A declaração do governador Elmano de Freitas (PT) sobre o processo de escolha da candidatura do PT para a disputa eleitoral em Fortaleza aumentou a pressão para a definição do nome da legenda na Capital. Nesta quarta-feira (6), o chefe do Poder Executivo Estadual defendeu a realização de encontro municipal para a definição.
O PT tem cinco pré-candidatos ao Paço Municipal. São eles: a deputada estadual Larissa Gaspar; o deputado estadual em exercício e presidente municipal do PT, Guilherme Sampaio; o assessor especial do Governo do Ceará, Artur Bruno; a deputada federal e ex-prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins; e o presidente da Assembleia Legislativa do Ceará (Alece), Evandro Leitão. Estes dois últimos têm protagonizado disputa interna mais acirrada na sigla.
O posicionamento do governador, que é próximo de Luizianne e de Evandro, ocorre em meio à falta de consenso sobre quem deve disputar a eleição na Capital pela legenda.
"A única coisa que quero manifestar é que eu sempre defendi que o processo do PT fosse um processo que a base participasse. E eu acho que a melhor maneira, o melhor processo do PT, de fazer participar, é uma decisão em um encontro municipal. O PT de Fortaleza sempre escolheu os seus candidatos e candidatas em encontro", mencionou Elmano, durante entrevista coletiva realizada no Centro Integrado de Segurança Pública (CISP), na Capital.
Antes de definir a candidatura, as correntes do Partido dos Trabalhadores que compõem o diretório da agremiação em Fortaleza devem decidir como será o processo de escolha — que pode ocorrer por consenso, encontro municipal ou prévias. Para qualquer um dos dois primeiros modelos, é necessário obter 31 votos (dois terços do diretório) dos 46 membros do PT Fortaleza. Caso o número mínimo não seja alcançado, a agremiação tem que realizar prévias — modalidade em que os filiados votam para escolher um dos nomes. Essa última opção é defendida pela deputada federal Luizianne Lins.
Já Evandro Leitão vinha buscando construir um consenso, dialogando com lideranças das correntes. Agora, ele defende a realização de encontro municipal.
Segundo resolução resolução do PT sobre critérios para indicação de candidatura do partido, o número de delegados e delegadas dos Encontros Municipais nos territórios com mais de 1.000 filiados será, no mínimo, quatro vezes maior que o número de componentes do diretório municipal.
Como em Fortaleza o diretório municipal da agremiação tem 46 membros, 184 delegados seriam escolhidos pelos filiados para definir o candidato da sigla, caso o processo de escolha vingue.
Aumento da pressão
Após a fala do governador, Evandro destacou, nesta quarta, que vai atrás dos 31 votos necessários das correntes internas da legenda para viabilizar seu nome na disputa — ainda que não seja de forma consensual, e sim pleiteando os votos dos delegados no encontro municipal. Na ocasião, ele revelou que ficou sabendo da declaração pela imprensa.
"Somos 46 e vamos atrás dos dois terços, dois terços de 46 é 31. Então, vamos atrás. Não adianta eu estar dizendo que tem x, y ou z (membros do diretório o apoiando). O importante é que nós vamos atrás desses 31. O governador já deu demonstrações, inclusive hoje pela manhã através dos meios de comunicação — e eu tomei conhecimento—, que deseja e pede para que nós tenhamos encontro (municipal), no sentido que não tenhamos sequelas, traumas maiores internos. Então, nós vamos atrás. É o desejo da liderança maior, que é o governador do Estado, e nós temos que respeitar, e eu respeito"
Ainda pela manhã, Evandro declarou que estava ciente dos desafios que enfrentaria quando aceitou colocar seu nome à disposição do PT. Ele deixou o PDT e se filiou ao PT em dezembro do ano passado.
"Quando eu coloquei meu nome à disposição, sabia que nós tínhamos que superar algumas fases, algumas etapas. E estou pronto pra enfrentar essa fase internamente. O ideal seria, na realidade, nós consensualizarmos. Infelizmente, nós não estamos conseguindo, então vamos ver o que a Executiva vai decidir", ressaltou.
Presidente do PT Fortaleza e pré-candidato na disputa, Guilherme Sampaio disse que sua corrente, a Resistência Socialista, também irá defender a realização de encontro, caso um nome consensual não seja possível.
"Nós fizemos uma discussão na Resistência Socialista e deliberamos que vamos defender a realização de encontro. Deliberamos isso por algumas razões. O encontro garante a participação direta dos filiados, eles vão às urnas para escolher seus representantes e, ao mesmo tempo, permite um debate aprofundado com as representações das correntes do partido"
Antes, a Resistência Socialista tinha se posicionado em prol do nome de Guilherme, mas com disposição para discutir um nome consensual. O grupo tem 13 membros votantes no diretório municipal.
Também pré-candidata na disputa, a deputada Larissa Gaspar classificou o encontro municipal como uma boa opção.
"Eu defendo, primeiramente, uma unidade no partido e um diálogo maduro entre todas as pré-candidaturas com nossas principais lideranças políticas no Estado: Elmano e Camilo (Santana). Não sendo possível avançar nessa perspectiva, entendo que o encontro é um caminho importante, porque possibilita um maior debate entre as candidaturas postas"
O pré-candidato Artur Bruno também defendeu o posicionamento do governador. Ele justificou, inclusive, que encontro municipal foi utilizado outras vezes para solucionar impasses internos sobre candidatos do partido.
"Eu tenho um pensamento semelhante ao do governador. O ideal era que o PT conseguisse consensuar um nome. Não havendo um consenso, eu defendo que haja um encontro de delegados como sempre aconteceu no PT desde o momento em que havia mais de um nome. Todas as eleições municipais de Fortaleza, onde houve mais de um nome, houve encontro de delegados. Nós vamos ter aí praticamente 180 pessoas escolhidas em votações em todos os bairros que tiverem zonais do partido"
A pré-candidata Luizianne Lins foi procurada, mas não se manifestou até o fechamento desta reportagem.
Calendário
Diante da pressão das pré-candidaturas, Guilherme Sampaio informou que a Executiva Municipal do PT se reuniria na quarta para definir um calendário para deliberar o assunto. Segundo ele, a expectativa é aprovar a convocação do diretório na semana que vem para deliberar sobre o modelo de escolha do candidato.
"O diálogo (para consenso) continua em curso, mas como até aqui nós não chegamos a esse resultado é preciso que o partido vá tomando as providências necessárias para viabilizar a definição da candidatura. Há prazos, locais de votação (dos filiados) que precisam ser organizados com antecedência", frisou.