Um áudio obtido em investigação pela Polícia Federal no celular do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, e enviado ao então comandante do Exército, general Freire Gomes, informou que empresários, incluindo o cearense Afrânio Barreira, dono do restaurante Coco Bambu, se reuniram com o ex-presidente em novembro de 2022 para defender uma "posição mais radical" sobre resultado das eleições presidenciais. As informações são do jornal O Globo.
Procurada pelo Diário do Nordeste, a assessoria de Barreira negou o envolvimento do empresário "em qualquer ato político, público ou privado, durante ou depois da campanha presidencial de 2022" e que qualquer alegação de Mauro Cid é "falsa". Ressaltou ainda que "não conhece, nunca esteve ou mesmo falou com o Sr. Mauro Cid".
Em novo contato da assessoria do empresário cearense neste sábado (17), na data da suposta reunião, em 7 de novembro de 2022, documentos enviados ao Diário do Nordeste, como cópia digitalizada do Passaporte, fotos e demais despesas, durante 5 a 22 de novembro, comprovariam que Barreira estava em Londres com a família.
"O Sr. Afranio reforça, ainda, que somente esteve ou falou com o ex-presidente Jair Bolsonaro uma única vez, em agosto de 2020, em um almoço que fez parte da agenda oficial do então Presidente e que contou com a participação de várias outras autoridades, tal almoço não tinha qualquer pauta política, administrativa ou econômica. Desde então não falou ou esteve com o Sr. Jair Bolsonaro e/ou seus filhos, nem sequer tinha seu número telefônico", diz ainda o comunicado.
Afranio Barreira reforçou a defesa "ao processo eleitoral do Brasil e de todas suas instituições, reconhecendo de forma plena os resultados das urnas de 2022", finalizou a nota.
A assessoria também enviou à reportagem uma foto em que mostra a viagem do cearense no período citado à Inglaterra.
'Virar o jogo' das eleições presidenciais
No áudio obtido pela Polícia Federal e divulgado pelo jornal O Globo, Mauro Cid menciona, além de Barreira, a visita dos empresários Luciano Hang (lojas Havan), Meyer Nigri (Tecnisa), e, possivelmente, Sebastião Bonfim (Centauro). De acordo com a PF, Cid afirma na mensagem que "os empresários tentaram pressionar Jair Bolsonaro para que o Ministério da Defesa fizesse um relatório mais duro, contundente, com o objetivo de 'virar o jogo', possivelmente se referindo ao resultado das eleições presidenciais".
Já a defesa de Hang disse que não tem nada a declarar sobre a investigação, que ocorre sob sigilo, e que desconhece o teor da mensagem. "Luciano jamais sugeriu ou pediu a quem quer que fosse a adoção de medida destinada a atentar contra o ordenamento jurídico e as instituições democráticas", informou.
Leia descrição do áudio de Cid obtido pela PF
"Na conversa que ele (Bolsonaro) teve depois com os empresários, ele estava, tava o Hang, estava aquele cara da Centauro, estava o Meyer Nigri. É, estava o cara do Coco Bambu também, ele também. Tipo, quem falou, ó... o governo Lula vai cair de podre, né? Pessoal ficou um pouco de moral abaixo porque os empresários estavam querendo pressionar o presidente a pressionar o MD [Ministério da Defesa] a fazer um relatório, né, contundente, duro né? Pra virar jogo, aqueles negócios".
Segundo a PF, o relatório produzido pelo Ministério da Defesa era um dos recursos como parte do plano golpista arquitetado tentar reverter o resultado das eleições presidenciais de 2022, que elegeram Luiz Inácio Lula da Silva.
"Novamente, evidencia-se a tentativa de utilização do relatório de fiscalização que seria produzido pelo Ministério da Defesa para atender os interesses ilícitos dos investigados", diz a PF.
Veja a nova nota, de 17/2, na íntegra, de Afranio Barreira
Sr. Afranio Barreira nega seu envolvimento em qualquer ato político, público ou privado, durante ou depois da campanha presidencial de 2022. Assim, cabe ressaltar que não conhece, nunca esteve ou mesmo falou com o Sr. Mauro Cid. Inclusive, na data dessa suposta reunião, dia 07/11/2022, estava em Londres com a família.
O Sr. Afranio reforça, ainda, que somente esteve ou falou com o ex-presidente Jair Bolsonaro uma única vez, em agosto de 2020, em um almoço que fez parte da agenda oficial do então Presidente e que contou com a participação de várias outras autoridades, tal almoço não tinha qualquer pauta política, administrativa ou econômica. Desde então não falou ou esteve com o Sr. Jair Bolsonaro e/ou seus filhos, nem sequer tinha seu número telefônico.
Assim, qualquer alegação do Sr. Mauro Cid (se é que houve) é falsa, e não haverá nenhuma prova de tal acontecimento, pois o mesmo nunca ocorreu.
O Sr. Afranio apenas tomou conhecimento desse seu falso envolvimento através de contatos feito pela mídia na data de hoje.
Cabe destacar que desde 06 agosto de 2022 o Sr. Afranio esteve fora do Brasil, participando, com sua esposa, de uma intercâmbio cultural previamente agendado, no qual atendeu a cursos pessoais de inglês e culinária nos Estados Unidos, ou estava em viagem familiar na Europa, com os filhos e os netos. Assim, regressou ao Brasil em 01 de abril de 2023, fato este que pode ser facilmente comprovado pelo controle de fronteiras da Polícia Federal do Brasil.
Nesse período em que esteve em viagem pessoal, reforça, não falou ou esteve com o Sr. Jair Bolsonaro, ou qualquer outro membro do governo.
Por fim, o Sr. Afranio Barreira reforça sua defesa ao processo eleitoral do Brasil e de todas suas instituições, reconhecendo de forma plena os resultados das urnas de 2022.