Um papo com o papa sobre cachaça, oração e vacina

Só o papa Francisco para aliviar nossa tensão pré-vacina (TPV) no perigo dessa hora: "Vocês não têm salvação. É muita cachaça e pouca oração”.

Como sou um cronista insuspeito, mais devoto da Kariri com K (aguardente de Barbalha) do que da missa; mais para um malbec da terra do sumo pontífice do que para a ladainha religiosa, vos pergunto: como aguentar sóbrio ao Brasil desta safra?

Como manter a mínima sanidade, querido xará argentino? Só tomando uma Serra Limpa nas beiradas do açude de Campina Grande, terra do padre João Paulo Souto Victor, o mensageiro que espalhou o vídeo com o chiste de Vossa Santidade nas redes sociais.

Brinco, Francisco, do meu lugar de privilegiado, mas para a massa não está sendo fácil. O churrasco agora só no aroma artificial do salgadinho das crianças, diz uma prima do Crato — só lembrança, como no brega de Bartô Galeno.

A economia da escola bolsoguedista impõe no cardápio popular muita asa, pé de frango e ovo – o “bife do zoião” na língua viva (e se bulindo) chamada nordestinês.

Cá entre nós, o povo reza e ora até demais, santo papa, e não deixa de pingar uns trocados na cestinha de ofertas da missa e um dízimo no culto dos evangélicos, isso é sagrado. Parece que o problema são os intermediários, com a devida vênia e perdão deste que vos fala. E viva os deuses que dançam, sei que compreendes.

Obrigado pela gaitada, homem de Deus, nesta TPV (tensão pré-vacina) da moléstia, um medo miserável da nova bubônica, essa peste que encontrou no bolsonarismo o mito da cordialidade mais extremada. Brinco, Francisco, mas, em bom latim, que merda, sei que me compreendes.

E pra terminar com uma dose de Chave de Ouro, vossa imunidade, orai pelos pobres que nem sabem fazer oração, imploro na súplica cearense possível, misere-rê nobis.

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.