No segundo depoimento à CPI da Covid nesta terça-feira (8), o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, ouviu questionamentos de senadores sobre comportamentos do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em meio à pandemia, tratamento precoce, Copa América e outros temas. Os dois cearenses que compõem o colegiado adotaram posturas diferentes sobre as ações do médico à frente da Pasta.
Ele chegou a admitir não haver comprovação de eficácia de tratamento precoce para a Covid-19 e protagonizou uma discussão após ser indagado sobre a bula das vacinas.
O ministro também defendeu a realização da Copa América no Brasil e se absteve, mais uma vez, de comentar amplamente as ações do presidente ao não usar máscaras e promover aglomerações.
Queiroga, no entanto, externou sua insatisfação com questionamentos em alguns momentos. Afirmou que não "é censor" do chefe do Executivo e que as "imagens falam por si".
O ministro ainda reforçou que tem autonomia para tomar decisões à frente do Ministério da Saúde, mas disse que isso não significa "carta branca para fazer tudo o que quer".
Tasso e Girão
Os senadores cearenses Tasso Jereissati (PSDB) e Eduardo Girão (Podemos) adotaram posturas divergentes ao questionarem Queiroga.
Tasso pôs em dúvida a autonomia do ministro. Ele pontuou que a médica infectologista Luana Araújo, que depôs semana passada na CPI, acabou por não ser admitida na Pasta, apesar de apresentar um perfil que considera satisfatório para o cargo.
“Acredito na sua boa vontade, boa fé e competência e tenho enorme dúvida sobre a autonomia concreta que o senhor tem à frente do Ministério. É muito estranho quando o ministro convida uma pesquisadora para ocupar o cargo mais importante do ministério e 15 dias depois o senhor mesmo desconvida; não é normal, não é usual”, disse o senador.
Queiroga afirmou que a decisão de voltar atrás na nomeação de Luana Araújo para a Secretaria Extraordinária de Combate à Covid-19 foi dele e não houve "óbice da Casa Civil" à infectologista.
Eduardo Girão, por sua vez, voltou a sustentar que a CPI está servindo com o um “instrumento político”. O senado disse ainda que o tempo do ministro deveria estar sendo usado no “front” do combate à pandemia, e não sendo convocado pela segunda vez.
“Quanto representa o dia de trabalho do ministro? A CPI precisa de um chá de bússola, ela está patinando”, reclamou o parlamentar.
Mayra Pinheiro
Ainda durante o depoimento, o ministro da Saúde afirmou que não vê problemas na defesa da hidroxicloroquina por parte da secretária de Gestão do Trabalho e da Educação, a médica cearense Mayra Pinheiro.
Ele justificou que a Secretaria comandada por ela não lida diretamente com o enfrentamento da Covid-19.
Antes da sua gestão, no entanto, Mayra Pinheiro foi enviada em uma missão a Manaus (AM) para tratar de políticas de combate à pandemia e difundiu um protocolo para a administração do medicamento, segundo afirmou à CPI.
O relator Renan Calheiros (MDB-AL) questionou a manutenção de Mayra no Ministério.
Sobre o tratamento precoce, o ministro reconheceu que remédios como hidroxicloroquina e ivermectina "não têm eficácia comprovada" no tratamento da Covid-19. Disse, porém, que a discussão em torno dos medicamentos tem provocado grande divisão na classe médica, e que seu papel é "harmonizar esse contexto".
Queiroga argumentou que não nomeou Luana Araújo para cargo na Pasta porque suas posições não contribuíam para "harmonizar" divergências entre médicos sobre o assunto.
Copa América
Questionado também sobre a realização da Copa América no Brasil, o ministro afirmou que o risco de se contrair a doença é o mesmo "com o jogo ou sem o jogo".
A Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) anunciou na semana passada que o Brasil virou a sede da Copa América. As sedes anteriores, Argentina e Colômbia, desistiram. No caso da Argentina, devido à disparada da pandemia naquele país.
Discussão e sessão suspensa
Em certo momento, o presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM), decidiu suspender a sessão após uma discussão entre o senador Otto Alencar (PSD-BA) e o ministro da Saúde.
Otto inicialmente questionou datas de intervalo recomendadas entre a primeira e a segunda dose de vacinas, que seriam diferentes entre a bula dos imunizantes e o intervalo recomendado pelo Ministério.
Em seguida, o senador também perguntou quem editou a norma técnica que recomendou que gestantes que tomaram a primeira dose da AstraZeneca pudessem tomar a segunda dose de qualquer outro laboratório.
O ministro respondeu que a norma era do Programa Nacional de Imunizações (PNI), mas o senador rebateu aos gritos afirmando que quem tinha assinado era Francielli Fantinato.
Fantinato, na verdade, é a diretora do PNI.
Teve então um início de tumulto, no qual o senador gritou para o ministro "falar a verdade" e disse que a "ciência não pode mentir". Otto depois afirmou que não chamou o ministro de mentiroso.