDB) e Cid Gomes (PDT) assinaram o requerimento para a abertura das investigações.

Agora, está nas mãos do presidente da Casa, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), a instalação do colegiado. "É um fato grave, que precisa ser investigado pelas autoridades competentes", disse Pacheco. 

A expectativa é que o assunto seja pauta no Senado na próxima semana. Adversários do presidente trabalham para investigar suposta interferência nas ações da PF.