O novembro da consciência negra representa para o povo negro, que têm sua identidade racializada de modo subalterno, um momento de culminância do trabalho sistemático e cotidiano de afirmar sua humanidade. O propósito é tornar pública a reivindicação por reconhecimento, paridade de participação, acesso a direitos e justiça racial.
Numa sociedade em que perdura o racismo, se faz necessário desconstruir imaginários que reproduzem o colonialismo, a linguagem da escravidão ainda predominante nas relações sociais, o que impõe (re)construir formas econômicas, políticas e culturais combinadas aos processos de inclusão com equidade e respeito a diversidade étnica.
O Brasil constitui-se como país pluriétnico, contudo distribui desigualmente benefícios materiais e simbólicos entre os grupos raciais, o que os coloca em constantes riscos, pois edifica cenários de pobreza, desigualdades no acesso a direitos e a políticas públicas.
Portanto, não cabe apenas apontar a desigualdade de renda, é preciso considerar outras desigualdades como a de raça e gênero.
Segundo o Ceert (2022) a taxa de desocupação para os negros é de 64% e brancos 35,4%. As mulheres negras representam maioria (60,9%) no trabalho doméstico historicamente precarizado. Quanto aos rendimentos a renda média para homem branco é de R$3.806,00, mulher branca R$2.869,00, homem negro R$2.230,00 e mulher negra R$1.781,00.
As vítimas de feminicídio são em sua maioria mulheres negras, contabilizando 61,1% em comparação com as mulheres brancas (38,4%). No Ceará, a média salarial de mulheres negras corresponde a R$ 1063,50, enquanto a das mulheres brancas é de R$ 1737,10 (IPECE/2023).
As mulheres negras são mais impactadas pelas desigualdades. Isso coloca o desafio de construir um país mais justos para as negras, para ocuparem lugares de qualidade com poder de decisão, emprego estáveis e bem remunerados.
Durante o mês de novembro, têm-se eventos de reconhecimento e afirmação da negritude. A celebração visa denunciar as vulnerabilidades e violências, ao tempo que expressa a riqueza, o potencial criativo e inventivo presente nos modos de ser, fazer e viver dos negros/as, que se contrapõem ao racismo, tornando possível a criação de novos imaginários na luta antirracista.
As resistências contemporâneas, assim como no passado, seguem sendo plurais: a luta dos quilombolas pela titularização dos seus territórios, os esforços dos afroempreendedores para sustentar seus negócios, o empenho dos que fazem a cultura de matriz africana e afro-brasileiras, o trabalho dos povos de terreiro pelo respeito a sua religião, as mães pretas que buscam justiça pelos seus filhos e famílias, os movimentos negros na busca por garantia e ampliação das políticas de ação afirmativas e tantos outros.
A trajetória do povo negro informa a história e a cultura do Brasil. Sua contribuição na edificação dessa nação deu-se pela via do seu trabalho precarizado e de sua rica cosmovisão.