O anúncio de saída do PDT feito pelo presidente da Assembleia Legislativa do Ceará (Alece), Evandro Leitão, desencadeou uma série de reações de correligionários e de outros aliados sobre o assunto. Na Casa, a maioria dos pedetistas manifestaram apoio à decisão, diferentemente do que ocorreu na Câmara Municipal de Fortaleza.
O anúncio ocorreu na terça-feira (29), no plenário da Assembleia, logo após a Executiva Nacional informar que iria judicializar a anuência concedida ao deputado pelo diretório estadual, na última sexta-feira (25). A medida foi aprovada por 41 votos favoráveis e 7 abstenções para que Leitão possa pleitear a possibilidade de disputar a eleição da Prefeitura de Fortaleza em 2024 por outro partido, já que a legenda abriga o prefeito José Sarto — que deve tentar a reeleição.
O imbróglio no PDT com o caso de Leitão tem repercutido entre aliados e correligionários. Na tribuna da Alece, ele afirmou que a judicialização do caso era uma "perseguição" por ele apoiar o grupo governista desde a eleição do ano passado, mas que era grato "de coração" aos quadros da legenda.
"Esse período de 14 anos no meu único partido foi extremamente importante — de maturidade, crescimento, de desenvolvimento que eu tive durante esse período, em todos os aspectos—, mas chegou a hora de dizer que estou saindo do PDT"
Presidente nacional interino do PDT, o deputado federal André Figueiredo (PDT) classificou como "injustas" as declarações dadas pelo parlamentar na Assembleia.
"Existe uma previsão estatutária de que o mandato pertence ao Partido e que anuências são vedadas inclusive por uma Resolução de 01/5/2022”, afirmou Figueiredo em nota pública.
Presidente do PDT Fortaleza, o ex-prefeito Roberto Cláudio classificou toda a situação como um "teatro montado".
"Todo esse teatro montado para a saída do deputado estadual Evandro Leitão do partido é de muito mau gosto e subestima a inteligência do nosso povo. Quem acha que o 'poder' pode e consegue tudo, inclusive convencer o povo, por mais surreal que seja a narrativa, muitas vezes quebra a cara"
Convites de outros partidos
O nome de Evandro Leitão como pré-candidato à Prefeitura de Fortaleza vem ganhando forças nos últimos meses. Ele, inclusive, já foi convidado a se filiar ao PT e ao PSB, partidos aliados do seu grupo político. O governador Elmano de Freitas (PT) disse, inclusive, que "não é razoável" um partido querer "amarrar um parlamentar com ameaças de tomada de mandato".
Enquanto não decide para qual partido vai, Evandro continua recebendo convites. Logo após o anúncio de saída do PDT, deputados ampliaram a possibilidade de legendas para o presidente da Alece. Na ocasião, o deputado Danniel Oliveira (MDB) ressaltou que seu partido está de "braços bem abertos" para receber Leitão.
"Quero fortalecer a decência que vossa excelência tratou cada parlamentar dessa Casa, sempre respeitando de forma muito singular e eu aproveito essa oportunidade para finalizar só dizendo uma coisa: o MDB está de braços bem abertos para vossa excelência", destacou.
O gesto de Oliveira deu sequência a outros convites. Deputada de partido adversário do grupo governista, Dra. Silvana frisou que o PL também está pronto para incorporar o parlamentar.
"Quem dera eu pudesse receber vossa excelência, o PL está de portas abertas também. Por que não? O carinho que eu tenho por vossa excelência, como vossa excelência sabe fazer política, sem torturar a quem vossa excelência acha que é sua oposição", destacou.
Quadro do PDT, o deputado Guilherme Bismarck ressaltou que seu pai, Bismarck Maia, prefeito de Aracati e presidente do Podemos, enviou uma mensagem para que o filho não deixasse de fazer a cortesia a Evandro Leitão.
"Recebi também uma mensagem do presidente do Podemos, meu pai, dizendo que o Podemos está de portas abertas para lhe receber", acrescentou.
Reações na Alece
Logo após o pronunciamento de Leitão, o líder do PDT na Assembleia, deputado Guilherme Landim, se manifestou sobre a situação envolvendo o colega de partido e parlamento. Além de se solidarizar, ele demonstrou incômodo pela forma como as decisões do diretório estadual, que está sob o comando interino do senador Cid Gomes, vêm sendo tratadas pela Executiva Nacional.
"Foi feita uma votação na semana passada pelo diretório, dando essa anuência, e não é acatada. Então, isso nos deixa realmente muito tristes, incomodados. Incomodados com a forma como vem sendo tratado também o senador Cid Gomes nessa presidência interina, que tem exercido de maneira democrática essa presidência, mesmo que interina, mas todo ato que ele faz de manhã é desfeito ou desmoralizado a tarde"
Líder do Governo Elmano na Casa, o deputado Romeu Aldigueri (PDT) disse que é "testemunha" do que Evandro vem passando desde a eleição de 2022, quando não recebeu nenhum recurso do PDT para fazer campanha.
"Eu quero testemunhar tudo que vossa excelência disse porque convivi proximamente durante a campanha eleitoral. Os telefonemas, os dissabores, as reclamações e agruras que vossa excelência passou quando verificava que todos os colegas recebiam recursos partidários, menos vossa excelência", destacou o líder.
Um dos deputados em exercício mais antigos do Parlamento estadual, Antônio Granja (PDT) lamentou a saída do colega e disse que quem ganhará é o partido que recebê-lo.
"Vossa excelência construiu uma grande história como gestor, como político. É um exemplo. Hoje, eu diria que é um dos melhores quadros que nós temos na Política do Estado do Ceará, pela sua seriedade, humildade, presteza. E vai ganhar o partido que tiver o privilégio de receber vossa excelência", afirmou.
O deputado Osmar Baquit (PDT), por sua vez, atribuiu o início da crise na legenda ao presidente nacional do partido, Carlos Lupi, que está licenciado do comando desde que assumiu o cargo de ministro da Previdência no Governo Lula (PT) e ressaltou que mais quadros podem se desfiliar se as decisões de Cid continuarem sendo questionadas pela Executiva Nacional.
"Vocês vão ver o desastre que vai acontecer se chegar dezembro e o Cid sair da direção estadual do partido. De 13 deputados do PDT, vão ficar uns cinco. (...) Carlos Lupi vem pra cá num encontro, sem nem ter candidato definido, começou a cantar 'o melhor prefeito do Brasil vai ser governador do Ceará'. Como é que um presidente nacional de um partido vem comprar briga contra outros aliados dele naquele momento, que eram candidatos (internos), que tinham a mesma pretensão"
O deputado Sérgio Aguiar (PDT) disse que não participou da reunião de sexta que deu anuência a Leitão, mas que votaria favorável ao pedido.
"Meu partido fica pequeno nesse momento ao perder uma filiação partidária de um cidadão da sua estatura política. Não participei da reunião do partido, mas, aqui, lhe confesso que votaria pela anuência sim, tanto pelos motivos que já foram expostos, mas muito mais por um: pela soberania do voto", destacou.
'Analisar a fidelidade'
Diferente dos demais colegas de bancada, os deputados mais próximos da cúpula do PDT de Fortaleza, liderada pelo ex-prefeito Roberto Cláudio, se manifestaram de forma favorável à análise jurídica da anuência concedida. Antônio Henrique (PDT) alegou que, apesar de Evandro ser "um excelente homem público", a questão tem que ser analisada.
"Eu não tiro nenhum mérito do Evandro, sei que ele é um excelente parlamentar, um excelente homem público, mas nós temos que analisar a questão jurídica sobre o que diz a lei em relação a fidelidade partidária", destacou.
Assim como Henrique, o deputado Cláudio Pinho (PDT) também defendeu o posicionamento da Executiva Nacional sobre a anuência e destacou que, quando o diretório foi convocado na sexta, sequer havia pauta definida.
"O diretório, quando foi convocado, não tinha pauta definida e nem tinha esse assunto. Eu não participei da reunião porque estava no município do Ipu, no aniversário de 183 anos. Porém, o questionamento da Nacional, pelo que me chegou, é porque tem uma vedação, em se tratando de anuência para sair do partido, a decisão é da nacional"
O deputado Queiroz Filho (PDT) foi mais ponderado sobre o assunto e disse que não será "instrumento de causar discórdia dentro do partido".
"Não quero fazer confusão com ninguém, não. Eu não quero me meter nessas questões, tendo em vista que já houve tanta confusão", afirmou.
'Influenciado'
Na Câmara Municipal de Fortaleza, o presidente do Parlamento da Capital, vereador Gardel Rolim (PDT), ressaltou que Leitão "comete um erro ao sair do partido" e que está sendo "influenciado".
"O PDT é o partido da vida do Evandro. Ele é um grande quadro e está no partido há mais tempo que muitos de nós. Acho que ele comete um erro ao sair do partido. Aliás, acho que ele foi induzido a cometer esse erro. Lamento, é uma perda importante"