O carnaval se configura como uma grande festa popular no Brasil. Ainda que carregado de contradições, mercantilização, tencionamentos e dilemas, cria significados nos momentos de alegria por meio dos enredos e fantasias. Tornando possível viver melhor o cotidiano marcado por desigualdades e injustiças sociais e raciais.
O evento assume diversos formatos com o intuito de trazer a alegria e diversão tanto para os foliões quanto para os que gostam de acompanhar a festa pelas redes sociais ou nas manifestações em grandes blocos, bloco de rua, trio elétrico, desfile das escolas de samba com cobertura da grande mídia.
Nota-se a forte presença da cultura das comunidades, dos territórios das diferentes regiões do pais, homenagem a importantes personalidades, críticas de caráter político e referências à luta por justiça e inclusão.
Como festa popular, o carnaval mostra o Brasil. Pois guarda relação direta com o contexto de cada época. Está na ordem do dia os elementos referentes a pós-pandemia de covid-19, acirramento do conservadorismo, disseminação do discurso de ódio contra principalmente as mulheres, negro/as, indígenas e LGBT dentre outros problemas.
As imagens e narrativas nos faz desconfiar do desejo de alteração da ordem instituída, pela espontaneidade na junção do humor, diversão e crítica voltados para a valorização e reconhecimento das raízes da nossa identidade nacional e das riquezas regionais por muito tempo apagadas.
Nesse ano de 2023 vimos mais uma vez a história do povo negro ser contada e cantada nos sambas-enredos das escolas de samba.
Tal fato diz o quanto a história de luta do povo negro por liberdade e melhores condições de vida só poderá ser compreendida quando ampliarmos as lentes analíticas para além do foco nas vulnerabilidades, repressão e fugas dos escravizados, visão conservadora que reduz sua existência à fragilidade e docilidade.
Para Beatriz Nascimento é preciso desvendar as dimensões relacionadas a invenção, aos momentos de paz, de criatividade que tem a ver com a construção de modelos de desenvolvimento econômico e social, guiados pelos valores de negros/as, como foram os quilombos.
O carnaval com suas diferentes dimensões transforma-se, momentaneamente, no quilombo em festa, que faz a vida ser digna de ser vivida.
Essa festa popular é um espaço de mostrar a riqueza histórica e cultural da população negra, apresenta as estratégias para garantir momento de paz e alegria na busca por respeito e igualdade racial.
Com liberdade temática dialogam com o público, ao exaltar a história, cultura, ancestralidade, religiosidade com o culto aos orixás e divindades e modo de ser e de viver. Embora por um curto momento é possível ver no carnaval a tendência alinhada ao que deveria ser o país- diverso e plural.
Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.