O anúncio do deputado federal Marcelo Freixo como reforço para os quadros do PSB não deve ser o único. Integrantes da sigla dão como certa a filiação de Flávio Dino (PCdoB), Manuela D’Ávila (PCdoB) e Orlando Silva (PCdoB). A migração faz parte de uma articulação da legenda para acomodar nomes alinhados ao ex-presidente Lula (PT). Contudo, o movimento nacional deve criar um impasse no Ceará, já que o diretório estadual da sigla caminha mais próximo ao PDT, de Ciro Gomes, provável adversário de Lula.
Apesar de não ter anunciado aliança para 2022, o PSB tem feito movimentos em direção ao petista. O abrigo dado a Freixo e aos nomes do PCdoB deixa isso claro. No caso do ex-psolista, Lula deve apoiá-lo como candidato ao Governo do Rio de Janeiro, em troca, o ex-presidente terá palanque diante dos cariocas. A composição deve ter ainda o deputado federal Alessandro Molon (PSB), em busca de vaga no Senado.
PCdoB e a cláusula de barreira
Já no caso dos comunistas, dois fatores aparecem somados para motivar a migração dos filiados. O PCdoB corre risco de ser atingido pela cláusula de barreira, que estabelece regras de desempenho para conceder financiamento público para campanhas e tempo de propaganda eleitoral em emissoras de rádio e televisão.
Além disso, há uma proximidade histórica dos políticos com o ex-presidente. Orlando Silva foi ministro durante o governo do petista. D’Ávila compôs a chapa liderada por Fernando Haddad (PT) em 2018. Já o governador do Maranhão é um dos principais defensores da candidatura de Lula à Presidência da República em 2022.
Conforme o Diário do Nordeste mostrou na última sexta-feira (11), Dino deve deixar o Executivo estadual até abril de 2022 para disputar uma vaga no Senado. Ele, no entanto, já garantiu que estará ao lado de Lula na disputa no próximo ano.
Quebra-cabeça para os cearenses
O cenário que se desenhava nos bastidores do PSB e começa a se tornar realidade com a chegada de Freixo é também o prenúncio de um impasse dentro do partido, ao menos no Ceará, onde não há indicativo de aproximação da legenda com o PT. Na verdade, na Capital, por exemplo, a Prefeitura é comandada pelo pedetista Sarto Nogueira, o vice-prefeito é Élcio Batista, do PSB.
A nível estadual, o PSB compõe a base aliada do governador Camilo Santana (PT), mas ele próprio orbita entre o seu partido, o PT, e a influência do grupo Ferreira Gomes, que está no PDT. E nesse espectro de alianças do chefe do Executivo estadual, o apoio do PSB tem mais proximidade com o grupo pedetista.
Quando Freixo anunciou sua filiação, por exemplo, o deputado federal André Figueiredo (PDT) saudou o colega de parlamento nas redes sociais. “Nesse longo futuro que se estende à nossa frente, travaremos juntos muitas batalhas em prol de mais direitos e liberdades para a classe trabalhadora”, disse.
A aproximação também é confirmada pelo deputado federal Denis Bezerra (PSB), presidente da sigla no Estado, que defende a manutenção dessa relação para 2022.
“Preferencialmente, queremos estar alinhados ao PDT, até porque são conteúdos programáticos parecidos. E até como disse o Cid (Gomes, senador), o PSB é parceiro preferencial também do PDT”
Reaproximação em Pernambuco
A relação é diferente do que ocorre em estados como Pernambuco, onde PSB também começa a se reaproximar do PT. Em 2020, as duas siglas atingiram o ápice do distanciamento durante a disputa pela prefeitura de Recife. No pleito, Marília Arraes (PT) concorreu contra seu primo, João Campos (PSB), que contava com o PDT como aliado na capital.
De olho em 2022, o governador Paulo Câmara (PSB) deu início à reconstrução das relações entre as siglas ao nomear aliados de petistas para cargos no Governo do Estado.
No Ceará, mesmo declarando ter “preferência” pela aliança com o PDT, Denis Bezerra ressalta que ainda é cedo para cravar cenários para 2022. “Vamos aguardar, com o desenrolar dos fatos vamos decidir se teremos candidatura própria ou não, se vamos compor, ainda temos muitas dúvidas”, conclui.
Reação no Psol
Se no PSB, a chegada de Freixo é o prenúncio de debates internos, no Psol a saída do deputado dividiu opiniões.
Ao comunicar a decisão, o parlamentar disse que conversou com dirigentes nacionais e estaduais do Psol. “Encerro esse ciclo com a certeza de que apesar de não estarmos juntos daqui para a frente no mesmo partido seguiremos na mesma trincheira de defesa da vida, da democracia e dos direitos do povo brasileiro”, afirmou.
“É urgente a ampliação do diálogo e a construção de uma aliança com todas as forças políticas dispostas a somar esforços na luta contra o bolsonarismo. É hora de colocarmos as nossas divergências em segundo plano para resgatarmos o nosso país do caos e protegermos a vida dos brasileiros”
O ponto de divergência entre ele e o agora ex-partido gira em torno de alianças que o deputado federal busca estabelecer. Além do ex-presidente Lula, Freixo deve ser apoiado pelo prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), e pelo ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), em 2022.
Entre críticas e elogios
Ao anunciar a saída do Psol, o parlamentar foi criticado por integrantes da sigla. “Os caminhos ficaram mesmo incompatíveis. Se o seu programa é construído pelo ministro de segurança de Temer, da intervenção no RJ, de fato o rumo escolhido está longe do nosso. Na época, Jungmann disse da intervenção: ‘sucesso’”, escreveu o deputado Glauber Rocha (Psol) em suas redes sociais.
No Ceará, o deputado estadual Renato Roseno (Psol) adota tom conciliador e elogia o ex-correligionário. “Seguiremos em partidos diferentes, mas ocupando as mesmas trincheiras de luta, sobretudo a luta contra o projeto bolsonarista de morte, fome e desemprego”, diz o cearense.
“E o PSOL também seguirá com seu projeto político, reafirmando seus valores em torno do socialismo e da liberdade e construindo cotidianamente o diálogo com todos os que fazem as lutas sociais, nas comunidades, nos movimentos de mulheres, de negras e negros, dos LGBTQIA+, junto aos povos tradicionais”, acrescenta.