Em seu terceiro pronunciamento em rádio e televisão sobre a crise do novo coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro voltou a minimizar, na noite desta terça, a gravidade da doença. O presidente pediu para prefeitos e governadores "abandonarem o conceito de terra arrasada", que, para ele, inclui o fechamento do comércio "e o confinamento em massa". "O grupo de risco é o das pessoas acima de 60 anos. Então, por que fechar escolas? Raros são os casos fatais de pessoas sãs com menos de 40 anos".
Bolsonaro também atacou a mídia e voltou a criticar governadores. A fala do presidente foi acompanhada por panelaços em algumas cidades, pelo 8º dia seguido. A conduta do chefe do Executivo de buscar a atenuar a pandemia- já chamada por ele de "gripezinha" - impulsionou esses protestos desde o último dia 16.
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A última vez que o presidente chamou o sistema de rádio e TV para falar à população tinha sido no dia 12 de março, quando ele sugeriu que seus apoiadores não comparecessem a atos de rua planejados para o domingo seguinte, 15 de março. A justificativa era que aglomerações poderiam facilitar a transmissão da Covid-19. O presidente, no entanto, descumpriu sua própria orientação e, no dia programado para as manifestações, se reuniu com simpatizantes em frente à rampa do Planalto.
Vigilância sanitária
Antes disso, no dia 6 de março, Bolsonaro havia feito um pronunciamento para dizer que o País tinha reforçado seus sistemas de vigilância sanitários em portos e aeroportos, como preparação para o avanço da Covid-19.
A nova doença causou até o momento 46 mortes no Brasil. Há 2.201 casos confirmados de coronavírus. O presidente minimizou em diversas ocasiões os impactos da Covid-19 e criticou medidas de restrição de movimento adotadas por governadores.
Ele argumentou que ações como o fechamento de comércios e divisas entre os estados causam prejuízos econômicos para o País. "Esse vírus trouxe uma certa histeria. Tem alguns governadores, no meu entender, posso até estar errado, que estão tomando medidas que vão prejudicar e muito a nossa economia", afirmou Bolsonaro no dia 17 de março, à rádio Tupi.
Outra marca da resposta de Bolsonaro à pandemia tem sido a troca de acusações com governadores, principalmente com João Doria (PSDB), de São Paulo, e Wilson Witzel (PSC), do Rio de Janeiro.
Ele já se referiu a Doria como "lunático" e acusou Witzel de tomar medidas que extrapolam suas funções, como se o Rio fosse um país independente. Nos últimos dias, no entanto, o presidente tem adotado gestos de moderação e de busca de diálogo com os chefes de Executivo estaduais. Embora ainda reitere que ações excessivas de restrição de movimentação não devem ser adotadas, ele se reuniu com governadores e lançou um pacote bilionário de ajuda aos entes subnacionais.
Repercussão
Em nota, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, e o vice-presidente, Antonio Anastasia, classificaram como "graves" as falas do presidente.
"Consideramos grave a posição externada pelo presidente da República hoje, em cadeia nacional, de ataque às medidas de contenção ao covid-19. Posição que está na contramão das ações adotadas em outros países e sugeridas pela própria Organização Mundial da Saúde (OMS). A Nação espera do líder do Executivo, mais do que nunca, transparência, seriedade e responsabilidade", diz a nota da Presidência do Senado.