Quando a brutalidade das capitais chega às escolas dos sertões

Matutos mais velhos e com origens nos sertões mais interioranos costumam romantizar até hoje o diferente modo de vida dos seus lugares. É o caso deste cronista que vem lá do túnel do tempo de uma infância no sítio das Cobras, em Santana do Cariri, sob o pé da chapada do Araripe, no lado oeste do sul do Ceará.

Daí o susto ao saber que a onda de violência nas escolas chegou à zona rural do Nordeste. Aquele típico acontecimento rotineiro dos EUA — como nos acostumamos ver no noticiário — chegou às metrópoles brasileiras, desceu para as cidades do interior e agora, pasme!, atingiu a zona rural, o que foi motivo do meu assombro.

O caso específico se deu no grupo Isaac de Alcântara Costa, no Sítio Carás, no município cearense de Farias Brito. Duas alunas foram atacadas por um adolescente de 14 anos. Para não incentivar a repetição de agressões, não entrarei em detalhes sobre o ato de violência do rapaz.

Ingenuidade nossa ao imaginar que as vilas, distritos e os povoados estariam livre da epidemia de brutalidade que tomou conta do Brasil nos últimos anos. Como se tudo não fosse conectado, como se as correntes de maldades das redes sociais fossem impedidas por cancelas, porteiras e mata-burros do interiorzão do país.

Por isso a importância de ações do ministro da Justiça, Flávio Dino, na intenção de responsabilizar o Twitter, Instagram e Facebook, entre outras plataformas da internet, por veicular mensagens que louvam e incentivam as agressões nas escolas. Muitos perfis com esse conteúdo foram cancelados. As denúncias devem ser comunicadas neste endereço: www.mj.gov.br/escolasegura.

A nota irônica e curiosa da história é que o episódio violento na área rural aconteceu no município cujo nome faz uma homenagem a Raimundo de Farias Brito (1862-1917), pregador do espiritualismo e da paz. Um dos principais filósofos brasileiros, o gênio cearense nasceu no interior do interior dos sertões, em um povoado na serra da Ibiapaba, em São Benedito. Mire-se no exemplo pacifista do nosso próprio terreiro.

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.