Oitavo ex-presidente preso na história, Temer foi surpreendido por operação da PF

Ação da PF que prendeu Michel Temer incluiu grampos em celulares e acompanhamento de seus passos por agentes da PF

A prisão do ex-presidente Michel Temer, oitavo ex-presidente brasileiro a ser preso na História do País, elevou a temperatura do meio político. Na manhã desta quinta-feira, Temer se preparava para sair de sua casa, em São Paulo e, então, notou aglomeração incomum de jornalistas em sua porta.

Ele havia marcado um encontro em seu escritório com o publicitário Elsinho Mouco, amigo e aliado há anos. Repetiria a rotina de despachos internos, que havia adotado desde que deixou o Palácio do Planalto, em 1º de janeiro.

Estranhando a movimentação, telefonou não para o advogado, mas para um assessor de sua confiança. O auxiliar já estava ciente dos rumores de um mandado de prisão. Não tinha detalhes. Temer havia sido acionado antes por órgãos de imprensa.

A operação para deter o emedebista foi planejada cuidadosamente. O juiz federal Marcelo Bretas autorizou que celulares vinculados a Temer fossem grampeados a partir da última quarta para que a Polícia Federal conseguisse localizá-lo e efetuar sua prisão. Também preso nesta quinta-feira, o coronel reformado da Polícia Militar João Baptista Lima Filho, amigo de Temer, tentou esconder dois celulares após a chegada da PF a sua casa em São Paulo.

O coronel disse aos agentes que estava passando mal e sentou no sofá da sala de sua residência. Quando ele se levantou, a PF achou os aparelhos embaixo de uma almofada.

Para a prisão de Temer, a Polícia Federal listou não apenas sua residência, mas seu escritório de advocacia, a casa de sua filha e até mesmo a residência da sua ex-chefe de gabinete Nara de Deus, para o caso de ele não ser encontrado.

A movimentação na casa do ex-presidente foi monitorada por agentes federais desde terça-feira, quando o juiz proferiu a decisão de prisão, mantida sob sigilo até ontem. Um dos carros da PF, inclusive, estava de prontidão, discretamente, nas intermediações da casa do político do PMDB.

O Órgão precisou de um dia para organizar a operação de prisão. Uma equipe de abordagem ostensiva, do Grupo de Pronta Intervenção (GPI), da PF, foi acionada para conter eventual risco de tumulto no momento da ação.

Habeas corpus

Após a prisão, a defesa de Temer ingressou com pedido de habeas corpus no Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2). O recurso foi distribuído para o desembargador federal Ivan Athié.

Ao chegarem para a sessão plenária ontem, ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) mostraram cautela ao serem provocados a comentar a prisão do ex-presidente. Os ministros Alexandre de Moraes (ex-ministro de Temer e indicado pelo emedebista à cadeira no STF), Celso de Mello e Marco Aurélio Mello observaram apenas que não haviam lido ainda a decisão que o levou à prisão. Presidente da Corte, ministro Dias Toffoli, chegou à sessão sem falar com a imprensa.

Ao ser perguntado sobre o caso, o ministro Luís Roberto Barroso, que era relator de inquéritos que tinham Temer como alvo no STF, apenas respondeu "está na Justiça de primeiro grau", referindo-se ao fato de as investigações estarem sendo comandadas por Bretas. Depois que Temer perdeu o foro por prerrogativa, as apurações contra o ex-presidente foram enviadas à primeira instância da Justiça.

Bolsonaro

Minutos após desembarcar em Santiago, onde participará de uma cúpula de chefes de Estado, o presidente Jair Bolsonaro assegurou que a detenção do ex-presidente foi consequência "de acordos políticos em nome da governabilidade e a governabilidade não se faz com esse tipo de acordo, a meu entender". Que cada um responda pelos seus atos, a Justiça nasceu para todos", declarou Bolsonaro, no aeroporto.

Questionado se a prisão do ex-presidente pode atrapalhar a tramitação da reforma da Previdência no Congresso, o presidente em exercício, Hamilton Mourão, levantou a possibilidade de o emedebista ser solto "daqui a pouco" por decisão de "um ministro qualquer", sem citar nomes. "Acho que não (atrapalha). Tem ruído, né? Vai ficar com esse ruído, mas vamos aguardar. Daqui a pouco pode ser que ele seja solto. Vamos esperar aí o que pode acontecer", afirmou. Sem dar detalhes, Mourão disse que "volta e meia, daqui a pouco, um ministro qualquer dá um habeas corpus para ele aí".

O Vice-presidente da República disse ainda que a prisão de Temer é "muito ruim para o País" e citou também a detenção do ex-presidente Lula, também preso pela Lava Jato em abril de 2018. "Falei a respeito da mesma situação do presidente Lula. É muito ruim para o País ter um ex-presidente preso, agora seguem as investigações".

PF do Rio

Temer chegou às 18h40 de quinta-feira à Superintendência da Polícia Federal no Rio, onde ficará preso a pedido de sua defesa

Pedido da defesa

O juiz Marcelo Bretas havia determinado inicialmente que Temer fosse levado para a Unidade Prisional da Polícia Militar, em Niterói

Isonomia com lula

Depois, o juiz atendeu a requerimento dos advogados do emedebista. Determinou que, por uma questão de isonomia com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (já condenado na Lava Jato), Temer ficasse preso na PF.