No início de março saiu a 4ª. Edição da Pesquisa “ Visível e Invisível “: a vitimização de Mulheres no Brasil de 2023, realizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e Instituto Folha de São Paulo com apoio da Uber. Os dados retrataram um crescimento acentuado de violências contra as mulheres em 2022, como xingamentos, insultos e humilhação, perseguição, ameaças, empurrões ou chutes, abuso sexual, espancamento, esfaqueamento e tiros. Elucidou que 7,4 milhões de mulheres foram agredidas fisicamente com socos, tapas ou chutes em 2022, e que aproximadamente tem-se 14 agressões por minuto.
O acirramento das desigualdades e da violência denotam os impactos das estruturas racialmente discriminatórias, pois o perfil das mulheres mais vulneráveis, são as mulheres negras (65,6%) enquanto as brancas 29%, de baixa escolaridade e em idade reprodutiva.
A tendência se repete a de outras pesquisas sobre a vitimização das mulheres, sendo a violência, em particular a violência física, maior entre as mulheres negras (pretas e pardas) de 29,9% enquanto a branca é de 26,3%. Quando se trata de casos de espancamentos as negras são 6,3% e branca 3,6% e ameaça com faca ou arma de fogo, as negras (6,2%) e brancas (3,8%). Quanto a violência que ocorre na residência as negras são 56,6% e as brancas 45%.
A principal motivação dessa maior vulnerabilidade das negras está relacionada a herança e reprodução da escravidão como linguagem, as condições históricas de objetificação do corpo das mulheres e meninas negras disseminada na sociedade brasileira que tem o poder de definir as relações sociais, econômicas e políticas.
É fato que no decorrer da história essa submissão não se deu sem a luta dessas mulheres para mudar essa condição desumana. Resistiram e resistem de diferentes formas, negando o imaginário social de frágeis e subservientes. Suas resistências são criativas e plurais diante das adversidades, ao organizarem suas famílias estendidas, compartilhando o cuidado, escuta e proteção e buscando coletivamente mudanças das normas sociais no que se refere a equidade de gênero e racial
No Brasil as mulheres negras estão submetidas a acumulo de desvantagens justificadas como naturais numa sociedade marcada pela dominação masculina e racismo. Essa condição de desvantagem não se trata de sorte, ou se justifica pelo viés biológico de naturalização das diferenças entre homens e mulheres, ou entre brancos e negros, mas são resultado de construções sócio históricas, portanto possíveis de alterações.
Essas mulheres não conseguirão mudar esse perfil, obter mobilidade social e econômica, transformar essa realidade apenas com seus esforços individuais. Não alcançarão seus propósitos sem oportunidades de acesso a bens e serviços públicos, com reconhecimento étnico. Acima de tudo vontade política de construir futuros com mais igualdade racial e de gênero, que as possibilite a mostrar suas habilidades e potenciais.
*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.