O cara bate, chuta, espanca, humilha a mulher e ainda vem com uma conversinha furada no Instagram: “As pessoas estão comentando o que não sabem”, blábláblá. Como se as câmeras mentissem. Como em um repeteco de um gol, quase com a banalidade de um lance de futebol, para culpar a vítima.
O cara dá porrada, dentro de casa, o carrinho da filha bebê trepida, estremece, pior estrada, péssimo caminho do mundo para a infância, e ele ainda ganha seguidores nas redes sociais, como se fosse um prêmio “o machinho escroto do ano”. Palmas?
Ah, essa oportunista, queria ter um bebê do Ivis, tudo planejado friamente, repete em coro a macharada que não vale um pequi furado. No boteco e nas redes sociais. Machos, machinhos, machões no repeteco de um bis criminoso como na facilidade acovardada de uma música-chiclete.
O cara é mais um entre milhares que bate na mulher, nesse exato instante, repare nas estatísticas, por isso que a violência não deve sair barato. A prisão deve ser pedagógica. Para que o jovem fã não veja graça nessa infâmia, tampouco entenda a denúncia de Pamella como quem faz papel de “louca”.
Essa é a pior covardia de um homem: diante de qualquer discussão definir como loucura a reação das mulheres. É muito fácil, como se nós, machos, fôssemos um poço, um Orós, um oceano Atlântico de racionalidade.
Precisamos pensar, amigos, sobre esse nosso ataque inicial e costumeiro. Creio que nessa frase comece toda a barbárie: quando chamamos uma mulher de louca. Aqui está a origem da imbecilidade completa, aqui começa a desgraça.
Nem todos chegam ao crime dos chutes e pontapés, como no caso do DJ, mas também é violência o que vociferamos e ouvimos sob o mesmo teto, as telhas devolvendo às nossas orelhas a imbecilidade — uma chance para a reflexão antes que o machismo nojento avance.
Você é louca. Aqui está o álibi mais imbecil e completo que repetimos no boteco da esquina e que recebe o aplauso conivente dos parceiros, os parças, digo, os párias, aqueles que apoiam a nossa desgraça como homens. Você é louca. Nossos filhos repetem, como se fosse a obviedade mais sábia.
Eis o argumento chinfrim, talvez o único, que os djs Ivis da vida conseguem defender e levar adiante. Como se ele fosse um Castanhão, em tempo de chuva e cheia, de sujeito sangrando de razão.
Tudo está nas palavras, se liga, doidão, vamos parar de chamar mulher de louca. Pronúncia é gatilho de loucura. Sei que é difícil, é eco paterno, é o que sempre te falaram alto pelos botecos, mas vamos tentar evitar resumir nossa covardia nas discussões a esse mantra escroto de quinta.
Por que sapecar um “você é louca” simplesmente por não aguentar nossa própria maluquice de não saber explicar o que se passa em nossas vidas?
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.