Logo após a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, de anular todas as condenações do ex-presidente Lula pela Justiça Federal no Paraná, políticos aliados e adversários do petista reagiram no Ceará. Entre os mais próximos do ex-presidente, o clima era de comemoração e surpresa na tarde desta segunda-feira (8). Já entre os adversários, prevaleceram críticas ao magistrado e acusações ao petista.
Correligionário de Lula, o governador cearense Camilo Santana (PT) usou as redes sociais para exaltar a decisão.
“Repara um erro grave e histórico. Ninguém deve estar acima da lei. Ninguém! Nem julgados, nem julgadores. Sempre defenderei as leis e a Justiça. Mas, jamais, a utilização das mesmas para perseguir e prejudicar”, comentou o petista.
Já o opositor e aliado de Jair Bolsonaro Capitão Wagner (Pros), deputado federal, disse que decisão do ministro "desacredita a Justiça brasileira e abre precedência perigosa para a impunidade de políticos corruptos do Brasil".
"Anular todas as condenações de Lula relacionadas à Lava Jato é uma desmoralização para um País que teve bilhões saqueados dos cofres públicos”, afirmou.
Decisão causa surpresa no PT
Um dos principais interlocutores do ex-presidente no Estado, o deputado José Guimarães (PT) disse torcer para que a decisão do ministro “sirva de exemplo”. “Tramaram, articularam e fizeram de tudo ao arrepio das mais elementares regras do Direito para condenar Lula injustamente”, afirmou. O parlamentar ainda criticou diretamente o ex-juiz Sérgio Moro. Para Guimarães, a decisão foi uma "duríssima derrota” para o ex-magistrado.
Ainda nas fileiras petistas, o deputado federal José Airton (PT) comentou sobre a surpresa da decisão. Segundo ele, havia uma expectativa de que a Justiça analisasse – e declarasse – suspeição de Sérgio Moro e só depois avaliasse os processos do ex-presidente. “É um alívio. Lula livre é a nossa liberdade, a nossa esperança de que podemos ter dias melhores. Ele resgata um sentimento profundo de esperança e justiça”, afirmou.
Presidente do PT em Fortaleza, o vereador Guilherme Sampaio disse que considera a decisão como um “sinal de justiça”. “É importante não só para Lula, para o PT e para os simpatizantes, mas para a democracia. O STF começa a estabelecer limites para os desvios”, afirmou.
Mais cauteloso entre os petistas, o deputado estadual Acrísio Sena comemorou a decisão, mas pediu foco ao momento de pandemia.
“Temos que lutar agora, não é ainda eleições, mas (para) que o País tenha um plano de imunização, vacina para todos, renda e frente ampla em defesa da democracia, mas não deixa de ser uma grande vitória da democracia”, disse.
Com críticas ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), Renato Roseno classificou a decisão de Edson Fachin como uma forma de fazer justiça “tardiamente”. “Mas, ao menos, ajuda a revelar os capítulos do golpe que levou Bolsonaro, o pior presidente da história do Brasil, ao poder”, disse.
Movimentações para 2022
De olho em 2022, dois parlamentares cearenses já comentaram os cenários para a próxima disputa presidencial. A preço de hoje, Lula está livre para ser candidato nas próximas eleições. Com a decisão de Fachin, ele restabelece os direitos políticos, tornando-se elegível.
Diante desse cenário, o senador Tasso Jereissati (PSDB), tucano da ala mais tradicional, declarou ser favorável à candidatura do ex-presidente Lula. “Gostaria até que o Lula concorresse. No momento que nós vivemos, precisamos de uma grande lição de democracia na próxima eleição. Defendo que todas as correntes ideológicas participem”, disse o ex-governador em entrevista ao El País.
Aliado direto de Ciro Gomes (PDT), o deputado federal André Figueiredo (PDT) criticou o ex-juiz Sérgio Moro e destacou que os pedetistas sempre foram solidários ao ex-presidente. Contudo, reforçou o distanciamento com o petista no campo eleitoral. “A anulação permitirá que Lula se defenda numa situação mais equilibrada! Mas em 2022, é Ciro Gomes”, ressaltou.
Adversários atacam ex-presidente
Políticos com histórico de críticas ao PT no Ceará discordaram da decisão do ministro Edson Fachin e atacaram o ex-presidente.
O senador Eduardo Girão (Podemos) julgou ser "estranha" a decisão.
"Estranha deliberação especialmente vinda de um ministro que sempre se manifestou contra a corrupção, embora ele estivesse amargando derrotas sucessivas na 2ª turma do STF, cuja maioria dos ministros teimava em desfazer seu trabalho", disse.
Além de Capitão Wagner, os deputados federais Heitor Freire (PSL) e Dr. Jaziel (PL) usaram as redes sociais para demonstrar indignação. “Absurdo! STF, através do ministro Edson Fachin, anula as condenações de Lula na Lava Jato e o ex-presidiário volta a ser elegível. Será que a injustiça vai prevalecer? Precisaremos agir imediatamente”, disse o presidente estadual do PSL.
Jaziel classificou a decisão como “vergonhosa”. Ele comparou a situação do petista com a do deputado federal preso por ameaças ao STF. “Daniel Silveira continua preso e o agora Lula, o maior bandido da história desse país, está, além de solto, elegível”, destacou.
Do parlamento estadual, os dois deputados mais próximos ao presidente Jair Bolsonaro fizeram as críticas mais duras à decisão e ao ex-presidente Lula. “É o Brasil das impunidades, das injustiças, o Brasil que tanta gente batalha para ser um país sério, nós, cristãos conservadores, e vem uma notícia dessas. Temos que ter muita fé em Deus para não perder a esperança”, declarou Delegado Cavalcante (PSL).
Já o deputado André Fernandes também avaliou o cenário para a próxima disputa pela Presidência da República.
“Lula elegível não significa Lula eleito! Vai ser prazeroso ver Bolsonaro destruindo Lula nas eleições de 2022 para enterrar de vez a narrativa de que Bolsonaro só ganhou em 2018 porque o cachaceiro não foi candidato”, disse.
Posicionamento semelhante teve o vereador Carmelo Neto (Republicanos). “O Supremo quer Lula candidato em 2022. Agora o bandido se torna elegível graças a uma decisão monocrática de um ex-eleitor da Dilma declarado”, disse. Ele ainda afirmou que o STF está “rindo da cara do brasileiro”.