O senador Cid Gomes (PDT) planeja reunir dezenas de prefeitos e centenas de vereadores às 15 horas desta terça-feira (14), no Hotel Gran Marquise, em Fortaleza. O encontro deve traçar os rumos desse grupo de aliados do hoje presidente do PDT Ceará para fora da legenda, ao menos é o que esperam mandatários que já confirmaram presença no encontro.
A convocação da reunião foi a reação de Cid, na última quinta-feira (9), após ser destituído do comando do diretório cearense do PDT pela cúpula nacional do partido, sob comando do deputado federal cearense, André Figueiredo (PDT), que preside a sigla nacionalmente, e sob bençãos do ex-ministro Ciro Gomes (PDT), irmão de Cid.
O senador já retomou o cargo na sexta-feira (10), mas sob decisão liminar do juiz Cid Peixoto do Amaral Neto, da 3ª Vara Cível da comarca de Fortaleza. Aliados do pedetista contabilizam que ele lidera uma tropa de aproximadamente mil vereadores e aproximadamente 50 prefeitos no Estado.
Próximos passos para a saída
Em entrevista na quinta-feira, o pedetista disse que não irá tomar decisões sozinho. “Não é meu estilo. Tenho consciência de que eu sou um representante e um representante deve fazer o que os seus representados querem”, comentou.
Naquele dia, Cid sinalizou que, a partir dali, as articulações irão se concentrar nos próximos passos para seu grupo político deixar o PDT. Ele destacou especialmente a situação dos vereadores, que irão enfrentar o pleito eleitoral do próximo ano. “A recomendação que eu vou dar, sabe qual é? Peça ao seu diretório municipal para dar anuência sempre dizendo o seguinte: ‘nós estamos sendo perseguidos, ultrajados, não estamos sendo respeitados por uma direção autoritária, inconsequente e que não respeita os princípios básicos da democracia’”, concluiu.
O senador reforçou ainda que teria como prioridade reunir os prefeitos para tranquilizá-los e pensar em saídas para a crise.
“O que eu quero é que tudo isso seja feito em bloco, nós teremos força se estivermos juntos, se os cinco deputados federais continuarem juntos; se os 13 deputados estaduais continuarem juntos; se os 50 ou 40 prefeitos continuarem juntos; se os mil vereadores continuarem juntos no mesmo partido, isso é que vai nos dar força”
O senador contabiliza que no máximo sete prefeitos devem continuar no partido.
Prefeitos aguardam orientação de Cid para deixar PDT
Ao todo, conforme a assessoria de imprensa da presidência estadual do PDT, hoje, o partido tem 53 prefeitos, sendo três deles os responsáveis pelo Executivo de municípios que estão entre os onze maiores do Ceará: Fortaleza (José Sarto), Sobral (Ivo Gomes) e Quixeramobim (Cirilo Pimenta).
O Diário do Nordeste conversou com alguns mandatários de cidades do Interior que comentaram sobre a expectativa de que a reunião desta terça-feira sele o destino do grupo sob comando do senador.
Um dos prefeitos pedetistas que mais tem acompanhado a disputa interna na sigla, Edinardo Filho, de Forquilha, diz que espera uma orientação sobre a nova legenda que irá abrigar o grupo político. A expectativa dos mandatários é conseguir dar o pontapé inicial das articulações para o pleito de 2024 em uma sigla pacificada.
“Nós evocamos o senador para essa articulação porque os prefeitos são os mais prejudicados diante dessa incerteza do partido, agora vamos dar total apoio para reconstruir essa aliança com o Governo. Estaremos lá na reunião junto ao senador Cid com a presença em massa dos prefeitos e, em bloco, juntos, vamos sair e ver novos rumos a tomar, o PDT ficou pequeno”
Joãozinho de Titico, prefeito do Cedro, é outro pedetista que estará no encontro com o senador em busca de uma nova legenda.
“Neste momento, deveríamos estar todos trabalhando para o fortalecimento dos municípios, mas temos essa situação. Acho que está todo mundo na expectativa de como será o ano de 2024, quando teremos eleição, é isso que esperamos do senador Cid, essa definição para a gente porque, neste momento, a maior responsabilidade não é com deputados, mas com prefeitos, vice-prefeitos e vereadores”, ressalta.
Para o gestor, a possibilidade de permanência no PDT está cada dia mais “restrita”.
“Eu entrei no PDT pelo Cid, ele tem minha atenção, inclusive teremos dele esse encaminhamento sobre nosso destino. Já estamos na véspera da eleição e não tem sentido estar em um lugar com indefinições e batalhas judiciais. Que segurança os prefeitos têm hoje no PDT? Precisamos de tranquilidade para cuidar das nossas bases"
Prefeita de Brejo Santo, Gislaine Landim também tem um discurso alinhado ao dos seus colegas prefeitos correligionários e diz esperar uma articulação em bloco para deixar a sigla.
“Sabemos que essa divisão enfraquece todo mundo, mas vamos ver o que é melhor para o bloco. Hoje, acredito que não tem como ficarem todos no mesmo partido, eu torcia para que sim, mas acredito que não tem mais como, não há mais diálogo entre as partes”
O Diário do Nordeste também conversou com o prefeito Davi Benevides, de Redenção, que confirmou presença na reunião, mas não comentou sobre o futuro na sigla. O prefeito Cícero de Deus, de Araripe, conversou com a reportagem, mas quis confirmar a presença no encontro e evitou falar sobre a disputa no PDT Ceará. Outros mandatários foram procurados, mas não foram localizados.
Força sob os prefeitos
Para professores e pesquisadores de Ciência Política, de fato, Cid Gomes tem um profundo poder de influência sobre mandatários cearenses e uma debandada do PDT irá reconfigurar as forças partidárias no Estado.
Conforme a professora de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Monalisa Torres, a explicação dessa força junto a prefeitos está na origem da atuação dos irmãos Cid e Ciro Gomes, hoje em lados opostos na política.
“Ciro foi o primeiro dos irmãos que sai de Sobral para construção da trajetória política e o Cid sempre atuou nos bastidores construindo essa relação da base política do Ciro, ele era o gerenciador dessa rede política e foi acumulando saber e habilidade no trato com os políticos que constituem essa base”, explica.
“Tanto que, quando pensamos no grupo político dos Ferreira Gomes, o Cid sempre foi (...) quem montava as alianças, acomodava os interesses divergentes e fazia os acordos. Ao longo dos anos, ele foi acumulando saber nessa função e se tornando cada vez mais indispensável para o grupo. Agora você vê um processo de desgaste do grupo, mas o Cid continua mantendo uma influência muito importante sobre aqueles que constituem a sua base política: deputados estaduais, federais, vereadores e prefeitos”
Para Torres, Cid tem a “arte da chefia”. “Não no sentido pejorativo do termo, mas no sentido de possuir um conjunto de habilidades que o tornam a liderança a partir da qual as outras seguem e buscam a palavra final para a resolução dos conflitos mais importantes dentro do grupo”, aponta.
O cientista político Cleyton Monte, que é professor universitário e pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem) da Universidade Federal do Ceará (UFC), reforça que o senador também não tem no mesmo grupo político um “concorrente” para essa função de articulador da base, o que o aproxima ainda mais os prefeitos e vereadores, por exemplo.
“Ciro nunca foi de fazer esse tipo de movimento, Roberto Cláudio também não, o André Figueiredo faz, mas é muito mais nas bases dele enquanto deputado federal. Quem tem articulação em todo o Ceará é o Cid, então, não por acaso, grande parte desses prefeitos vão seguir o Cid”
Cleyton Monte aponta ainda que as lideranças municipais cearenses tendem, historicamente, a ser situacionistas, migrando para siglas que comandam ou são alinhadas ao governador.
“Não podemos negar o fato de o Cid estar nessa disputa do lado do Governo e os prefeitos vereadores serem, em sua maior parte, situacionistas, mas há sim um jogo político, há uma articulação política por parte do Cid muito mais próxima aos prefeitos”, reforça.
Conforme ressaltou o pesquisador em entrevista na última sexta-feira ao Diário do Nordeste, a desfiliação em massa de prefeitos pode redesenhar a distribuição de milhares de cargos em cidades do Interior.
“Quando a gente fala que cinquenta prefeitos vão pedir desfiliação, aí você coloca na casa dos milhares de assessores, cargos comissionados, vereadores, cabos eleitorais, lideranças comunitárias, enfim, um número muito grande de pessoas ligadas a esses líderes locais e que o acompanham. Daí o tamanho do prejuízo”, conclui.