A mais de um ano para o pleito que definirá o presidente do Brasil, três nomes do PSDB – inclusive uma liderança cearense – travam uma acirrada disputa interna para decidir quem representará a sigla nas urnas em 2022. Nesta arena interna do partido, o senador Tasso Jereissati (PSDB) e o governador Eduardo Leite (PSDB), do Rio Grande do Sul, sinalizam uma aproximação para fazer frente ao terceiro nome na disputa, o governador João Doria (PSDB), de São Paulo.
As relações internas no tucanato, há algum tempo, experimentam turbulências. Os embates subiram de temperatura na última semana. Na segunda (23), a informação de uma suposta desistência de Tasso foi divulgada por Dória durante entrevista no programa Roda Vida, da TV Cultura. No entanto, o parlamentar cearense desmentiu que esteja fora da disputa. Apesar do pedido de desculpas do governador, que disse ter se enganado com a informação, o episódio aproximou ainda mais Tasso e Leite.
“Nunca conversei com quem quer que seja, nem tampouco conversei com o governador João Doria, pessoa que respeito, sobre essa questão. Portanto, fiquei surpreso com essa declaração, e no dia em que eu tiver, se tiver de fazer algum anúncio, eu mesmo farei”, respondeu Tasso após o episódio.
Aproximação
No dia seguinte, na terça-feira (24), o cearense jantou acompanhado de Eduardo Leite em Brasília. Eles discutiram justamente sobre a possibilidade de lançar uma chapa única nas prévias, que irão ocorrer em novembro. "A gente trabalha com a lógica de estarmos juntos. Não parece ser o caso de termos candidaturas que se enfrentem", declarou Eduardo Leite ao Estadão.
Nos bastidores, a expectativa entre os tucanos era realmente de que Tasso retirasse a candidatura em prol do apoio ao governador gaúcho. Contudo, a informação ter sido divulgada por Doria criou um mal-estar entre correligionários.
Liderança que se fortaleceu no cenário da pandemia, o senador cearense não tem circulado em busca de apoio, diferentemente de Leite e Dória. Tasso tem acompanhado os trabalhos do Senado virtualmente, o que não reduziu a relevância de suas observações a cerca da condução do País. Somente na semana passada, ele viajou à Brasília, onde ofereceu o jantar para o governador gaúcho.
Provável aliança
Ao longo do fim de semana, tanto Eduardo Leite quanto Tasso Jereissati reforçaram a tendência de aliança. No sábado (28), o governador disse que não haverá enfrentamento de sua pré-candidatura com a do senador do Ceará.
"Tasso é uma das minhas grandes referências no PSDB. O que fez pelo Ceará como governador e o que faz pelo Brasil no Senado o tornam indispensável na política nacional. Sua pré-candidatura à presidência tem o meu mais profundo respeito. Não nos enfrentaremos", publicou nas redes sociais.
No domingo (29), foi a vez do cearense admitir a possibilidade de uma aliança. Em entrevista ao jornal O Globo, o tucano disse ainda que o grupo pode contar também com o apoio do ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio (PSDB), outro nome que planejava disputar as prévias, mas que não tem buscado apoio pelo País.
“Estamos fazendo um esforço muito grande para termos uma candidatura só nas prévias que possa competir com o Dória. Evidentemente que Doria, como governador de São Paulo, onde o partido é maior, leva vantagem. Ele polariza dentro do partido”, disse o senador.
Levando em conta a quantidade de tucanos que poderão votar, o diretório de São Paulo tem 24,2% dos eleitores. Nas prévias, poderão votar filiados (grupo 1); prefeitos e vice-prefeitos (grupo 2); vereadores e deputados estaduais (grupo 3); e deputados federais, senadores, governadores, vice-governadores, presidente e ex-presidentes da executiva nacional (grupo 4). Cada grupo terá 25% de influência no resultado.
Doria tem se dedicado a uma intensa agenda para tentar obter maioria de votos entre filiados e políticos de seu partido na disputa interna. Filiações de prefeitos, divulgação de vídeo com o mote “João vacinador” e um site que disponibiliza material para militantes marcam a ofensiva do governador.
Em viagens para buscar convencer seus pares a lhe darem a chance de concorrer ao Planalto, o paulista tem disparado críticas a Bolsonaro e a Lula, chamando-os de “negacionista” e “corrupto”, respectivamente.
Já o próprio Doria é apresentado como “vacinador”, em referência ao empenho do Governo de São Paulo para fazer deslanchar a vacinação contra a Covid-19 no estado e no Brasil, e “a cara limpa da paz e do consenso”, alguém que “não viveu em berço de ouro”.
Em busca de apoio
Eduardo Leite também mantém uma intensa agenda de viagens pelo País, principalmente para Brasília e São Paulo, base eleitoral de Doria. Uma das esperanças do gaúcho para superar a vantagem do diretório de São Paulo é o apoio do PSDB de Minas Gerais. O diretório, sob o comando do deputado federal Aécio Neves (PDSB), é o segundo maior do Brasil, totalizando 12,4% do peso nas prévias.
Diante dessa polarização de forças, Doria atacou Aécio na semana passada, também durante a entrevista ao programa de televisão. “Aécio Neves tem a síndrome da derrota. E começou a sua pior derrota naquele triste telefonema para um empresário (Joesley Batista, da JBS) aqui de São Paulo pedindo propina. Eu entendo que pessoas que pedem propina a empresário do meu partido deveriam se afastar”, disse o paulista.
Dória x Aécio
Anteriormente, Aécio já havia afirmado que lançar Doria na disputa pela Presidência seria isolar o PSDB e transformar a sigla em nanica. O paulista rebateu na semana passada. “Que autoridade tem Aécio Neves para falar isso? Nenhuma. Ele é um pária dentro do PSDB e tem a síndrome da derrota. Terei o prazer de vencer aqueles que pensam como Aécio Neves e dever de estar ao lado dos que defendem o PSDB como Fernando Henrique Cardoso”, acrescentou.
Em nota, Aécio afirmou que Doria é um “declassificado”. “Perdeu as condições de ser candidato à própria reeleição pela sua enorme rejeição e acha que pode comprar o PSDB para satisfazer o seu fetiche de ser candidato a presidente da República”, disse.