Atuante desde a juventude no PSDB, Bruno Covas veio a Fortaleza em 2008 apoiar campanha política

Correligionária relembra passagem do tucano pelo Ceará e semelhanças dele com o avô, Mário Covas

Vítima de um câncer no sistema digestivo, o prefeito licenciado de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), visitou Fortaleza pela última vez em 2008. Na ocasião, o tucano ajudou na campanha da então candidata a vereadora Kamyla Castro (PSDB), atualmente tesoureira do partido no Ceará. No dia da morte de Covas, Camila relembra a trajetória política e a parceria com o correligionário. 

“Ele passou dois dias acompanhando minha agenda, nas caminhadas nos bairros, entregamos panfletos, segurou bandeira, estava com o megafone na rua e me acompanhou na gravação da propaganda eleitoral para a TV. Era um militante fervoroso que não media esforços”, disse. 

Kamyla e Covas cruzaram as trajetórias políticas na Juventude do PSDB. Em 2007, ele sucedeu a cearense na presidência do grupo. Na troca de gestão, houve um evento em Brasília com a presença de nomes de peso no partido, como Tasso Jereissati (PSDB), à época, presidente da sigla. 

Na cerimônia, Tasso se disse honrado em empossar o neto de Mário Covas no comando da juventude partidária. O tucano acrescentou que o ex-governador de São Paulo foi o homem público mais sério que ele conheceu.

Após anos de proximidade com Bruno Covas, Kamyla ressalta algumas semelhanças dele com o avô.

“Ele carregava mais que o sobrenome, carregava também as mesmas qualidades e compartilhava os ensinamentos desde a infância, até a forma de fazer política, sempre com respeito e coragem.”  
Kamyla Castro
Tesoureira do PSDB no Ceará

Família Covas

Outra trágica semelhança entre o avô e o neto ocorreu na luta clínica contra a doença que levou ambos à morte. Mário também foi vítima de um câncer, na bexiga, no caso dele. 

O avô de Bruno Covas morreu no dia 6 de março de 2001, dois anos após se reeleger governador com uma bagagem política para poucos e menos de três anos após iniciar o tratamento do câncer que avançou pelo sistema digestivo. 

Mário, ao contrário de Bruno, teve mais tempo para consolidar seu legado. Formado em engenharia, combateu a ditadura, foi líder do PMDB (hoje MDB) na Assembléia Constituinte e rompeu com o partido por divergir de medalhões como José Sarney e Ulysses Guimarães (1916-1992), principalmente quando defendia o parlamentarismo e o mandato de quatro anos para o chefe do executivo. 

Na sua conta estão os cargos de deputado federal, senador (1987/1995), governador de São Paulo (1995 até morrer) e prefeito da capital paulista (1983-1985). Fundou o partido ao qual também o neto pertence, o PSDB, ao lado de outros políticos, entre eles FHC, em 1988, e tornou-se figura central na vida política do estado de São Paulo.

Em janeiro de 2001, Covas afastou-se do governo, sendo substituído por Geraldo Alckmin, início de um longo período do PSDB na liderança do estado que se estende até hoje, com João Doria no cargo. Naquele ano, precisou ser submetido a uma nova cirurgia, na qual parte de seu intestino foi retirada. Com esse histórico, tornou-se um dos governadores que mais despachou de quartos hospitalares, com passagens no Hospital das Clínicas e no Instituto do Coração.

Luta pela vida

Na trajetória do prefeito Bruno Covas repete-se parte da história do avô. Ele passou boa parte de 2020, último ano como sucessor de João Doria na administração do município de São Paulo, entre uma crise de saúde pessoal e outra pública: com o diagnóstico de um câncer no aparelho digestivo no ano anterior, se viu à frente dos esforços para conter a pandemia na capital enquanto a gravidade de sua própria doença, para o eleitor, ficava em segundo plano. 

A primeira internação de Bruno Covas havia ocorrido em 23 de outubro de 2019, quando, além de pontos de tumor na cárdia -ponto entre o estômago e o esôfago-, também fora detectada uma metástase no fígado. Ele não recuou e foi a público dizer que a doença e o tratamento quimioterápico não o afastariam do trabalho. 

Sustentou sua candidatura para o mesmo posto, foi eleito e assumiu a prefeitura novamente em janeiro, apoiando-se na imagem de um lutador invicto, nas imagens de resiliência ao lado do filho exibidas por uma propaganda eleitoral feita dentro de casa e no slogan "Força, Foco e Fé".

Homenagem

Kamyla conta que chegou a visitar o correligionário após o início do tratamento contra o câncer. Ela presentou o prefeito com uma imagem de Nossa Senhora das Graças.

“Ele era o capital humano que mais representava nossa geração na política. Retidão de caráter, sorriso largo, mesmo em momentos difíceis, capacidade de articulação, espírito democrático e compromisso com a coisa pública. O Bruno nos trazia a esperança de uma atuação política diferenciada, através da ética, com sua postura combatente, coerente e responsável”, concluiu. 

Políticos cearenses também lamentam a morte de Bruno Covas. Assim como fez quando o empossou como presidente da Juventude PSDB , Tasso homenageou o político fazendo referência a seu avô. 

“Amigo e referência pessoal para mim e para toda uma geração de políticos, Mário tinha em Bruno um herdeiro que, com certeza, o encheria de orgulho. Que Deus o receba em sua infinita paz e conforte a família e amigos.”
Tasso Jereissati (PSDB)
Senador

Em nota, o presidente do partido no Ceará, Luiz Pontes (PSDB), afirmou que a morte do prefeito deixa uma “lacuna”. “Em meu nome e de todos os tucanos do Ceará, deixo meus sinceros sentimentos de pesar aos familiares dessa jovem liderança que vi surgir e brilhar”, disse. 

"A política fica mais triste com a partida de Bruno Covas. Só lembro do seu sorriso largo e alegria de fazer a boa política, que Deus o abrace”, afirmou Danilo Forte (PSDB). 

O deputado estadual Sérgio Aguiar (PDT) também relembrou a trajetória dos dois principais nomes da família Covas na política. 

“A primeira vez que participei de uma eleição foi em 1989, quando votei para presidente da República em Mário Covas (avô de Bruno). Fui filiado, no início da minha vida política, ao PSDB, partido pelo qual fui eleito vereador e prefeito de Camocim. Fui membro da juventude do PSDB e conheci o Bruno na época. Os caminhos se distanciaram, mas a defesa da democracia continuou com a mesma intensidade. Vá com Deus”, publicou o pedetista.