Exonerado em maio da Secretaria Nacional de Segurança Pública, vinculada ao Ministério da Justiça, o ex-secretário da gestão de Sérgio Moro, General Guilherme Theophilo, entende hoje que sua demissão teve motivações políticas. Em entrevista ao Diário do Nordeste, ontem, o novo presidente do Podemos Fortaleza falou sobre a experiência de um ano e quatro meses no Governo Federal e a avaliação que faz da gestão de Jair Bolsonaro.
A percepção de que sua exoneração da Secretaria, logo após a demissão de Sérgio Moro, tratou-se de uma decisão política, segundo Theophilo, partiu de diálogo com amigos que integram o primeiro escalão do Governo, como o próprio vice-presidente, General Mourão, e o chefe da Casa Civil, General Braga Netto. À época, o ex-secretário disse não saber da motivação.
“Um deles foi taxativo: acho que o motivo foi político. (...) O ministro Moro sempre me dizia que aquele meu cargo era muito cobiçado por todas as polícias militares do País e que ele fazia uma força danada para me manter lá, porque era uma pressão política muito grande, principalmente da bancada da bala. Eu acho que esse foi o motivo da minha exoneração”, ressalta.
Novo presidente do Podemos Fortaleza, cuja principal liderança no Estado é o senador Eduardo Girão, Theophilo quer contribuir na política no que diz respeito à segurança pública. A base do trabalho, afirma ele, é a que aprendeu com Moro, especialmente no combate à corrupção, ao crime organizado e também aos crimes violentos.
Diálogo
“Essa minha permanência de um ano e quatro meses (no Governo) também me mostrou muita coisa na área da segurança pública, na área da política a nível federal. Tive muita oportunidade de estar no Congresso Nacional várias vezes, debatendo com a bancada da bala, com a bancada de evangélicos, mostrando o que era a nova segurança pública, o que nós estávamos propondo ao País”, lembra.
Para ele, Moro montou um Ministério que passou a trabalhar de forma integrada e a acompanhar o rastreamento de grandes valores de recursos a partir do antigo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), retirado da alçada do Ministério da Justiça em janeiro. “Foram aos poucos esvaziando o Ministério, até chegar ao ponto de ter uma declaração de que ia ser dividido novamente o Ministério da Justiça e da Segurança Pública”, afirma Theophilo.
Um dos impactos das mudanças no Ministério é no Plano Nacional de Enfrentamento a Crimes Violentos – alvo de polêmicas logo após Theophilo assumir a Secretaria, devido à ausência do município de Maracanaú na lista de cidades que seriam beneficiadas com o plano piloto.
A expectativa para 2020 era de que, na nova etapa do projeto, fossem incluídas duas cidades cearenses: Maracanaú e Caucaia. “Nesse ano, íamos fazer a ampliação para mais cinco (cidades), entre elas, Maracanaú e Caucaia. Não sei como vai ficar. Nossa ideia era que pelo menos Maracanaú entre nessa segunda fase. Vamos ver como vai ficar o projeto porque, como o Ministério da Justiça foi todo modificado, não ficou ninguém da equipe do ministro Moro, até que os novos secretários assumam e vão ver as políticas, e vão mudar muita coisa, (...) até que tudo venha a funcionar, acho que esse é um ano perdido”.
Gestão Bolsonaro
Apesar das críticas à condução do Ministério da Justiça, o ex-braço-direito de Sérgio Moro afirma que torce para que o Governo Bolsonaro dê certo. “Conheço todos que estão lá, torço para que dê certo, porque isso faz parte de toda uma mudança no País. Tenho avaliado que o presidente tem vontade de acertar, mas muitas vezes ele extrapola. Ele precisa aceitar melhor o aconselhamento da equipe do primeiro escalão, ter um pouco mais de ouvidos”, diz.
Do Exército, ele também faz uma boa avaliação da presença de militares no Governo, pois considera que acrescentam experiência “nas áreas de gestão, administração, organização e disciplina”. “Esses generais que estão assumindo (cargos) todos passaram por intervenções federais no Rio de Janeiro, na segurança pública. Esse que assumiu, agora (interinamente), o Ministério da Saúde (Eduardo Pazuello) foi meu assistente na área de recepção dos refugiados da Venezuela”, menciona.
Atuação nos bastidores
Mesmo de volta à rotina partidária, ao trocar o PSDB – partido pelo qual disputou o cargo de governador em 2018 – pelo Podemos, General Theophilo ressalta que não tem interesse pelos holofotes da política e que seu plano é atuar nos bastidores.
Ano eleitoral
Na presidência municipal do Podemos, Theophilo ocupa cargo deixado pelo coronel da reserva Plauto de Lima, que disputará a eleição para vereador. Na Capital, a sigla é aliada do Pros e apoia a pré-candidatura de Capitão Wagner à Prefeitura de Fortaleza.